Dentre as várias espécies de ácaros fitófagos encontradas no Brasil, o ácaro-rajado Tetranychus urticae (Figura 1) destaca-se pela sua capacidade de causar danos severos às plantas e ampla variedade de hospedeiros. Trata-se da segunda espécie de ácaros mais frequente em lavouras de soja (SOSA-GÓMEZ et al., 2014). A ocorrência de ácaro-rajado é favorecida por períodos de estiagem e também pelo uso de fungicidas e inseticidas piretróides, especialmente quando pulverizados desde a fase vegetativa da cultura da soja.

A injúria causada por T. urticae (Figuras 2 e 3) prejudica a atividade fotossintética das folhas, conferindo um aspecto de manchas contínuas e acinzentadas na face inferior da folha, enquanto que na face superior ocorrem manchas amareladas. Na lavoura de soja, são notadas pequenas reboleiras com plantas intensamente atacadas e com aspecto amarelado. Em casos de ataque intenso, reboleiras vizinhas podem se fundir formando grandes áreas atacadas, podendo ocorrer queda prematura de folhas.

Figura 1. Adultos de T. urticae

Fonte: Arnemann e Pozebon (2019). Confira a imagem original clicando aqui.

Figura 2. Danos de T. urticae em folha de soja. Fonte: Grupo de Manejo e Genética de Pragas. Confira a imagem original clicando aqui.

A produtividade de grãos da soja diminui significativamente após o ataque de T. urticae, pois uma densidade populacional de um ácaro-rajado por cm2 de área foliar pode reduzir cerca de uma vagem por planta, dois grãos por planta e 42 kg ha-1 de grãos. Da mesma forma, estudos feitos sobre a variável peso de 1.000 grãos indicaram que para cada ácaro-rajado por cm2 ocorre a perda de aproximadamente de 0,7 g de peso (PADILHA et al., 2020).

Os terços médio e superior do dossel da cultura apresentam maior suscetibilidade ao ataque de T. urticae (PADILHA et al., 2020), sendo os estágios de crescimento R1 a R5 os mais críticos para o controle de ácaros em soja (CULLEN & SCHRAMM, 2009). Dessa forma, o monitoramento deve ser mais rigoroso na metade final do ciclo da lavoura, especialmente durante os estágios reprodutivos. Se necessário o controle, o inseticida aplicado deve penetrar pelo menos até o terço médio do dossel das plantas (utilizando-se, por exemplo, gotas mais finas).

Figura 3. Danos de T. urticae em plantas  de soja. Fonte: Grupo de Manejo e Genética de Pragas. Confira a imagem original clicando aqui.

A tomada de decisão para o emprego de controle químico deve pautar-se no nível de dano econômico (NDE) da espécie-praga. Em termos de sintomas visuais, o controle de T. urticae torna-se economicamente viável quando as folhas de soja apresentam leve descoloração e algumas pontuações amarelas (PADILHA et al., 2020). Embora Suekane et al. (2012) sugira um NDE mais elevado (até 15% de descoloração foliar), essa porcentagem de dano tolerável varia de acordo com o índice de área foliar total (IAF) de cada cultivar de soja.

Em muitos casos, a injúria causada por ácaros reduz a atividade fotossintética da planta antes mesmo da perda de tecido foliar tornar-se aparente (NABITY et al., 2009). Assim, a avaliação de sintomas visuais deve ser acompanhada pela quantificação do número de ácaros por área foliar. Segundo Padilha et al. (2020), o nível de dano econômico para T. urticae em soja com base na densidade populacional é de um ácaro rajado por cm2 de área foliar, considerando um custo de controle de R$ 70,00 ha-1 e preço da soja de R$ 100,00 por saca (Figura 4).

Portanto, a fim de obter-se alto rendimento de grãos e proteger o potencial produtivo da soja, as populações de ácaro-rajado devem ser manejadas adequadamente no início da infestação e antes das lesões foliares tornarem-se abundantes. É necessário monitoramento constante da lavoura e dos sintomas nas plantas, visando uma  tomada de decisão mais assertiva em relação ao manejo de T. urticae no cultivo da soja.

Figura 4. Nível de dano econômico (número médio de T. urticae por cm2 de área foliar) de acordo com o valor da saca da soja e custo de controle do ácaro-rajado, considerando 90% de eficiência de controle.

Fonte: Padilha et al., (2020)

Elaboração: Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

Foto de capa: Arnemann e Pozebon

REFERÊNCIAS:

CULLEN, E.; SCHRAMM, S. Two-spotted spider mite management in soybean and corn. Madison: University of Wisconsin Extension, 2009.

NABITY, P.D.; ZAVALA, J.A.; DELUCIA, E.H. Indirect suppression of photosynthesis on individual leaves by arthropod herbivory. Annals of Botany, v.103, p.655-663, 2009. DOI: https://doi.org/10.1093/aob/mcn127.

OSTLIE, K.; POTTER, B. Managing two-spotted spider mites on soybeans. Minnesota: University of Minnesota Extension, 2011.

PADILHA, G. et al. Damage assessment and economic injury level of the two-spotted
spider mite Tetranychus urticae in soybean. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.55, e01836, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-3921.pab2020.v55.01836

SOSA-GÓMEZ, D.R. et al. Manual de identificação de insetos e outros invertebrados da cultura da soja. Embrapa Soja-Documentos (INFOTECA-E), 2014.

SUEKANE, R. et al. Damage level of the two-spotted spider mite Tetranychus urticae Koch (Acari: Tetranychidae) in soybeans. Revista Ceres, v. 59, n. 1, p. 77-81, 2012.

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