Em um ecossistema equilibrado, organismos e microrganismos atuam de forma integrada pela sobrevivência das espécies, desempenhando muitas vezes relações associativas e simbióticas. Embora não sejam consideradas tecnologias “novas”, nem sempre a adoção de bioinsumos na agricultura foi tão abrangente como tem sido atualmente. Diversos estudo tem comprovado os benefícios do emprego de ferramentas biológicas no manejo fitossanitário de culturas agrícolas como soja e milho, além da contribuição dessas ferramentas para o aumento da sustentabilidade e rentabilidade das propriedades agrícolas.
Uma das relações mais antigas e comuns observadas a nível de campo é a simbiose entre plantas e fungos micorrízicos, dando origem às micorrizas. As micorrizas são associações simbióticas entre fungos da classe Zigomicetes e raízes vasculares de plantas, ocorrendo nos mais diversos ecossistemas terrestres. Vários tipos de micorrizas podem se formar dependo do tido de fungo, condições ambientais e planta, entretanto, os tipos mais comuns são as micorrizas arbusculares e as ectomicorrizas (figura 1).
Figura1. Tipos mais comuns de micorrizas: ectomicorrizas (ECM) (a), micorrizas arbusculares (AM) (b), micorrizas ericóides (c), micorrizas orquidáceas (d), micorrizas arbutóides (e), micorrizas monotrepóides (f) e arbúsculo (ar), “arbutóides” (arb), célula cortical (cc), esporo (e), enrolamentos (er), “haustórios” (ha), manto (m), micélio extrarradicular (me), novelos (nov) e rede de Hartig (rH).
A Ordem Glomales (Zigomicetos) é a mais comum a possuir fungos micorrízicos. A formação das micorrizas ocorre por meio de uma sequência de eventos regulados pelo genoma do fungo e da planta e modulados por fatores ambientais (Silva Junior & Siqueira, 1998).
No caso das micorrizas arbusculares, os fungos formam associações com penetração inter e intracelular das hifas e produzem estruturas fungicas (arbúsculos e vesículas) na região do córtex das raízes, podendo atuar estimulando o crescimento das plantas e aumento da absorção de nutrientes do solo, tais como Fósforo, Zinco e Cobre (Antoniolli & Kaminski, 1991).
Estima-se que a hifa externa do fungo micorrízico arbuscular pode fornecer 80% do Fósforo, 25% do Nitrogênio, 10% do Potássio, 25% do Zinco e 60% do Cobre (Hoffmann & Lucena, 2006), entretanto, os benefícios das micorrizas em culturas agrícolas vão além da melhoria da absorção de nutrientes pelas raízes da planta.
Alguns estudos científicos, tem encontrada relação entre o desenvolvimento das micorrizas em soja e sua maior tolerância a períodos de estresse hídrico, principalmente relacionado ao déficit hídrico, demonstrando que essa simbiose entre fungo e planta pode contribuir para mitigar os efeitos de pequenos períodos de estiagem em soja. Sobretudo, resultados diretos de produtividade também têm sido observados, tanto no sistema plantio direto quando no sistema convencional de cultivo.
Analisando a influência das micorrizas sobre a produtividade da soja cultivada em diferentes sistemas de cultivo (plantio direto e convencional), Miranda & Miranda (2007) observaram que o aumento na densidade da comunidade dos fungos micorrízicos arbusculares por meio da inoculação, em campo, da espécie Glomus etunicatum proporcionou aumento na produtividade da soja, no primeiro ano de cultivo, nos dois sistemas de plantio, em especial no sistema plantio direto (tabela 1).
Tabela 1. Produção de grãos de soja e milho, em rotação, no período chuvoso, em um Latossolo Vermelho adubado com 300 kg P2O5 ha-1 na forma de superfosfato triplo e inoculado com Glomus etunicatum, sob plantio convencional (PC) e direto (PD).
Conforme resultados observados pelos autores, o acréscimo na produtividade foi, aproximadamente, de 244 kg ha-1 para a soja (2001) e de 590 kg ha-1 para o milho (2002), cultivados sob plantio direto, demonstrando a importante contribuição das micorrizas para o incremento produtivo dessas culturas.
Resultados similares foram obtidos por Oliveira et al. (2019), que observaram que a inoculação da soja com fungos micorrízicos arbusculares proporcionou maior produtividade em comparação a soja não inoculada para as condições de sequeiro (não irrigado), proporcionando inclusive que as plantas de soja cultivadas em campo sob condição não irrigada tivessem maior produtividade do que as plantas inoculadas em sistema irrigado.
Cabe destacar que por se tratar de organismos e microrganismos vivos, a interação entre planta e fungos micorrízicos está sujeita a interferência de fatores ambientais, tais como temperatura e umidade, podendo sua eficiência, estar condicionada a tais fatores. Entretanto, como visto anteriormente, as micorrizas podem ser consideradas importantes ferramentas de manejo, maximizando a absorção de água e nutrientes pelas plantas, além de possibilitar o aumento da produtividade e estimular a microbiologia do solo.
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Referências:
ANTONIOLLI, Z. KAMINSKI, J. MYCORRHIZAS. Ciência Rural, 1991. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cr/a/ZXZ9DjFb9F8hVzwZQfqj8MQ/?lang=pt#:~:text=As%20micorrizas%20s%C3%A3o%20associa%C3%A7%C3%B5es%20entre,tipos%20ecto%2C%20ectoendo%20e%20endomicorrizas. >, acesso em: 19/04/2023.
HOFFMANN, L. V.; LUCENA, V. S. PARA ENTENDER MICORRIZAS ARBUSCULARES. Embrapa, Documentos, n. 156, 2006. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/276480/1/DOC156.pdf >, acesso em: 19/04/2023.
MIRANDA, J. C. C.; MIRANDA, L. N. CONTRIBUIÇÃO DA MICORRIZA ARBUSCULAR PARA A PRODUTIVIDADE E SUSTENTABILIDADE NOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO COM PLANTIO DIRETO E CONVENSIONAL NO CERADO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 134, 2007. Disponível em: < http://www.diadecampo.com.br/arquivos/materias/%7BDF6250FB-11D6-4B4B-9ABE-DC52F5E312E4%7D_comtec_134_Contribui__o_da_Micorriza_Arbuscular.pdf >, acesso em: 19/04/2023.
OLIVEIRA, T. C. et al. PRODUTIVIDADE DA SOJA EM ASSOCIAÇÃO AO FUNGO MICORRÍZICO ARBUSCULAR Rhizophagus clarus CULTIVADA EM CONDIÇÕES DE CAMPO. Rev. Ciênc. Agrovet, 2019. Disponível em: < https://revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria/article/view/14957/pdf >, acesso em: 19/04/2023.
SILVEIRA JUNIOR, J. P.; SIQUEIRA, J. O. COLONIZAÇÃO MICORRÍZICA E CRESCIMENTO DA SOJA COM DIFERENTES FUNGOS E APLICAÇÃO DO ISOFLAVONÓIDE FORMONONETINA, 1998. Disponível em: < https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/4922 >, acesso em: 19/04/2023.
UNIVERSITY OF COIMBRA. TIPOS DE MICORRIZAS, 2009. Disponível em: < https://www.uc.pt/grasses/Divers_fungica/tipos_de_micorrizas >, acesso em: 19/04/2023.