Há 15 anos era liberado para comercialização no Brasil o primeiro híbrido de milho geneticamente modificado, contendo genes da bactéria de solo, Bacillus thuringiensis (Bt), capazes de promover na planta a síntese de proteínas tóxicas a determinados grupos de insetos. Hoje, mais de 80% do milho cultivado no país é transgênico. Na semana passada, desvendamos alguns mitos a respeito dessa importante ferramenta de manejo. (confira o texto 1 aqui.) Confira a seguir as respostas para mais algumas dessas questões.

Há necessidade de utilizar tratamento de sementes em milho Bt?

Sim. Embora as toxinas cry do milho Bt sejam expressas pela planta durante todo o ciclo de desenvolvimento, o tratamento de sementes continua sendo necessário para o controle de pragas subterrâneas e insetos sugadores, que não são sensíveis a essas toxinas. Em outros países, já existem proteínas Bt com ação de controle sobre larvas de coleópteros, mas elas ainda não estão disponíveis nos híbridos comerciais brasileiros.

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Figura 1. Modo de ação das proteínas Bt no intestino médio das lagartas.

Fonte: Adaptado de DAQUILA, B. V. (2019)

O nível de dano econômico em uma lavoura Bt é o mesmo de uma lavoura convencional?

Via de regra, o nível de dano econômico de lagartas é o mesmo em ambas as situações, por ser estimado com base nas perdas de produtividade causadas pela destruição de área foliar. Por outro lado, o nível de ação para aplicação de inseticidas (também chamado nível de controle) se baseia na taxa de plantas infestadas pela praga, e deve ser ajustado no caso do milho Bt.

Por exemplo, se o monitoramento for baseado na contagem de lagartas pequenas, poderá indicar uma ação prematura de controle, pois muitas dessas lagartas ainda morrerão devido à ação das toxinas Bt. Assim, o nível de ação deve ser determinado com base na contagem de lagartas de tamanho médio e sadias, ou seja, sem sintomas de intoxicação por Bt, como redução na alimentação e movimentação lenta. Dessa forma, evitam-se gastos com aplicações prematuras e/ou desnecessárias.

Quais as vantagens e desvantagens do milho Bt em relação ao milho convencional?

Como a tecnologia Bt já vem incorporada na semente adquirida pelo produtor, ela funciona como uma espécie de seguro, evitando perdas por danos de lagartas durante todo o ciclo da cultura e reduzindo a necessidade de uso de inseticidas. O menor número de aplicações aumenta a eficiência do controle biológico, principalmente no final do ciclo da cultura, quando o porte alto das plantas dificulta a aplicação de inseticidas por métodos convencionais. Além disso, reduzem-se os riscos de intoxicação, contaminação do meio ambiente e custos operacionais relacionados às aplicações.

Por outro lado, o produtor estará pagando antecipadamente pelo controle de pragas que poderão ou não ocorrer em sua área. Portanto, a aquisição antecipada da tecnologia e o alto custo da mesma são as principais desvantagens para o produtor, sendo necessário ponderar se o histórico de ocorrência e intensidade de infestação das pragas-alvo em anos anteriores justifica o custo de aquisição das sementes Bt, dentro da sua meta de produtividade. Ainda assim, pode-se afirmar que as vantagens do milho Bt superam as desvantagens, inclusive para o consumidor final, que irá adquirir um produto mais barato e com melhor qualidade, devido à menor quantidade de inseticidas utilizados.

Figura 2. Países onde é permitido o cultivo e importação de plantas transgênicas.


Fonte: Prado et al. (2012).

A tecnologia Bt aumenta o potencial produtivo do milho?

Não. A expressão de toxinas Bt em híbridos transgênicos é uma característica defensiva, que apenas preserva o potencial produtivo da planta de milho. Ou seja, o híbrido de milho Bt produzirá o mesmo que um híbrido convencional de genética semelhante, na ausência dos danos das pragas-alvo. Entretanto, como é muito difícil obter-se um controle total de lagartas em lavouras convencionais, a produtividade esperada de lavouras Bt geralmente é maior.

Para maiores informações sobre o modo de ação das proteínas Bt, acesse aqui. Na semana que vem, entenderemos melhor o conceito de área de refúgio e por que sua adoção é essencial para preservação da eficiência da tecnologia Bt. Não perca!

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.



Referências:

BARROS, R. PRAGAS DO MILHO. Tecnologia e Produção: Soja e Milho 2011/2012. Fundação MS. Disponível em: <https://www.fundacaoms.org.br/media/attachments/144/144/newarchive-144.pdf>

CRUZ, I.; VIANA, P. A.; LAU, D.; BIANCO, R. Manejo Integrado de Pragas do Milho. In: CRUS, J. C.; MAGALHÃES, P. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; MOREIRA, J. A. A. (Eds.) Milho: 500 Perguntas, 500 Respostas. Embrapa, Brasília-DF, 2011. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/101790/1/500perguntasmilho.pdf>

DAQUILA, B. V. Histopathology of the midgut in larvae of Diatraea saccharalis Fabricius, 1794 (Lepidoptera: Crambidae) treated with Bacillus thuringiensis (Bacillales: Bacillaceae). Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Maringá, 2019.

POZEBON, H.; STÜRMER, G. R.; ARNEMANN, J. A. Corn stunt pathosystem and its leafhopper vector in Brazil. Journal of Economic Entomology, v. 115, n. 6, p. 1817-1833, 2022. Disponível em: <https://academic.oup.com/jee/article-abstract/115/6/1817/6708323>

PRADO, J. F. et al. Genetically engineered crops: from idea to product. Annu. Rev. Plant Biol., v. 65, p. 769–90, 2014. Disponível em: <https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev-arplant-050213-040039>

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