A praga já foi registrada nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia. Há relatos recentes no Paraguai e na Bolívia (Gassen & Schneider 1985; CESB, 2018; Vitorio et al. 2019).

É uma praga outonal, aumentando a incidência de sua população quando ocorre redução do fotoperíodo, coincidindo com a soja safrinha. As perdas podem variar de 2 a 40% da produtividade (Van Den Berg, et al., 1998). Esta praga tem gerado preocupação pela importância na soja de segunda safra.

Desenvolvimento dentro da planta: ciclo de vida varia de 16-26 dias

As fêmeas ovipositam nos folíolos recém abertos próximos as nervuras. Através do seu aparelho ovipositor, realizam um corte na epiderme, especialmente nos tecidos mais novos das plantas. Quando as larvas eclodem, consomem o parênquima e formam galerias até atingir a nervura central. Quando atingem a haste principal, bloqueiam o fluxo de seiva.

Figura 1. Larvas se alimentando do parênquima.

Foto: Mol Insect Lab/UFSM.

Na fase de pupa, alimentam-se das paredes da haste e abrem um orifício para a liberação do adulto. Quando se transformam em moscas (fase adulta), a praga emerge da planta. Possui tamanho entre 2-3 mm e coloração preta.

Figura 2. Adulto de M. sojae

No cultivo de primeira safra, as galerias atingem em torno de 5,9 cm, enquanto que na segunda safra, 13,4 cm (Wang, 1979). Esse dano pode representar até 70% do comprimento da haste da planta (Singh, 1992).

Detecção da praga

Não conseguimos visualizar os sintomas externos quando a praga está presente na lavoura, pois está protegida dentro da planta. Essa constatação não permite que as pulverizações sejam eficientes.

O único modo de detectar a larva ou pupa é através da abertura longitudinal das plantas na haste principal, observando a presença de galerias. Possivelmente, quando se verificar as galerias, a praga já completou seu ciclo e não se encontra mais na planta (Czepak., 2018).



Como mostra a figura a seguir, os danos foram encontrados em praticamente 100% das plantas amostradas. No entanto, a praga já terminou seu ciclo e não está mais presente na planta, permanecendo apenas os danos.

Figura 3. Plantas observadas com danos, larvas e adultos.

Adaptado: Czepak, et al. (2018).

Danos

Os danos que ocorrem no período larval, é o mais significativo e prejudicial à cultura. Ocorre o bloqueio do parênquima foliar, do pecíolo e da haste da planta. As galerias formadas reduzem o fluxo de seiva da planta, impedindo a translocação de água e nutrientes.

Quando isso acontece, temos:

  • Redução de altura de planta;
  • Diminui número de vagens e grãos;
  • Redução de massa seca;
  • Entre-nós curtos e ramificações laterais;
  • Engrossamento na base do caule;
  • Nodulação reduzida.

Figura 4. M. sojae encontrada nas galerias a partir do corte longitudinal da planta de soja.

Foto: Mol Insect Lab/UFSM

Nota-se em altas infestações, murcha e aceleramento da maturação. Esse sintoma pode ser confundido com doenças e nematoides.

Figura 5. Murcha das plantas de soja.

Foto: Madalosso (2019).

O ataque no início de desenvolvimento da planta é o mais crítico, ocasionando morte dos trifólios, regiões ocas e morte do meristema apical.

A planta quando atacada tenta compensar emitindo ramificações laterais. Por isso, uma das formas de detecção da praga, é a visualização de ramificações laterais excessivas + entre-nós curtos. Podemos também visualizar o orifício criado para a liberação do adulto no caule da planta.

Czepak et al. (2018), relataram que as plantas de soja encontradas com a praga tinham como sintomas a coloração do caule marrom-avermelhado.

Data de semeadura

A planta possui a capacidade de superar as injúrias causadas pela praga quando possui o ciclo longo, já que o acúmulo de matéria seca é maior. Esse cenário é visto na soja de primeira safra.

Soja de segunda safra

Este cenário de soja safrinha (semeadura em janeiro ou fevereiro), em que a soja se encontra com o ciclo de desenvolvimento mais curto, pode-se observar os maiores danos, pois a planta não consegue produzir estruturas que compensem as perdas pela praga.

Professor Dr. Marcelo Madalosso (URI – RS), relatou que há possibilidade de inviabilizar a soja safrinha devido a ferrugem e a mosca-da-haste. A ferrugem da soja (Phakospsora pachyrhizi) recebe uma grande pressão do inóculo na segunda safra, onde as aplicações acabam se tornando inviáveis na escala financeira. Além desse cenário, observamos o aumento dos danos da mosca-da-haste, possibilitado pelo ciclo reduzido da cultura e condições climáticas favoráveis.

A mosca-da-haste neste momento de soja safrinha, já se encontra na lavoura desde os estágios iniciais da cultura. Os danos se tornam maiores neste cenário, pois possui a capacidade de reduzir o estande de plantas e a soja não consegue compensar as lesões causadas. Aliado a isso, o clima favorece o desenvolvimento da praga, já que é um inseto de hábito outonal.

Possíveis controles

O tratamento de sementes (clorantraniliprole) juntamente com a retirada da ponte verde (plantas na entressafra que servem de hospedeiro) podem reduzir a população. Entretanto, o tratamento de sementes é válido apenas quando a infestação ocorrer no início de desenvolvimento da praga.

O controle químico não é satisfatório, pois se trata de uma praga que permanece o maior tempo de sua vida protegida dentro da planta. Inseticidas com capacidade de penetração, como clorpirifós, podem controlar a praga, mas por curta duração.

De acordo com Frana (2020), recomenda-se algumas medidas para reduzir a população da praga:

  • Rotação de culturas com gramíneas;
  • Plantio no cedo;
  • Cultivares de longa maturidade;
  • Redução de aplicações de defensivos no estágio inicial, pois pode acarretar em morte dos inimigos naturais.

Há ocorrência da praga em plantas de inverno, como o trevo, também pertencente à Família Fabaceae, como a soja (Ferreira et al., 2020). Por isso, o monitoramento durante todo o ano é imprescindível para que na safra de soja não se encontre elevada pressão da praga. A família Fabaceae é o único hospedeiro de M. sojae (Hirose & Moscardi, 2012).

Czepak et al. (2018), enfatiza a importância da retirada de plantas de soja voluntária/tiguera, pois viabiliza o desenvolvimento da praga, possibilitando sua dispersão pelo país.

Considerações finais

A mosca-da-haste é considerada uma praga silenciosa, desenvolvendo-se dentro da planta no momento que causa os maiores danos na soja.

A soja safrinha favorece a permanência de M. sojae na lavoura, acarretando em danos maiores na safra seguinte.

Os possíveis controles são o tratamento de sementes, rotação com gramíneas, plantio da soja em outubro/novembro, eliminação de plantas hospedeiras da família Fabaceae e principalmente, o monitoramento através do corte longitudinal na haste da soja.

A soja guaxa serve de hospedeiro para a mosca-da-haste durante o inverno. Os problemas seguem na safra da soja, pois a praga já estará apta para causar danos.

Referências

CZEPAK, Cecília et al. First record of the soybean stem fly Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) in the Brazilian Savannah. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 48, n. 2, p. 200-203, 2018.

FERREIRA, et al. The soybean stem fly found on Persian clover as an alternative wintering host in the soybean belt of South America. Genetics and Molecular Research. 2020.

GASSEN, D. N.; SCHNEIDER, S.; ALMEIDA, E. de. Ocorrência de Melanagromyza sp.(Dip., Agromyzidae) danificando soja no sul do Brasil. Embrapa Trigo-Documentos (INFOTECA-E), 1985.

Portal DBO. CESB alerta para o perigo da mosca-da-haste. São Paulo, SP. 2018.

SINGH, Santokh. Ecology of the Agromyzidae (Diptera) associated with leguminous crops in India. St. Johns College, 1982.

VAN DEN BERG, H.; SHEPARD, B. M. Response of soybean to attack by stemfly Melanagromyza sojae in farmers’ fields in Indonesia. Journal of Applied Ecology, v. 35, n. 4, p. 514-522, 1998.

VITORIO, L. et al. First record of soybean stem fly in Bolivia. Genetics and Molecular Research 18 (1): gmr18222, 2019.

WANG, C. L. et al. Occurrence and life-history of Melanagromyza sojae on soybean. Journal of Agricultural Research of China, v. 28, n. 4, p. 217-223, 1979.

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Redação: Equipe Mais Soja.

Foto de capa: Lucas Vitorio

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