Motivo de grande preocupação para os produtores, as infestações de mosca branca (Bemisia tabaci) são cada vez mais frequentes em diversas culturas agrícolas (Figura 1). No contexto atual, este inseto tem gerado danos diretos e indiretos altamente significativos devido à sua característica polífaga, alta capacidade reprodutiva e, principalmente, pelo desenvolvimento de resistência a alguns inseticidas.
Nos últimos anos, as lavouras de soja estão entre as mais afetadas pela praga, causando prejuízos severos aos agricultores. Dependendo do seu nível populacional, as perdas de produção podem variar de 20% a 100%, comprometendo a produtividade e a qualidade dos grãos de soja.
Figura 1. Mosca-branca adulta em folha de soja
Fonte: Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
A partir da expansão do cultivo da soja para novas áreas no Brasil, começaram a aparecer sintomas de novas doenças, a maioria delas já conhecidas e descritas nos países tradicionalmente produtores desta oleaginosa. As perdas estavam associadas ao efeito direto de alguns vírus sobre as plantas, reduzindo o rendimento, bem como pela ação sobre a qualidade das sementes colhidas, levando ao descarte de inúmeros lotes de sementes.
Transmitido através da mosca-branca, o vírus do mosaico anão causa nanismo nas plantas de soja. Tipicamente, ocorre um super-brotamento com redução no tamanho e deformação dos folíolos. A infecção somente é observada em plantas na fase de floração. Em plantas mais velhas, podem ser observados encarquilhamento do limbo foliar e sintomas de mosaico. Em alguns casos, observa-se o aparecimento de bolhas.
Normalmente, durante o período de cultivo da soja, encontram-se na lavoura ou ao redor dela plantas de Euphorbia spp. infectadas com o vírus do mosaico anão. Estas hospedam também a mosca branca que, ao migrar para a soja, dissemina o vírus na lavoura (Figura 2). Por isso, o vírus do mosaico anão é também denominado Vírus do Mosaico da Euphorbia (VME), sendo que a planta daninha mais representativa desse gênero é o leiteiro ou amendoim bravo (Euphorbia heterophyla).
Figura 2. Plantas de Euphorbia spp. contaminadas com VME da soja
Fonte: Embrapa Soja. Confira a imagem original clicando aqui
Em contraponto, plantas de soja contaminadas com o Vírus do Mosaico Crespo (VMCrS) apresentam folhas mosqueadas com formação de rugosidade e bolhas. A ocorrência do VMCrS depende da existência simultânea de plantas hospedeiras infectadas e do vetor (mosca-branca), próximos aos campos de soja. No Brasil, os hospedeiros mais comuns são Sida micrantha, Sida rhombifolia, Sida acuta, Abutilon striatum, Nicandra physaloides. As plantas do gênero Sida são comumente conhecidas como guanxuma.
Normalmente os sintomas não aparecem em plantas de soja jovens (20 a 30 dias após a emergência), pois durante as primeiras semeaduras ainda não há ocorrência de alta população de mosca-branca nem de plantas de guanxuma (Sida spp.) infectadas, ao redor dos campos de cultivo de soja (Figura 3).
Figura 3. Plantas de guanxuma (Sida spp.) infectadas com o VMCrS da soja
Fonte: Embrapa Soja. Confira a imagem original clicando aqui
Outra virose de destaque na cultura da soja é a necrose da haste. Esta doença é provocada pelo vírus Cowpea Mild Mottle Virus (CPMMV) e transmitida através da mosca-branca. Quando a planta está infectada com o vírus, após a floração, normalmente se observam os sintomas de necrose na haste e queima do broto. Essa sintomatologia pode progredir para a morte da planta, impactando negativamente na produtividade da lavoura.
Pode-se ainda observar outros sintomas nas plantas de soja devido ao CPMMV, tais como: escurecimento do pecíolo e das nervuras foliares, clorose e mosaico da folha (podendo apresentar aspecto de bolhas no limbo foliar), necrose da haste, queima do broto, nanismo, vagens deformadas e grãos pequenos (Figura 4).
Figura 4. Necrose da haste da soja
Fonte: Lavoura 10. Disponível em clicando aqui
Assim, toda condição que favoreça o desenvolvimento da população de mosca-branca também favorece o aparecimento das viroses, desde que hajam plantas hospedeiras infectadas no local. Além das dificuldades de se controlar esse inseto, a transmissão de forma não persistente favorece a disseminação do vírus nas lavouras de soja.
Considerações finais
Os níveis de dano causados pelas doenças à soja são muito variáveis, dependendo do patógeno envolvido e das condições climáticas. Dentre esses organismos causadores de doenças, estão incluídos os vírus disseminados através da mosca-branca. Além de prejudicar o desenvolvimento normal das plantas, o que naturalmente reduz a produção de grãos, pode ocorrer a morte das mesmas.
Outras viroses têm sido identificadas e muito pouco se conhece sobre os danos causados à soja. A maior parte das viroses descritas no mundo, infectando a soja, encontra-se na Ásia, seguindo-se os EUA e América do Sul. Por fim, ressalta-se que a dispersão da mosca-branca acontece por meio do vento, mas também por implementos ou produtos agrícolas que “carregam” os insetos entre diferentes lavouras.
Elaboração do texto: Rael Adams, estudante do Curso de Agronomia na UFSM e membro do grupo Manejo e Genética de Pragas – UFSM
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. M. R. Vírus de Soja. Embrapa Soja. Disponível em https://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/arquivos/artigos/gc23_virussoja.pdf
ALVES, E. B. Mosca-branca uma praga polífaga e de difícil controle. PROMIP – Manejo Integrado de Pragas. 26 de julho de 2019. Disponível em https://www.promip.agr.br/mosca-branca-praga-polifaga-dificil-controle/
BARROS, C. Mosca branca: 8 fatos para entender o inseto e realizar o melhor manejo. PIONEER. 20 de outubro de 2016. Disponível em http://www.pioneersementes.com.br/media-center/noticias/5105/mosca-branca-8-fatos-para-entender-o-inseto-e-realizar-o-melhor-manejo
MARUBAYASHI, J. M. et al. Transmissão do Cowpea mild mottle vírus pela mosca branca Bemisia tabaci biótipo B para plantas de feijão e soja. Scielo. 2010, vol.36, n.2, pp.158-160. ISSN 0100-5405. Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-54052010000200009&script=sci_abstract&tlng=pt#:~:text=A%20necrose%20da%20haste%20da,n%C3%BAmero%20de%20moscas%2Dbrancas%20B.
Mosca-branca na Cultura da Soja. ADAMA. Disponível em https://www.adama.com/brasil/pt/espaco-do-agricultor/mosca-branca-na-soja