Diferente de cadeias agropecuárias que trabalham com produtos altamente perecíveis, como flores, frutas, hortaliças e lácteos, ainda são pontuais os impactos econômicos da pandemia de Covid-19 sobre o setor de grãos. Em Goiás, que está na reta final da colheita de soja, com mais de 90% dos 3,5 milhões de hectares cultivados já colhidos, houve relatos de falta de caminhões para retirar a produção das lavouras e encarecimento de frete devido à oferta mais restrita de transporte.

O principal efeito da pandemia tem sido observado nos preços dos grãos. Desde que o coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, os mercados financeiros foram abalados e as cotações do dólar explodiram. “O dólar forte está ajudando a puxar os preços em Real para cima e isso acaba gerando mais competitividade para as nossas exportações, especialmente nas vendas para a China”, explica o consultor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), Cristiano Palavro. Segundo ele, “entre 70% e 80% da comercialização da safra 2019/20 já rodou”.

Produtor no sudoeste goiano, o presidente da Aprosoja-GO, Adriano Barzotto, confirma que as empresas continuaram comprando soja, mas não estão carregando os grãos das fazendas e armazéns. “Os principais negócios estão sendo com pagamento para junho e julho, o que gera certa preocupação se houver um cenário de caos total, pois pode haver eventuais problemas de pagamento”, ressalta, aconselhando o produtor a ficar atento.

A safra 2020/21, que começa a ser plantada no final de setembro, também está com negócios acelerados em Goiás. De acordo com o consultor técnico da Aprosoja-GO, os produtores estão recebendo ofertas interessantes e aproveitando o momento para travar preços. “As vendas para 2021 começaram mais cedo este ano. No final de janeiro, fevereiro já tinha produtores começando a travar, o que não é tão comum em nosso Estado. Depois o dólar subiu e as vendas se intensificaram”, explica Palavro.

Mesmo nesse cenário de exportações em alta, a Aprosoja-GO garante que não existe ameaça de desabastecimento interno. “Temos soja suficiente para exportar e para esmagar. Goiás está colhendo mais este ano [cerca de 12,5 milhões de toneladas ante 11,4 milhões na safra 2018/19], e as empresas daqui não aumentaram o parque industrial”, ressalta o presidente da entidade. “Não há motivos para alarmismo ou boataria de que vai faltar soja para processamento local.”

Vendas de milho mais retraídas neste momento

No mercado de milho, o ritmo de negócios da segunda safra caminha mais lentamente, com produtores retraídos por enquanto. Como é normal para esse período, as ofertas futuras estão bem abaixo dos preços do mercado disponível. Isso acaba inibindo novos travamentos, especialmente dos produtores que já comercializaram boa parte de sua safrinha.

Com 35% das lavouras semeadas fora da janela ideal, já no mês de março, é preciso aguardar o comportamento das chuvas até o início de maio para saber se o atraso na semeadura afetará a produtividade do cereal. Em cenário favorável, a Aprosoja-GO calcula uma produção de 9,4 milhões de toneladas de milho safrinha, que começa a ser colhido em ritmo mais intenso no mês de junho.

Custos e crédito agrícola preocupam

Ao mesmo tempo em que o dólar alto favorece a comercialização de grãos, a valorização da moeda americana frente ao Real encarece os preços de insumos importados, como fertilizantes e defensivos agrícolas. Por isso, há preocupação quanto ao aumento nos custos de produção da próxima safra. De acordo com o presidente da Aprosoja-GO, esses produtos ainda estão sendo adquiridos a preços históricos, em dólar, mas quando converte-se para Real, os valores ficam muito elevados.

“O produtor precisa estar capitalizado, comprar insumos e vender seus produtos com segurança porque numa situação difícil como a que está se encaminhando, perder dinheiro é muito fácil. Então o momento requer atenção quadruplicada”, recomenda Barzotto.

Alguns produtores também estão apreensivos com possíveis impactos da pandemia sobre a disponibilidade de recursos para crédito agrícola dentro das linhas tradicionais do Plano Safra. A Aprosoja ainda não recebeu indicativo em relação a isso, mas aconselha os produtores a agilizarem os processos de captação de recursos para a próxima safra, que começa em julho.

Fonte: Aprosoja Goias, Reportagem: Laura de Paula/Aprosoja-GO

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