Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário 

Soja é uma das commodities relevantes nesse contexto

Após uma trégua de meses, a tensão tarifária entre Estados Unidos e China teve novos desdobramentos na semana passada. Com restrições anunciadas pelo governo de Pequim na exportação de minerais críticos para cadeias produtivas de tecnologia, o presidente Donald Trump decidiu, na última sexta-feira (10 de setembro), impor 100% de taxação a mercadorias chinesas. Isso se soma à alíquota de 30% já existente após várias rodadas de negociações. O novo percentual entra em vigor a partir de 1 de novembro, elevando a barreira tarifária americana a 130%.

O Brasil também é atingido pelo tarifaço de Trump, com alíquota de 50% já vigorando há dois meses. Passado o impacto inicial, que marcou o ponto mais tenso numa relação comercial e diplomática de dois séculos, números consolidados mostram que diversos segmentos do agronegócio brasileiro assimilaram a nova realidade e conseguiram realocar os embarques inicialmente destinados aos Estados Unidos, como o Portal SNA vem mostrando desde início. Agora, a escalada tarifária entre americanos e chineses pode beneficiar a cadeia produtiva nacional, que já tem sólida e longeva parceria com o país asiático.

Isso porque a soja, da qual o Brasil é o maior produtor e exportador mundial, virou peça chave no complexo tabuleiro geopolítico e econômico do comércio internacional. Os chineses, que já adquiriam enorme volume da oleaginosa brasileira, passaram a aumentar suas compras, pressionando assim produtores americanos, outrora seus principais fornecedores. O governo Trump reconheceu o problema e aceitou negociar uma redução mútua e gradual de tarifas. Mas com o anúncio recente, novas retaliações de Pequim podem estar a caminho, incluindo a maior diversificação de seus fornecedores, especialmente no setor agropecuário.

Momento oportuno e convergência estratégica de fatores

Federação de Fazendeiros dos Estados Unidos informou que, entre junho e agosto, os EUA quase não venderam grãos para a China, enquanto o Brasil bateu recordes de exportação no mesmo período. Em setembro, a Associação Americana de Soja cobrou o governo Trump por um acordo de comércio com a China e também apontou Brasil e Argentina como substitutos do produto norte-americano para os asiáticos. Dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) confirmam as preocupações do setor. Em um relatório divulgado em 26 de setembro, o departamento destaca que a China comprou do Brasil mais de 10 milhões de tonelada da soja, por mês, e bateu recordes de importação do grão brasileiro.

Além das exportações, o Brasil pode se beneficiar também pelo lado das importações: com maiores barreiras ao mercado dos EUA, os chineses devem buscar novos destinos mais atrativos para escoar a produção. Mas os números da soja impressionam: de acordo com o Ministério da Agricultura, a China já é o destino de mais de 70% dos embarques brasileiros do produto. O país asiático também  assumiu o primeiro lugar nas compras de carne bovina brasileira, conforme mostrou o Portal SNA em reportagem recente. Isso tem grande importância, pois era um segmento dos mais impactados pelo tarifaço no início, mas mostrou resiliência e soube realocar suas vendas.

O momento também exige cautela, pois guerras comerciais dessa natureza provocam instabilidade, cotações oscilantes e repercussões inflacionárias repentinas. Os governos de Washington e Pequim, por ora afastados, podem se reaproximar, e o Brasil não deve ficar à mercê dessa dinâmica. Justamente isso, a conversa entre os presidentes Donald Trump e Lula, noticiada na semana passada, foi recebida com otimismo e alívio. As partes sinalizaram que o diálogo marcou um ponto de inflexão após meses de atritos, que incluíram também sanções a autoridades do governo federal e do judiciário brasileiro.

O setor agropecuário nacional, além de outras cadeias produtivas, aguardam por novas tratativas que possam reaproximar os dois países e seus negócios.

Com informações complementares do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC)

Fonte: SNA



 

FONTE

Autor:Marcelo Sá - Sociedade Nacional de Agricultura

Site: SNA

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