As pragas de grãos armazenados, como gorgulhos (Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae, Sitophilus zeamais) e traças (Sitotroga cerealella, Ephestia elutella, Plodia interpunctella), podem causar perdas econômicas importantes devido a danos quantitativos e qualitativos nos grãos e sementes. Na semana passada, desvendamos alguns mitos a respeito do seu manejo, confira aqui. Confira a seguir as respostas para mais algumas dessas questões.
Leia +: Mitos e verdades sobre pragas de grãos armazenados
Por que a fosfina é o inseticida fumigante mais utilizado?
Trata-se de um produto eficiente, relativamente barato e de fácil utilização. É geralmente comercializado na forma de pastilhas contendo fosfeto de alumínio ou de magnésio, que reagem ao entrar em contato com a umidade do ar e desencadeiam a liberação do gás fosfina. Por possuir peso específico ligeiramente mair que o ar, esse gás apresenta alta capacidade de expansão e penetração na massa de grãos.
Outra vantagem da fosfina é a sua inocuidade ao produto, não afetando o poder germinativo das sementes nem a qualidade nutricional dos grãos. Assim, em condições normais de uso, não se verifica prejuízo ao sabor dos alimentos nem presença de resíduos detectáveis no produto fumigado. Por outro lado, a ampla difusão da fosfina tem levado ao uso exagerado em alguns casos, consequentemente gerando problemas de resistência a esse princípio ativo em insetos-praga de grãos armazenados.
Figura 1. Sítio e modo de ação dos inseticidas atuantes na mitocôndria (inibidores da respiração celular). A fosfina está incluída no grupo dos fosforetos.
Então pode ocorrer resistência a inseticidas nas pragas de grãos armazenados?
Sim, tanto a inseticidas fumigantes quando protetores (convencionais). O processo é idêntico ao verificado em pragas de campo, onde uma determinada população de insetos desenvolve a capacidade de suportar doses de inseticida letais a uma população normal da mesma espécie.
Caso o mesmo princípio ativo continue sendo utilizado repetidamente, a pressão de seleção leva ao desaparecimento gradual dos indivíduos suscetíveis e prevalência da população resistente. No Brasil, já foram documentos casos de resistência a inseticidas fumigantes no caruncho-do-milho (Sitophilus zeamais) e no besourinho-broqueador-de-grãos (Rhyzopertha dominica).
O expurgo com fosfina mata os ovos e larvas que ficam dentro dos grãos?
Verdade. Quando bem conduzido, o expurgo eliminará os insetos adultos e também suas formas jovens, como ovos, larvas e pupas, inclusive quando já presentes dentro dos grãos. O segredo para o sucesso do expurgo reside em utilizar uma lona em boas condições, sem furos, e perfeitamente vedada nas beiradas, para que o gás não escape. Além disso, deve ser respeitado o tempo mínimo de exposição, mantendo-se a lona fechada durante, pelo menos, sete dias.
Nesse caso, podem permanecer resíduos nos grãos fumigados?
Mito. O gás fosfina penetra nos grãos através dos furos deixados pelo broqueamento dos insetos-praga, mas não é absorvido pelos grãos e, portanto, não deixa resíduos tóxicos no alimento. A única exceção é quando se realiza o expurgo com os grãos muito úmidos, podendo ocorrer nesse caso a absorção de uma pequena quantidade do produto.
De qualquer forma, o tempo de espera para consumir os grãos após o término do expurgo está limitado a poucas horas. Por garantia, a legislação brasileira estabelece um intervalo de segurança de quatro dias até que os grãos sejam destinados ao consumo.
Portanto, o manejo integrado das pragas de grãos armazenados traz uma série de benefícios aos produtores e armazenadores, como redução das perdas causadas pelas pragas, confiança na comercialização dos grãos e segurança alimentar para os consumidores.
É uma filosofia que pode ser posta em prática por todos os membros da cadeia produtora, desde os pequenos produtores que armazenam seus grãos na propriedade rural para consumo ao longo do ano, até as grandes centrais de armazenamento espalhadas por todo o país.
Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.
Referências:
BARROS, R. PRAGAS DO MILHO. Tecnologia e Produção: Soja e Milho 2011/2012. Fundação MS. Disponível em: <https://www.fundacaoms.org.br/media/attachments/144/144/newarchive-144.pdf>
CRUZ, I.; VIANA, P. A.; LAU, D.; BIANCO, R. Manejo Integrado de Pragas do Milho. In: CRUS, J. C.; MAGALHÃES, P. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; MOREIRA, J. A. A. (Eds.) Milho: 500 Perguntas, 500 Respostas. Embrapa, Brasília-DF, 2011. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/101790/1/500perguntasmilho.pdf>
SALGADO, V. L. BASF Insecticide Mode of Action Technical Training Manual. 2013. Disponível em:<https://agriculture.basf.com/global/assets/en/Crop%20Protection/innovation/BASF_Insecticide_MoA_Manual_2014.pdf>