As pragas de grãos armazenados podem ser divididas em dois grupos: os besouros, como Rhyzopertha dominica (besourinho-broqueador-dos-grãos), Sitophilus oryzae (gorgulho-do-arroz) e Sitophilus zeamais (gorgulho-do-milho); e as traças, que incluem as espécies Sitotroga cerealella (traça-dos-cereais), Ephestia elutella (traça-do-fumo) e Plodia interpunctella (traça-da-farinha). Esses insetos podem causar perdas econômicas importantes, gerando dúvidas quanto ao seu correto manejo. Confira a seguir as respostas para algumas dessas questões.

Quais são os tipos de danos causados por essas pragas?

Os danos podem ser quantitativos e qualitativos. O consumo direto de parte do grão é o dano quantitativo mais óbvio, mas que muitas vezes possui relevância secundária. Algumas espécies possuem preferência por se alimentar da região do embrião (gérmen), comprometendo o potencial de germinação das sementes e a qualidade nutricional dos grãos. As perfurações decorrentes do broqueamento dos grãos e a contaminação destes por fungos também são perdas qualitativas importantes, causando alterações no odor e sabor do produto.

O ataque de insetos em grãos armazenados pode gerar ainda outros efeitos secundários indesejáveis, como aquecimento da massa de grãos, formação de teias pelas traças, danificação de sacaria, derramamentos e perda de padrão definida pela classificação do produto a ser comercializado. Portanto, percebe-se que os prejuízos causados por essas pragas vão muito além da simples perda de peso de grãos.

Figura 1. Grão de milho atacado por Sitophilus zeamais (gorgulho-do-milho).

Fonte: Bugwood.org

A infestação dos grãos pode começar ainda no campo?

Verdade. Algumas espécies de pragas podem iniciar sua infestação antes da colheita da cultura, sendo em seguida transportados junto com os grãos e aumentando sua população durante o armazenamento. É o caso da traça-dos-cereais (Sitotroga cerealella) e do gorgulho-do-milho (Sitophilus zeamais), o popular caruncho. Dessa forma, o manejo correto das pragas de grãos armazenados deve começar ainda na lavoura.

Existem medidas preventivas para o manejo dessas pragas?

Sim. Os métodos preventivos podem ser físicos, como o uso de terra de diatomáceas, e químicos, com pulverização de inseticidas recomendados. A terra de diatomáceas é proveniente de algas fossilizadas moídas em um pó seco de fina granulometria, que age por contato no inseto e causa morte por desidratação. Não é um produto tóxico e não altera as características alimentares dos grãos. Já a pulverização de inseticidas gera um efeito residual nos grãos, devendo ser aplicados seguindo rigorosamente as recomendações da bula para não afetar os alimentos produzidos.

Entretanto, uma das medidas preventivas mais eficazes é a limpeza e higienização da unidade de armazenamento de grãos, utilizando equipamentos simples como vassouras, escovas e aspiradores de pó em moegas, túneis, secadores, elevadores e eixos sem-fim. Dessa forma, eliminam-se possíveis focos de infestação de pragas, como resíduos de grãos, poeira, sobras de classificação, etc. A limpeza pode ser complementada por lavagem com água em alta pressão e aplicação de inseticidas protetores de longa duração.

Figura 2. Espiga de milho atacada por Sitotroga cerealella (traça-dos-cereais).

Fonte: Bugwood.org

E quando os insetos já estão presentes, o que fazer?

Nesse caso, deve-se realizar o tratamento curativo, comumente denominado de expurgo dos grãos. Esse tratamento é feito com produtos fumigantes, substâncias químicas que, em condições normais de temperatura e pressão, comportam-se como gases e causam mortalidade nos insetos-praga. Os fumigantes mais utilizados são a fosfina, o fluoreto de sulforila e o brometo de metila, este último em processo de retirada do mercado internacional. São produtos que agem rapidamente, não deixam residual após a exaustão do gás e possuem alta capacidade de penetração, atingindo insetos mesmo no interior da massa de grãos.

Para que a ação dos fumigantes seja eficaz, a massa de grãos deve estar submetida à vedação total, seja em armazéns, silos de concreto, câmaras de expurgo, big bags ou porões de navios. Além disso, deve-se observar o período mínimo de exposição de sete dias, para garantir o controle de todas as fases biológicas da praga na dose indicada do produto. Na semana que vem, abordaremos em maiores detalhes o processo de expurgo e o modo de ação dos inseticidas fumigantes. Não perca!

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.

Referências:

CRUZ, I.; VIANA, P. A.; LAU, D.; BIANCO, R. Manejo Integrado de Pragas do Milho. In: CRUS, J. C.; MAGALHÃES, P. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; MOREIRA, J. A. A. (Eds.) Milho: 500 Perguntas, 500 Respostas. Embrapa, Brasília-DF, 2011. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/101790/1/500perguntasmilho.pdf>

LORINI, I.; KRZYZANOWSKI, F. C.; FRANÇA-NETO, J. de B.; HENNING, A. A.; HENNING, F. A. Manejo Integrado de Pragas de Grãos e Sementes Armazenadas. Embrapa, Brasília-DF, 2015. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/129311/1/Livro-pragas.pdf>



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