Com o uso de plantas Bt, importantes insetos que atacam a cultura do milho são controlados. O advento desta tecnologia permitiu que você não se preocupasse mais com a lagarta-do-cartucho, por exemplo.
No entanto, estas plantas modificadas apresentam proteção contra apenas um dos problemas, neste caso as lagartas. Percevejos e cigarrinhas, que são espécies importantes para o milho, não são controlados pela tecnologia Bt.
Esta condição permite que logo no período de estabelecimento das plantas, se houver um ataque de pragas em alta infestação, você pode ter que refazer o plantio.
No artigo de hoje você vai conhecer um pouco mais sobre os percevejos e cigarrinha-do-milho que atacam esta cultura e, principalmente, como controlá-los e evitar prejuízos.
O que estas duas pragas têm em comum?
Tanto os percevejos barriga-verde e o percevejo-marrom, como a cigarrinha (Dalbulus maidis) preferem plantas de milho que estejam nos estágios iniciais da cultura. Ambas atacam as plantas, preferencialmente, até o estágio V5 de desenvolvimento.
Apesar disso, cada espécie possui uma característica particular, como por exemplo, os percevejos podem danificar plântulas que recém emergiram, enquanto a cigarrinha prefere plantas um pouco maiores, a partir do estágio V1.
Fenologia do milho e momento de ataque de percevejos e cigarrinha-do-milho. Fonte: Adaptado de FarmBox
Danos
Cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis)
A cigarrinha é um inseto-vetor de doenças que transmite os patógenos do complexo do enfezamento para o milho. São três doenças causadas por duas bactérias e um vírus, e podem ser transmitidas de forma isolada ou simultânea.
Para adquirir os patógenos, a cigarrinha precisa se alimentar em uma planta doente. Esta planta é chamada de fonte de inóculo.
Depois de adquiri-los, os patógenos ficam alojados nas glândulas salivares do inseto-vetor. E no momento em que a cigarrinha se alimenta da seiva de uma planta sadia, eles são transmitidos.
Isto acontece pois durante a alimentação, para que a sucção de seiva seja facilitada, a cigarrinha realiza uma salivação, que acaba por inocular na planta os patógenos que ela carrega.
Enfezamento-vermelho transmitido pela cigarrinha-do-milho. (Fonte: Adaptado de Roundup Ready Plus)
Percevejos barriga-verde (Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus)
Os ataques de percevejos podem acontecer até em estágios reprodutivos do milho, mas as maiores perdas de produtividade são decorrentes dos danos que ocorrem nas fases iniciais da cultura.
Os percevejos barriga-verde, são os que causam maior preocupação para os produtores devido ao potencial de prejuízos que estes indivíduos podem acarretar.
As duas espécies, Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus são muito parecidas, o que pode fazer com que você tenha dificuldade em identificar cada uma no campo. Mas para que você consiga monitorar e dizer qual o nível populacional de cada percevejo, vou citas algumas informações que vão facilitar este trabalho.
As duas espécies possuem a região dorsal de cor marrom, e a região ventral em cor verde, daí provém o nome: percevejo-barriga-verde. O tamanho de cada espécie é outra característica que torna a diferença entre eles fácil de visualizar. O percevejo D. furcatus é maior, com 10 mm de comprimento, enquanto D. melacanthus tem 7 mm de comprimento.
Além disso, os dois percevejos podem ser identificados pela cor dos “espinhos” laterais, que na verdade são uma prolongação do pronoto. D. furcatus apresenta a mesma cor nos espinhos e na região dorsal, já D. melacanthus, tem os espinhos mais escuros que as demais partes do dorso.
- furcatus e D. melacanthus. (Fonte: Josemar Foresti em Pioneer Sementes)
Os danos ocasionados por estes dois percevejos acontecem a partir da sua alimentação, pois sugam a seiva da planta. Neste ato, como forma de facilitar esta sucção de seiva, liberam saliva, a qual contém toxinas que são injetadas na planta.
A sucção da seiva é realizada na base do colmo, onde os percevejos barriga-verde inserem o estilete (uma parte de seu aparelho bucal), e assim atingem as folhas internas do milho. É por esta ação que após a abertura das folhas, as plantas atacadas apresentam furos com uma distribuição simétrica.
Percevejo-barriga-verde em planta de milho e danos. Fonte: (Adama Brasil e Grupo Cultivar)
Por conta deste ataque, a planta apresenta deformações e retardo de desenvolvimento. A fotossíntese é prejudicada nas folhas perfuradas, além de estas ficarem murchas e as folhas centrais retorcidas. Também pode haver um perfilhamento intenso e improdutivo e dependendo do nível de infestação, sintomas de coração morto são percebidos.
Estes danos comprometem o desenvolvimento adequado da cultura e leva a redução da produtividade. Além do fato de que por conta do ataque, se houver uma redução significativa do número de plantas, o replantio pode ser necessário.
Percevejo-marrom (Euschistos heros)
Conhecido pelos danos significativos que esta espécie ocasiona na cultura da soja, o percevejo-marrom também pode ser um problema em milho. Quando é realizada a sucessão entre estas culturas, este inseto pode continuar na área e em pouco tempo, provocar prejuízos para o produtor.
Euschistos heros com plantio em sucessão. (Fonte: Sementes Biomatrix)
O grande potencial de reprodução que o percevejo-marrom apresenta, o que quer dizer que eles podem se desenvolver rapidamente, é uma característica positiva para que o inseto estabeleça altas infestações no cultivo se o controle não for realizado.
Esta é uma espécie que apresenta hábito gregário, ou seja, vários indivíduos se alimentam de uma mesma planta.
Por isso, você deve monitorar a sua lavoura e empregar as ferramentas de manejo assim que verificar a necessidade, especialmente, se o histórico da área com percevejos não for favorável para a cultura do milho.
As características que identificam o percevejo-marrom são o tamanho, ele é menor que os percevejos barriga-verde, e esta espécie tem toda a coloração do corpo marrom. Outra característica que o diferencia é a mancha branca em forma de meia lua que Euschistos heros tem no dorso.
Percevejo-marrom. (Fonte: Promip)
Outros percevejos da cultura
Há outros insetos que podem estar presentes na cultura do milho. Apesar disso, muitas destas outras espécies não são de importância primária, como são os percevejos barriga-verde e percevejo-marrom.
No entanto, mesmo os insetos sem importância agrícola devem ser monitorados, pois ocasionalmente, havendo algum desequilíbrio, eles podem vir a se tornar uma praga importante.
O percevejo-gaúcho (Leptoglossus zonatus) é uma destas espécies de importância secundária para o milho. São insetos que se alimentam dos grãos, o que provoca a murcha e o apodrecimento na própria espiga. Em cultivos com a finalidade de produção de sementes, o monitoramento deste indivíduo deve ser constante.
O percevejo-verde (Nezara viridula) e o percevejo-castanho (Scaptocoris castanea) são outras espécies que podem estar presentes nas fases iniciais da cultura. O primeiro se alimenta da seiva das plantas, e o segundo se alimenta nas raízes.
Fatores que favorecem estes insetos
É comum que visando a conservação do solo, os agricultores adotem o plantio direto na cultura. Em contrapartida, para os percevejos, esta condição é ideal para a sobrevivência e permanência deles no campo.
A palhada deixada no solo, serve como abrigo para estes insetos, que no período de entressafra, se alimentam das plantas daninhas e se mantém presentes na área, prontos para o próximo cultivo que será estabelecido.
Caso você faça uso deste sistema de produção, não deixe de monitorá-los e utilizar tratamentos preventivos para manter estes insetos em baixas populações.
Ninfa e adulto de percevejo-barriga-verde em palhada de soja. (Fonte: Grupo cultivar)
A sucessão soja-milho e o milho safrinha, que são realizados nas regiões produtoras destas culturas, também favorecem o estabelecimento destes insetos-praga, que são polífagos e se alimentam de várias espécies de plantas.
As plantas daninhas que possam servir de hospedeiro alternativo, e no caso das cigarrinhas, serem fonte de inóculo de patógenos, devem ser removidas da área.
Como controlar estes insetos-praga?
Com base no monitoramento e quantificação de insetos, você terá conhecimento do momento adequado para entrar com uma medida de controle. É interessante que você monitore a área antes mesmo de ter semeado o milho, pois assim poderá manter a população sob controle.
No estágio inicial da cultura, o monitoramento deve ser feito semanalmente ou mais de uma vez na semana, se você achar necessário. Neste período crítico da cultura, o nível de controle recomendado é quando 1 percevejo for encontrado a cada 10 plantas amostradas.
Já para a cigarrinha-do-milho, é difícil definir o nível de controle, pois mesmo populações pequenas deste inseto-vetor podem ocasionar danos expressivos. Por isso, há indicação de que você realize o controle assim que encontrar este inseto na sua lavoura.
Você pode optar por semear híbridos resistentes e aliado a isso, um bom tratamento de sementes pode proteger as plantas de milho das pragas iniciais. Os inseticidas registrados para tratamento de sementes são sistêmicos e protegem todas as partes da planta.
Outra tática eficiente é o controle químico, que deve ser realizado quando o monitoramento indicar a necessidade. Para isso, você deve seguir as recomendações de um profissional, que lhe indicará os produtos adequados para controle do inseto.
Há opções de produtos para controle biológico que também podem ser utilizados. Nesta linha, o mercado oferece inseticidas biológicos que controlam os insetos por meio da ação de fungos entomopatogênicos.
Para o controle de percevejos, podem ser utilizados agentes de controle biológico, como as vespas Trissolcus basalis e Telenomus podisi. São insetos benéficos que parasitam os ovos dos percevejos no campo e impedem a eclosão destas pragas.
Além das opções citadas anteriormente, a rotação de culturas com plantas que não sejam hospedeiras de pragas é importante, pois assim você impede que os insetos continuem a se desenvolver pelo fato de sempre terem um hospedeiro alternativo disponível.
Conclusão
Você deve ficar atento a presença de insetos prejudiciais ao milho logo nas fases iniciais da cultura.
Se você realizar a identificação adequada de cada praga, o manejo escolhido pode ser ainda mais eficiente. E se todas as táticas de manejo disponíveis forem utilizadas em conjunto, a proteção é maior.