Nomes de peso dentro da pesquisa ligada à agricultura conservacionista estiveram reunidos na última semana em Cascavel, PR, para discutir avanços na agricultura proporcionados pela prática do Sistema Plantio Direto. O evento Plantio Direto na Palha Aumentando a Fertilidade e a Conservação dos Solos, reuniu durante dois dias Rafael Fuentes, pesquisador do IAPAR; Newton Luiz Kaminski, diretor da Itaipu Binacional; Ivan Cruz, pesquisador da Embrapa; Erlei Melo Reis, professor da Universidade de Passo Fundo e da Universidade de Buenos Aires; Pedro Jacob Christoffoleti, professor da ESALQ/USP; Álvaro Vilela de Rezende, pesquisador da Embrapa; Antônio Luis Santi, professor da Universidade de Santa Maria; Lutécia Beatriz Canalli, pesquisadora do IAPAR; Julio Cézar Franchini, pesquisador da Embrapa; Ricardo Ralisch, professor da Universidade Estadual de Londrina; Julio Cesar Salton, pesquisador da Embrapa, e Deonir Secco, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Esse era o time.

Produtores, assistentes técnicos, consultores, pesquisadores, professores e estudantes compuseram uma plateia com cerca de 200 pessoas, que puderam conferir um evento focado em esclarecer dúvidas e apresentar os cases de sucesso, estratégicos para o aumento da fertilidade e conservação dos solos. Diagnóstico da situação atual do SPD no Brasil, Índice de Qualidade Participativo do SPD, insumos biológicos, construção da fertilidade do solo, agricultura de precisão para o manejo da fertilidade do solo, sistemas de produção para a construção e manutenção da matéria orgânica e fertilidade do solo e até o uso de VANTs estiveram entre os temas abordados.

De acordo com Ricardo Ralisch, a concentração de tantos nomes representativos em um mesmo evento é reflexo do crescimento de uma mobilização em torno da boa agricultura. “Há hoje, de fato, um contexto que exige ainda mais dedicação para que tenhamos um efeito mais amplo e generalizado desses benefícios. Podemos elencar algumas razões, como, por exemplo, o fato de que nossa agropecuária evoluiu muito nos últimos 40 anos e ensinamos ao mundo o que é o Sistema Plantio Direto, que foi traduzido pela FAO como Agricultura Conservacionista. Este processo evoluiu espontaneamente no Brasil, conciliando agricultores com técnicos e pesquisadores. Podemos destacar também que este processo espontâneo tem uma capacidade limitada de evolução e, parece que nos aproximamos deste limite, levando as pessoas a negligenciar algumas medidas fundamentais, fragilizando o sistema de produção e retrocedendo os efeitos positivos. Isto torna naturalmente um maior esforço externo para continuar evoluindo. E esse esforço externo útil seria uma política agrícola adequada, que nunca aconteceu e não sabemos se acontecerá, recaindo sobre os técnicos e as instituições de pesquisa e de extensão uma maior responsabilidade, mas com capacidade limitada”.



Segundo ele, por estes e outros motivos, é necessário redobrar a dedicação para recuperar os estragos recentes e vislumbrar ainda mais benefícios do SPD. Por isto, a Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação —FEBRAPDP tem trabalhado muito para divulgar às práticas conhecidas, mas não reconhecidas.

Ralisch explica ainda que o principal desdobramento que teremos em breve será o fato de a preservação do ambiente ser o principal produto da agropecuária. “Hoje se fala muito da demanda por alimento e procede, mas habitat é ainda mais importante, apenas pelo fato de que sem um ambiente adequado não se produz satisfatoriamente. Portanto, qual é o impacto dos diferentes sistemas de produção no solo, na água, na atmosfera e na biodiversidade? Este será o futuro parâmetro da produtividade e de seu custo. Se nos prepararmos para isto, seremos a grande potência mundial. Estamos perdendo oportunidades, mas ainda dá tempo”, frisa.

Caminho sem volta

De acordo com Lutécia Canalli, mestra em Ciência do Solo e doutora em Fitotecnia, já pode ser percebido o movimento de produtores buscando caminhos mais naturais e começando a compreender o que um grande número de profissionais ligados à agricultura conservacionista vem falando há muitos anos. Cada vez mais produtores e agrônomos têm despertado para práticas que busquem efetivamente estabelecer condições de mais equilíbrio natural para as atividades químicas, físicas e biológicas do solo.

Em sua opinião, uma das principais razões para a maior procura é o alto custo dos insumos, que representam uma fatia muito grande do produto final, forçando o produtor a gastar muito por hectare e isso o faz refletir a respeito dos insumos. Essa reflexão desemboca nas soluções que preconizadas pela agricultura mais conservacionista “e que acabam sendo infinitamente mais baratas. Sem falar também na questão da construção da fertilidade do solo através da valorização da matéria orgânica. A partir do momento que os produtores migrarem para esse processo vão compreender que eles podem, apenas com o manejo diferente, com a forma de fazer diferente e sem tanta dependência de produtos de insumos externos podem alcançar produtividades até melhores das que vêm alcançando, com o custo de produção bem mais baixo e com o ambiente muito mais sadio, com a presença de mais inimigos naturais e o solo com sua fertilidade mais bem estruturada. Ao mesmo tempo, vamos oferecer um alimento mais saudável para a população, para o consumidor. Isso permite pensar num futuro muito melhor tanto na oferta de alimentos seguros e de qualidade quanto para o produtor no dia a dia para os operadores com menor manuseio de agroquímicos. É um caminho que não tem volta”, destaca.

Ela prossegue: “o público do evento era formado, principalmente, por agrônomos. E aqui vale ressaltar que nós tínhamos na plateia agrônomos mais antigos que a vida inteira trabalharam dentro do sistema mais convencional. Tínhamos também profissionais jovens e estudantes. Todos tiveram muito interesse nas palestras, fizeram muitas perguntas boas e focadas, o que mostrou que o público estava compreendendo o que a gente estava querendo passar e estava interessado em aprender. Relataram algumas das experiências que tiveram e compartilharam com os demais o que deu certo e o que deu errado. A exemplo do evento de Cascavel, também têm ocorrido outros com abordagem dessa mesma linha de produzir de uma forma, digamos, mais ambientalmente correta e ao mesmo tempo não perdendo de vista questão econômica, sempre com uma receptividade crescente. Há um eixo agronomicamente correto, economicamente viável e socialmente desejável e isso nos dá uma perspectiva muito boa nesse caminho”, conclui Lutécia.

A promoção do Plantio Direto na Palha Aumentando a Fertilidade e a Conservação dos Solos coube à Associação Regional dos Engenheiros Agrônomos de Cascavel (Areac), com patrocínio da Itaipu Binacional e Confea e respaldo do Crea-PR/Mútua, Fundação Agrisus e apoio institucional da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná (FEAPr) e do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz (FAG).

Fonte: FEBRAPDP – Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação

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