Quando falamos em pragas emergentes logo pensamos em insetos oriundos de diferentes regiões migrando para a cultura da soja, contudo este não é o caso do idi-amim (Lagria villosa F.). Inseto endêmico, este organismo é capaz de causar danos diretos e indiretos na produtividade da soja, nota-se que nas últimas safras seu comportamento vem alterando-se, antes considerado um inseto associado a palhada no sistema plantio direto, esta espécie aprendeu a alimentar-se da cultura da soja e seus danos podem ser expressivos quando não há o manejo adequado.
Durante todo o desenvolvimento da cultura, L. villosa está presente, contudo não parece ser contabilizado como inseto prejudicial por produtores e técnicos. Há algumas safras temos observado uma capacidade de dano capaz de causar desde a diminuição de área fotossintética, comprometimento do stand da lavoura e danos diretos a vagens e grãos durante o período reprodutivo, tudo isso dependente da época de ocorrência na cultura.
Como já descrito, L. villosa é considerado um inseto necrófago, mesmo alimentando-se de soja, este inseto não deixou esta classificação, o que ocorre na verdade foi o aprendizado deste inseto a “matar” partes da planta para posterior alimentação (Figura 1).
Figura 1. Lagria villosa danificando planta de soja para posterior alimentação. Imagem: Eduardo Engel
Após a injúria causada pela interrupção do fluxo de seiva ocorre a morte da estrutura danificada e desta maneira L. villosa passa a se alimentar de material morto “fresco” com maior número de nutrientes disponíveis e menor nível de impurezas presentes no alimento (Figura 2).
Figura 2. Estrutura vegetal morta em função do dano causado por L. villosa. Imagem: Eduardo Engel.
Alguns trabalhos foram realizados na década de 80, onde foi verificado a ocorrência de surtos populacionais deste inseto em lavouras de soja. Nesta época foi observado redução de até 4% por danos diretos provenientes da alimentação e de 10% em função de danos indiretos provenientes da indeiscência ocasionada pela injúria em vagens de soja. Para lavouras dedicadas a produção de sementes, os danos ocasionados levaram a uma rejeição de até 8% da produção em função da má qualidade das sementes, uma vez que ficaram expostas pela abertura da vagem (Link et al., 1981).
Diante disso, devemos ficar atentos quanto as populações deste inseto em lavouras comerciais, principalmente em um período de novas tecnologias surgindo no setor de sementes, novas cultivares com menor área foliar tendem a ter um menor poder compensatório quando ocorrem injúrias por insetos-pragas. Vale destacar também o crescimento populacional que este inseto vem apresentando para região norte do Rio Grande do Sul, podendo indicar uma menor sensibilidade aos métodos de controle empregados indiretamente nas áreas.
Autores:
Eduardo Engel – Laboratório de Entomologia da Universidade de Cruz Alta/ Grupo de Pesquisa em Fitotecnia – UNICRUZ.
Mauricio P. B. Pasini – Eng. Agr. Dr. e Coordenador do Laboratório de Entomologia e da Área Experimental da Universidade de Cruz Alta/ Grupo de Pesquisa em Fitotecnia – UNICRUZ. Consultor e pesquisador na INTAGRO Pesquisa e Desenvolvimento.
O Grupo de Pesquisa em Fitotecnia liderado pelos Professores Dr. Mauricio P. B. Pasini e Msc. José Luiz Tragnago trabalha com temas como: bioclimatologia e ecofisiologia dos cultivos agrícolas, fitossanidade, irrigação e drenagem e manejo de cultivos agrícolas. Você pode conferir os trabalhos realizados clicando aqui.
Referências
Dionísio Link et al. Ocorrência de Lagria villosa (Fabricius, 1873) (Coleoptera: Lagriidae) causando prejuízos em soja. Rev. Centro de Ciências Rurais, 11(4): 267-268, 1981.
As informações disponibilizadas, possibilitaram adotar manejos específicos. Parabéns estudantes e pesquisadores.
Caros autores do artigo ‘Nova “velha conhecida”: Lagria villosa e seus danos em soja’ gostaria de saber a referência de onde saiu a informação de que L. villosa é endêmico? Endêmico de onde? Obrigado.