O setor argentino de trigo cambaleou na semana anterior à notícia de que o Brasil importaria 750 mil toneladas de trigo livre de tarifas. Como resultado, os preços no mercado local sofreram um forte recuo, enquanto em Chicago a expectativa de mais exportações aliada aos temores sobre o efeito da recente enchente nas plantações de 2019 pressionaram os preços.
O setor trigo argentino entrou em alerta esta semana após a notícia de que o Brasil, o principal importador do cereal produzido na Argentina, vai permitir uma taxa anual para a compra de 750 mil toneladas de trigo livre de tarifas para países fora do Mercosul.
Esse montante equivalente a 11% do total das exportações em 2018. O anúncio foi feito depois da reunião na Casa Branca entre o presidente Jair Bolsonaro e Donald Trump, em uma tentativa de avançar o comércio agrícola bilateral.
Em primeiro lugar, o comunicado emitido pelo governo dos Estados Unidos indicava que a cota era destinada ao trigo daquele país, enquanto também eram acordadas condições técnicas para a importação de carne suína norte-americana, para o Brasil e uma visita das autoridades de saúde dos EUA para o Brasil no que poderia ser o primeiro passo para o Brasil vender carne bovina para os EUA novamente, depois que os embarques foram suspensos em 2017 após o caso da carne adulterada em frigoríficos brasileiros.
No entanto, a ministra da Agricultura brasileira, Tereza Cristina, comentou que o gesto dos Estados Unidos para reabrir seu mercado de carne brasileira era insuficiente. Além disso, Tereza esclareceu que a cota de trigo isento de impostos acordada durante a visita a Washington é para todos os exportadores mundiais de trigo e não apenas para os Estados Unidos.
Além disso, considera-se que os Estados Unidos são os principais beneficiários da cota, embora o Brasil tenha reaberto recentemente a importação de trigo russo, do qual adquiriu 26 mil toneladas em outubro do ano passado. O Canadá é outro país fora do Mercosul que freqüentemente abastece o Brasil e pode se beneficiar dessa medida.
Atualmente, a Tarifa Externa Comum do Mercosul para o trigo é de 10%, o que implica que nossas exportações têm essa vantagem relativa. A cota de importação livre de tarifas proposta pelo Brasil implica uma maior competição pelo trigo argentino no mercado brasileiro, onde é fortemente dominante depois de recuperar a participação nos últimos anos.
A Argentina é disparada a principal fonte de suprimento de cereais para as usinas brasileiras, permanecendo em 2018 com 87,1% de participação de mercado nas importações brasileiras. Essa participação também aumentou em relação a 2017, quando foi de 83,7%.
Como a demanda de trigo é distribuída geograficamente no Brasil?
De acordo com membros do setor de moinhos brasileiro consultado pela Reuters, os principais beneficiários dessa cota serão as usinas da região noroeste do Brasil, as que estão mais distantes das zonas de produção brasileira e argentina.
Quase 90% da safra de trigo do Brasil, que atingiu 5,2 milhões de toneladas (Mt) em 2018, está concentrada nos três estados do sul, sendo o Paraná o mais importante com pouco mais de 3 Mt. Esta concentração deve-se às condições climáticas e às características da cultura que necessita de baixas temperaturas para o seu desenvolvimento.
De acordo com a Abitrigo, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo de 2016 (última informação disponível), 74,5% das usinas estavam ativos na Região Sul, composta pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os mesmos que respondem por 90% da produção. Em segundo lugar está a região Sudeste, com 12,76% das instalações, localizadas principalmente em São Paulo.
Embora seja verdade que a proximidade com o Brasil é uma grande vantagem em termos de frete para nossas vendas, dado que a maioria da demanda vem dos moinhos ao sul do país, é certo que os exportadores de grãos em nosso país eles devem ser mais competitivos para reter a participação que agora detêm nas importações brasileiras a partir da implementação da cota de isenção de impostos.
Para realizar uma melhor análise de como a demanda é distribuída, é necessário complementar essas informações com os volumes de moagem de cada região. Segundo dados da ABITRIGO, 10,6 Mt de trigo foram processados em 2017, pouco mais de 49% desse volume foi industrializado nas usinas da região Sul, próximas aos centros de consumo.
Analisando as importações brasileiras por estado, observa-se que as regiões Sul e Sudeste (onde São Paulo tem um peso importante na moagem) cobrem seu déficit de produção com compras nos países do Mercosul. Enquanto os demais países do Mercosul abastecem exclusivamente os estados do norte, especialmente através do porto de Fortaleza, no Ceará.
A tabela a seguir mostra as importações de trigo classificadas por origem, de acordo com a região brasileira que demanda, e pode-se observar que, embora em nível geral a penetração do cereal argentino seja de 87%, no sudoeste do país praticamente 100% do 2 Mt importados em 2018 foram fornecidos pelo nosso país.
Como resultado desta notícia, os preços no mercado local sofreram um grande revés. Embora em pesos a referência do rosário seja mantida em torno de US$ 7.000/t, convertidos em dólares, o cereal perdeu quase US$ 5 por tonelada na semana, fechando a US$ 171.4/t na quinta-feira.
Por outro lado, o contrato mais próximo para trigo de inverno operado no Chicago Market fechou a semana com um aumento de US$ 6,3 por tonelada, impulsionado pela expectativa de maiores exportações.
Por outro lado, o mercado norte-americano está muito atento às perspectivas de semear o trigo de primavera, temendo que as recentes inundações atrasem o trabalho da safra 2019/20.
Esta semana, a forte nevasca e a previsão de que a umidade do solo permanecerá acima do ideal em regiões-chave de trigo, como Dakota do Norte, adicionaram incerteza ao mercado e justificativa para o aumento dos preços. Além disso, especula-se que os fundos de investimento teriam vindo a cobrir sua exposição ao aumento dos preços após acumular uma posição vendida recorde em sessões anteriores.
Fonte: Adaptado de Bolsa de Comércio de Rosario – BCR
Tradução: Equipe Mais Soja