Estima-se que mais de 100 espécies de insetos podem ser encontradas em lavouras de trigo. Entretanto, poucas delas podem ser consideradas pragas, como os pulgões, lagartas-desfolhadoras e corós, além do percevejo barriga-verde. O ataque desses insetos pode causar perdas importantes na produção, gerando dúvidas entre os triticultores quando ao seu correto manejo. Confira a seguir as respostas para algumas das dúvidas mais comuns.
O ataque de insetos pode ocorrer em todas as fases da cultura do trigo?
Sim, mas cada espécie possui um período preferencial de ocorrência. Para os corós, o período crítico estende-se da fase de plântula até o início do perfilhamento. Já os pulgões causam maiores danos no início do perfillhamento, pela transmissão de viroses; e no espigamento, pelo ataque direto às espigas em desenvolvimento, reduzindo a quantidade e qualidade dos grãos produzidos. O espigamento também é a fase mais crítica para o ataque de lagartas, embora possam ocorrer durante as demais fases da cultura. Por fim, os percevejos barriga-verde causam danos mais expressivos nas fases de emborrachamento e enchimento de grãos. Em todos os casos, a intensidade dos danos é determinada pelo tamanho da população de insetos.
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Pode ser realizado o controle preventivo das pragas do trigo?
A aplicação de inseticidas só é recomendada quando se atinge o nível de dano econômico, ou seja, a densidade populacional da praga em que o prejuízo gerado pelo ataque compensa o custo financeiro do controle. Esses níveis de ação são definidos para cada espécie e têm por objetivo evitar gastos desnecessários ao produtor, além de prevenir efeitos indesejáveis, como o surgimento de populações resistentes. Para as pragas do trigo, os níveis de ação estão descritos na tabela abaixo. Pode-se dizer que o tratamento de sementes é o único método de controle preventivo recomendado, pois evita a presença dos insetos-alvo antes que o ataque ocorra.
Figura 1. Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de pragas do trigo.
Fonte: PEREIRA, P. R. V. S.; SALVADORI, J. R. (2011).
Como escolher o melhor inseticida para controlar as pragas do trigo?
A escolha começa pelo monitoramento da lavoura e correta identificação da praga que está atacando a cultura, seguida pela quantificação do número de insetos presentes na área cultivada. Caso esse número atinja o nível de ação e a aplicação de inseticida seja necessária, deve-se atentar para o tipo de dano que o inseto causa, o qual irá determinar o melhor mecanismo de ação a ser utilizado. Lagartas, por exemplo, possuem aparelho bucal mastigador e são controladas mais facilmente por produtos que ficam depositados na superfície da folha, atuando por contato ou ingestão. Já para insetos sugadores, como pulgões e percevejos, recomendam-se produtos com ação sistêmica, ou seja, que são absorvidos pela planta e translocam-se no seu interior. Utilize somente produtos registrados para a cultura do trigo e, sempre que possível, dê preferência a inseticidas com maior seletividade. Informações sobre os inseticidas registrados no MAPA podem ser obtidas no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT).
O que é seletividade de um inseticida e por que isso é importante?
Um inseticida é considerado seletivo quando controla apenas determinado grupo de insetos-praga, ou seja, quando não possui amplo espectro de ação. Ingredientes ativos pertencentes aos grupos químicos das diamidas e benzoilureias, por exemplo, controlam principalmente lagartas e são consideradas moléculas seletivas, enquanto carbamatos e organofosforados são inseticidas de amplo espectro. A seletividade é uma característica importante no manejo integrado de pragas porque permite controlar apenas a espécie-alvo, preservando insetos benéficos como polinizadores, predadores e parasitoides.
Figura 2. As diamidas atuam no sistema nervoso dos insetos e são consideradas moléculas seletivas, recomendadas para o controle de lagartas desfolhadoras em várias culturas.
Crédito da imagem: Henrique Pozebon.
Não perca as respostas para mais perguntas na semana que vem. Para maiores informações sobre o manejo de lagartas desfolhadoras em trigo, acesse: https://maissoja.com.br/lagartas-desfolhadoras-do-trigo-ocorrencia-danos-e-manejo/
Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.
Referências:
BORTOLOTTO, O. C.; PERINI, C. R.; STÜRMER, G. R.; PAZINI, J. B.; HOSHINO, A. T. Pragas de cereais de inverno. In: ROMERO, J. C. P. (Ed.) Manual de Entomologia Volume 1: Pragas das Culturas. 1ª Edição, 477 p. Editora Agronômica Ceres, Ouro Fino – MG, 2022.
PEREIRA, P. R. V. S.; SALVADORI, J. R. Pragas da lavoura de trigo. In: PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; CUNHA, G. R. da (Eds.) Trigo no Brasil: Bases para a produção competitiva e sustentável. Embrapa Trigo, Passo Fundo-RS, 2011, 488 p. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/203634/1/CNPT-ID42398.pdf>
PEREIRA, P. R. V. da S. P.; MARSARO JUNIOR, A. L.; LAU, D.; PANIZZI, A. R.; SALVADORI, J. R. Manejo Integrado de Pragas do Trigo. In: DE MORI, C.; ANTUNES, J. M.; FAÉ, G. S.; ACOSTA, A. da S. (Eds.) Trigo: 500 Perguntas, 500 Respostas. Embrapa, Brasília-DF, 2016, 314 p. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/144769/1/ID43609-2016LVTrigo.pdf>