Ao longo de seu ciclo de desenvolvimento, a cultura da soja está suscetível ao ataque de diversas pragas que podem resultar em significativas perdas de produtividade. Entre essas pragas, destaca-se a mosca-branca (Bemisia tabaci) devido aos graves danos que causa e à dificuldade associada ao seu controle.
Estudos recentes indicam a predominância da mosca-branca biotipo B nas lavouras de soja do Brasil. O biotipo B é considerado mais agressivo, mas a distinção morfológica entre os biotipos A e B não é possível (Sosa-Goméz et al., 2014). Conforme o Comitê de Ação à Resistência aos Inseticidas (IRAC, 2024), o grande potencial reprodutivo da mosca-branca e sua capacidade de transmitir diversos vírus que causam doenças em plantas cultivadas fazem com que o controle químico seja a principal ferramenta utilizada para o manejo dessa espécie.
A mosca-branca é um inseto sugador que, durante a alimentação, pode introduzir doenças viróticas na seiva das plantas, resultando em desenvolvimento desuniforme e redução da produtividade. Entre as doenças causadas estão a necrose da haste da soja e o mosaico dourado do feijoeiro. Além disso, ao se alimentar, a mosca-branca excreta parte da seiva sobre as folhas, que é rica em açúcares, favorecendo o crescimento de fungos oportunistas que geram um aspecto escurecido conhecido como fumagina. Essa fumagina reduz a área fotossinteticamente ativa, afetando negativamente a produtividade da cultura (Tomquelski et al., 2020).
Figura 1. Mosca-branca (Bemisia tabaci).
A mosca-branca é um inseto pequeno que coloniza a face inferior das folhas, os adultos possuem asas brancas e abdômen amarelado. São insetos ágeis, ativos, voam rapidamente e podem se dispersar tanto a curtas quanto a grandes distâncias, deixando-se levar pelas correntes de ar.
O inseto realiza a postura na face inferior das folhas, os ovos apresentam coloração amarela com formato de pera, podendo ser observados apenas com o auxílio de lentes de aumento. As ninfas de primeiro ínstar são móveis e conseguem caminha por pequenas distâncias, em seguida as ninfas se fixam na folha para o desenvolvimento de 2° ao 4° instares que são imóveis. O ciclo de ovo a adulto é de aproximadamente 20 dias, sendo que a longevidade dos adultos é de aproximadamente 19 dias. A mosca-branca apresenta elevada fecundidade, as fêmeas podem ovipositar entre 100 e 300 ovos, dependendo do biotipo, da planta hospedeira, e de fatores climáticos como temperatura e umidade relativa (IRAC, 2013).
Figura 2. Ciclo de vida da mosca-branca (Bemisia tabaci).
De acordo com Roggia et al. (2020), o monitoramento da mosca-branca deve ser concentrado nas bordaduras da lavoura, com amostras em grade com distância entre pontos de 40 m a 60 m. A amostragem consiste em coletar três a quatro folíolos no terço médio das plantas em cada ponto amostral e com auxílio de uma lupa, contar as ninfas de mosca-branca em uma área mínima de 1 cm2 por folíolo. Em casos de infestações abaixo de 2 ninfas cm2, geralmente não há formação de fumagina nas folhas, que é o principal fator responsável pela redução da área fotossintética.
A seguir, podemos observar um exemplo de uma folha de soja dividida em 32 quadros de 1 cm² para fins de amostragem, uma vez que se deve examinar uma área mínima de 1 cm² para avaliar a presença da mosca-branca.
Figura 3. Área de folíolo de soja de 32 cm2 utilizada para contagem de ninfas de mosca-branca.
O pesquisador Arnemann (2019) ressalta que a presença da mosca-branca ocorre em todo o dossel da planta de soja, com aproximadamente 80% das ninfas concentradas nos terços médio e inferior. Essa distribuição torna complexo o controle, pois os produtos precisam alcançar efetivamente o terço inferior da planta para serem eficazes.
Figura 4. Número médio de ninfas de B. tabaci por área foliar, nos terços superior, médio e inferior das plantas de soja.
Grigolli & Grigolli (2019) destacam que plantios tardios ou anos mais secos tendem a aumentar a ocorrência da mosca-branca, que possui um ciclo relativamente curto. O nível de controle recomendado é de 5 a 10 ninfas por folíolo.
Pesquisas realizadas por Arneman et al. (2019) sobre o controle da mosca-branca (Bemisia tabaci) em soja revelaram resultados em relação à eficácia de diferentes tratamentos. Os experimentos indicaram que a combinação de Ciantraniliprole + Lambda-cialotrina (100 + 7,5 g ha-1) foi a mais eficaz no controle de adultos de B. tabaci, alcançando uma eficiência de 65% e mantendo a infestação abaixo de 6,29 adultos por folíolo.
Para o controle das ninfas, o tratamento com Acetamiprido + Piriproxifen (60 + 30 g ha-1) se mostrou o mais eficiente, com uma eficácia de 67% e uma infestação reduzida a menos de 1,28 ninfas por folíolo. Além disso, a pesquisa destacou que pulverizações sequenciais, iniciadas no começo da infestação, aumentam significativamente a eficiência do controle dessas pragas.
Embora o controle da mosca-branca seja predominantemente realizado por meio do uso de inseticidas, o manejo eficiente dessa praga exige uma abordagem integrada com diferentes estratégias. É fundamental iniciar com a destruição de restos culturais e plantas voluntárias, seguida pelo controle de plantas daninhas hospedeiras e, finalmente, a aplicação criteriosa de métodos de controle químico.
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Referências:
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GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. PRAGAS DA SOJA E SEU CONTROLE. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019, Fundação MS, cap. 5. Maracaju – MS, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 27/05/2024.
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ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Embrapa, Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 27/05/2024.
TOMQUELSKI, G. V. et al. EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS PARA O CONTORLE DA MOSCA-BRANCA Bemisia tabaci BIOTIPO B (HEMIPTERA: ALEYRODIDAE) EM SOJA NAS SAFRAS 2017/2018 E 2018/2019: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, circular técnica, 158. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/212145/1/CT-158.pdf >, acesso em: 27/05/2024.
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