Estima-se que mais de 100 espécies de insetos podem ser encontradas em lavouras de trigo. Entretanto, poucas delas são consideradas pragas, como os pulgões, lagartas-desfolhadoras e corós, além do percevejo barriga-verde. O ataque desses insetos pode causar perdas importantes na produção, gerando dúvidas entre os triticultores quando ao seu correto manejo. Confira a seguir as respostas para algumas das dúvidas mais comuns.

O tratamento de sementes é eficiente contra todas as pragas do trigo?

É eficiente somente para as pragas que ocorrem nos estágios inicias de desenvolvimento da cultura, ou seja, da emergência até o início do perfilhamento. Nesse período, têm-se como pragas importantes os corós, pulgões e, eventualmente, percevejos. A ação de inseticidas aplicados via tratamento de sementes é fortemente influenciada por condições climáticas, especialmente quantidade de chuva e umidade do solo. A duração média da eficiência é de 15 a 18 dias, podendo reduzir consideravelmente em condições de seca ou chuva excessiva.

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O aumento nas doses de neonicotinoides no tratamento de sementes aumenta o controle sobre percevejo barriga-verde?

 Mito. Nos diferentes produtos formulados à base de neonicotinoides para tratamento de sementes, seja de forma isolada ou em mistura com outros grupos químicos, a dose recomendada pelo fabricante é comprovada cientificamente como a mais eficiente para o controle de percevejos. Portanto, não é recomendado aumentar a dose para além daquela prescrita na bula do produto, sob o risco de causar efeitos negativos em organismos não-alvo ou até mesmo fitotoxidade e morte de plântulas.

Períodos de estiagem aumentam a ocorrência de pulgões no trigo?

 Verdade. As populações de afídeos são reguladas pelas condições do ambiente, além dos seus inimigos naturais (parasitoides, predadores e fungos entomopatogênicos). O aumento da população de pulgões em trigo está associado a temperaturas amenas (18 a 22 ºC) e condições de estiagem, já que a precipitação direta tem efeito físico adverso sobre esses insetos. Além disso, temperaturas mais altas aceleram o ciclo biológico dos pulgões, elevando o número de gerações por safra. Como as fêmeas são capazes de se reproduzir via partenogênese (ou seja, sem necessidade de cruzamento com machos), a população infestante cresce de maneira exponencial. Por outro lado, períodos de maior pluviosidade e baixas temperaturas desaceleram o ciclo dos pulgões e ocasionam redução nas populações infestantes.

Figura 1. Formas ápteras dos principais afídeos que atacam o trigo: a) pulgão-verde-dos-cereais, Schizaphis graminum; b) pulgão-do-colmo-do-trigo, Rhopalosiphum padi; c) pulgão-da-folha-do-trigo, Metopolophium dirhodum; d) pulgão-da-espiga-do-trigo, Sitobion avenae; e) pulgão-preto-dos-cereais, Sipha maydis; f) pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis.

Fonte: PEREIRA, P. R. V. S.; SALVADORI, J. R. (2011).

Pragas de grãos armazenados podem ser controladas com terra de diatomáceas?

Verdade. A terra de diatomáceas é composta por um mineral finamente moído, originário de carapaças fossilizadas de algas diatomáceas e constituído principalmente por sílica (SiO2). Seu modo de ação como inseticida está relacionado à retirada de cera da camada superficial do exoesqueleto dos insetos, fazendo com que morram por desidratação. Outra medida efetiva de controle é o uso de inseticidas fumigantes, que não deixam resíduos tóxicos e atuam tanto de forma preventiva quanto curativa. Por serem gases, possuem grande capacidade de expansão, mas necessitam que o local do expurgo esteja rigorosamente vedado.

No controle biológico de pragas, qual a diferença entre predadores e parasitoides?

Os insetos predadores são organismos de vida livre, geralmente maiores que a presa e que precisam se alimentar de mais de um indivíduo para completar seu ciclo de desenvolvimento. São considerados agentes de controle generalistas, ou seja, capazes de se alimentar de diferentes insetos-praga. Já os parasitoides normalmente têm o mesmo tamanho da presa e se alimentam do conteúdo de um único hospedeiro, durante a fase larval, para completar seu ciclo de desenvolvimento. Na cultura do trigo, os parasitoides mais comuns são as vespinhas que controlam pulgões, pertencentes aos gêneros Aphelinus, Praon, Diaeretiellae e Lysiphlebus. Tanto os insetos predadores quanto os parasitoides são importantes ferramentas dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP), e podem ser preservados com o uso de inseticidas seletivos.

Figura 2. Exemplo de parasitismo em mosca-das-frutas (Drosophila melanogaster).

Fonte: Adaptado de YANG et al. (2021).

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.

Referências:

BORTOLOTTO, O. C.; PERINI, C. R.; STÜRMER, G. R.; PAZINI, J. B.; HOSHINO, A. T. Pragas de cereais de inverno. In: ROMERO, J. C. P. (Ed.) Manual de Entomologia Volume 1: Pragas das Culturas. 1ª Edição, 477 p. Editora Agronômica Ceres, Ouro Fino – MG, 2022.

 

PEREIRA, P. R. V. S.; SALVADORI, J. R. Pragas da lavoura de trigo. In: PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; CUNHA, G. R. da (Eds.) Trigo no Brasil: Bases para a produção competitiva e sustentável. Embrapa Trigo, Passo Fundo-RS, 2011, 488 p. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/203634/1/CNPT-ID42398.pdf>

PEREIRA, P. R. V. da S. P.; MARSARO JUNIOR, A. L.; LAU, D.; PANIZZI, A. R.; SALVADORI, J. R. Manejo Integrado de Pragas do Trigo. In: DE MORI, C.; ANTUNES, J. M.; FAÉ, G. S.; ACOSTA, A. da S. (Eds.) Trigo: 500 Perguntas, 500 Respostas. Embrapa, Brasília-DF, 2016, 314 p. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/144769/1/ID43609-2016LVTrigo.pdf

YANG, L.; QIU, L.-M.; FANG, Q.; STANLEY, D.W.; YE, G.-Y. Cellular and humoral immune interactions between Drosophila and its parasitoids. Insect Science, v. 28, p. 1208-1227, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1111/1744-7917.12863>

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