Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja em Chicago, nesta última semana de julho, se mantiveram relativamente estáveis, com um leve viés de alta em relação a semana anterior. O fechamento desta quinta-feira (29), para o primeiro mês cotado, ficou em US$ 14,34/bushel, contra US$ 14,16 uma semana antes.

As condições das lavouras de soja nos EUA pioraram neste final de mês, sendo que até o dia 25/07 cerca de 58% do total estavam entre boas a excelentes. Um ano atrás este percentual era de 72%. Por outro lado, 30% estavam em condições regulares e 12% em condições entre ruins a muito ruins. Do total das lavouras, 76% estavam em fase de floração, contra 71% na média histórica. Outras 42% em fase de formação de vagens, ficando dentro da média.

Por sua vez, na semana encerrada em 22/07, as exportações estadunidenses de soja atingiram a 477.964 toneladas, superando o esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial o total embarcado chega a 58 milhões de toneladas, sendo 49% acima do registrado no mesmo período do ano anterior.

Neste contexto, as cotações em Chicago continuam balizadas pelo clima nas regiões produtoras dos EUA. Os indicativos são de clima quente e seco para o início de agosto nestas regiões. De forma geral, as chuvas têm sido mal distribuídas segundo os meteorologistas locais.

Entretanto, vale registrar que este é o elemento que segura as cotações, já que pelo lado da demanda a situação não é boa em função de que as indústrias chinesas continuam com margens de esmagamento apertadas, com a China comprando apenas da “mão para a boca”, ou seja, apenas o estritamente necessário. Assim, a expectativa é de que as importações chinesas de soja desacelerem acentuadamente no final de 2021, após o recorde do início do ano. Isso vai coincidir com a colheita nos EUA. Desta forma, se esta colheita vier normal, diante deste novo padrão de consumo chinês, a pressão baixista sobre as cotações em Chicago tende a ser significativa. Não se pode esquecer que, em colhendo 120 milhões de toneladas de soja, os EUA estarão diante de sua terceira maior safra na história da oleaginosa.

A forte redução na lucratividade do setor suinícola chinês, que já vem de algum tempo, além do aumento no uso do trigo na ração animal, têm alterado a demanda pela soja no país oriental. Cogita-se, inclusive, que a China importe menos do que 100 milhões de toneladas neste ano, contra a expectativa de 102 milhões no início do ano. Por hora, considera-se que a demanda por farelo de soja na China está chegando ao fundo do poço, o que explica a forte queda nas cotações deste subproduto em Chicago nestes últimos meses. Durante esta semana a tonelada curta de farelo chegou a ser cotada em US$ 353,60, após ter atingido a US$ 450,90 em 12 de maio passado. Ou seja, o farelo perdeu quase 100 dólares em valor, no seu primeiro contrato em Chicago, em dois meses e meio. Desta forma, o comportamento da demanda, puxado pela China, tende a ser bem diferente neste segundo semestre, após a euforia da primeira metade do ano, quando a China importou 48,95 milhões de toneladas de soja.



Dito isso, no Brasil, com um câmbio que se estabilizou entre R$ 5,15 e R$ 5,20 por dólar na semana, e diante de prêmios positivos, os preços da soja se mantiveram entre R$ 150,00 e R$ 155,00/saco. A média gaúcha, por exemplo, fechou a semana em R$ 154,49/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 153,00 e R$ 156,00/saco.

Assim, além dos fatores normais na formação do preço, tem-se também que os produtores seguram o produto restante visando ainda melhores preços, o que parece ser uma estratégia muito arriscada diante da tendência que o mercado vem desenhando há algumas semanas.

Os produtores estariam apostando na boa demanda interna por parte das indústrias de ração, as quais estão estimuladas pelas importantes exportações das carnes, e também pelas exportações da soja em grão. Neste último caso, em julho o Brasil exportou pouco mais de 7 milhões de toneladas, somando um total de 68,4 a 69 milhões de toneladas nos primeiros sete meses do ano, volume que supera as 66 milhões de toneladas do mesmo período de 2020. Este acumulado é recorde histórico e, no complexo soja, também há recorde, com 79,4 milhões, contra 77,5 milhões do ano passado. Assim, a safra deste ano foi maior e o país já embarcou 58% das 136,8 milhões de toneladas produzidas. No ano passado eram 62% das 125,4 milhões. Diante disso, o Brasil teria algo entre 30 a 32 milhões de toneladas ainda para serem comercializadas da safra que passou, havendo algumas regiões que já estariam pagando melhor do que a exportação. Mas há Estados que ainda possuem muita soja disponível, caso do Rio Grande do Sul, e cujos produtores indicam retornar ao mercado somente em outubro.

Dito isso, agora puxado pelo aumento no percentual de adição do biodiesel ao diesel fóssil (passou de 10% para 12% recentemente), o esmagamento interno de soja vem crescendo. Segundo a Abiove, este esmagamento deverá fechar o ano em 46,5 milhões de toneladas, ficando muito próximo dos 46,8 milhões do ano passado. Já para as exportações, o volume projetado está agora em 86,7 milhões de toneladas para o ano, ou seja, 4,5% acima do registrado em 2020.

Apesar deste quadro, os produtores brasileiros não avançam muito nas vendas antecipadas para a nova safra. A média dos últimos anos, para esta época, é de 38% a 40% do total esperado, porém, neste ano o volume negociado antecipadamente estaria entre 20% a 25% no país. Muitos ainda estão confiando na possibilidade de preços elevados para o ano que vem, no estilo do verificado no primeiro semestre do corrente ano, algo que nos parece cada vez mais difícil para a safra a ser colhida em 2022. Pelo
menos a partir das informações e análises existentes até este final de julho.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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