A Embrapa, em parceria com a Fundação Cerrados e a Fundação Bahia, lançou, no dia 15 de maio, durante a Agrobrasília 2019, duas cultivares de soja de alto potencial produtivo e com resistência a nematoides de galha (BRS 7481) e ao nematoide do cisto (BRS 7581RR). As cultivares têm ciclo precoce e são adaptadas a regiões produtoras do Brasil Central. Participaram do lançamento pesquisadores, técnicos e produtores.
O secretário de Inovação e Negócios da Embrapa, Sebastião Pedro Neto, representou o presidente da Empresa, Sebastião Barbosa, no evento. Ele salientou o caráter estratégico da parceria com as duas fundações no desenvolvimento das cultivares de soja. “O trabalho de produção da semente básica é o elo entre a pesquisa e o mercado. Nos esforçamos para manter essa parceria, que é estratégica para o Brasil. O que selecionamos aqui no coração do Cerrado serve para todo o Bioma”, afirmou, citando o exemplo da cultivar BRS 8381, selecionada na Embrapa Cerrados (RR) e que atualmente representa 80% da soja plantada no Cerrado de Roraima.
A Embrapa tem o maior banco de germoplasma de soja tropical do mundo, e o programa de melhoramento genético da Empresa mantém ensaios de seleção de cultivares em todos os pontos de produção do Bioma Cerrado. “Isso representa andar por praticamente metade do território brasileiro e por 60% da área de produção do País. É uma atividade custosa, que envolve cerca de 500 profissionais da Embrapa. Realizar esse trabalho e disponibilizar as cultivares ao mercado só é possível com as parcerias”, disse o secretário.
Neto, ao falar sobre a cultivar BRS 7481, lembrou que os custos de produção de grãos estão cada vez mais altos, os preços estão estabilizados e a rentabilidade cada vez menor. “Conseguimos trazer um material convencional que permite ao agricultor trabalhar numa linha alternativa (soja livre de transgenia), capturando prêmios, manejando nematoides e não pagando royalties. É um dinheiro que fica aqui”, frisou.
Sobre a BRS 7581RR, ele pontuou que o produtor já não paga royalties por um evento de transgenia que ainda funciona (resistência ao herbicida glifosato). “Isso dá ao agricultor alternativas de sustentabilidade, principalmente em termos de custo. E apesar do custo menor, esses materiais têm valor genético”, observou. Neto também comentou o caráter “quase participativo” do programa de melhoramento genético de soja da Embrapa: “Ao fazermos os testes nas fazendas dos produtores parceiros, eles nos ajudam a definir os materiais. Com este lançamento, estamos cumprindo parte da nossa missão, entregando soluções tecnológicas, no caso, cultivares de soja”, finalizou.
O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Claudio Karia, destacou o impacto do uso da tecnologia na produção agropecuária brasileira, citando trabalho do pesquisador Eliseu Alves que aponta que o fator tecnológico é o insumo que contribui com cerca de 67% no aumento da produção no setor. Ele destacou que a gestão das propriedades precisa saber escolher as tecnologias certas a serem adotadas para garantir lucratividade ao negócio. “É importante não só ter a informação, mas também estudar quais são as tecnologias adequadas”, disse.
Ao comentar sobre os lançamentos, Karia lembrou que as tecnologias desenvolvidas pela Embrapa são diferenciadas, pensando no encaixe aos sistemas de produção, assegurando-lhes mais sustentabilidade. “Estamos lançando duas cultivares que podem se encaixar muito bem aos sistemas dos produtore, um material RR resistente ao nematoide do cisto e um material convencional, resistente aos nematoides de galha, pensando nos mercados de soja livre”, afirmou, pedindo aos presentes que reflitam sobre as tecnologias que devem ser adotas para aumentar a lucratividade nas fazendas.
O presidente da COOPA-DF, José Guilherme Brenner, lembrou-se dos dias de campo promovidos pela Embrapa de que participou, considerados importantes para sua formação como produtor. Também destacou o retorno à sociedade proporcionado pela Embrapa, citando o número do Balanço Social 2018 da Empresa – cada real investido gerou R$ 12,16 para o País. “Temos muito orgulho da Embrapa e da nossa agricultura. Ela tem um banco de germoplasma tropical dos mais completos e tenho certeza de que ainda terá muito sucesso”, declarou.
Luiz Fiorese, presidente da Fundação Cerrados, destacou a contribuição da Embrapa para o desenvolvimento da região Centro-Oeste. “Não tem como medir o que a Empresa trouxe de desenvolvimento humano para a região”, disse, parabenizando as equipes. Fiorese salientou o caráter estratégico da localização de unidades como a Embrapa Cerrados no centro do Bioma Cerrado: “Por estarmos aqui, o que for bem feito vai ter sucesso. A Embrapa está do nosso lado, resolveu o problema do cancro da haste (doença fúngica que acomete a soja), por exemplo. E temos cultivares convencionais, que outras empresas não querem desenvolver”.
O gestor executivo da Fundação Bahia, Nilson Vicente, defendeu o aporte cada vez maior de recursos para o programa de melhoramento genético de soja. Ele relatou um levantamento realizado nos últimos três anos no Oeste da Bahia em que foi detectado o avanço dos nematoides de galha e do nematoide do cisto na região. “A importância (da parceria) é justamente de poder ofertar ao nosso mercado materiais não apenas tolerantes, mas também resistentes aos nematoides para que o produtor tenha mais sustentabilidade na soja convencional e na transgênica”, comentou, acrescentando que o produtor da Bahia vem tentando se recapitalizar após as últimas safras. “A cobrança dos produtores é muito grande, mas os materiais estão chegando para atender às demandas que vêm do campo”, finalizou.
Características
O pesquisador André Ferreira, da Embrapa Cerrados, apresentou as características das novas cultivares. “São tecnologias que primeiro trazem produtividade, depois as demais características. Estamos preocupados com os problemas enfrentados pelos produtores ao longo da safra e com a entrega de materiais que garantam a sustentabilidade”, disse.
Ele lembrou que a Empresa se preocupa com a relação direta com os parceiros e produtores, que trazem as demandas do setor produtivo. “Existe uma via de mão dupla, em que técnicos e produtores estão envolvidos no processo, gerando conhecimento”, afirmou.
Desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Fundação Cerrados e a Fundação Bahia, a cultivar BRS 7481 atende ao nicho de mercado de soja convencional. Tem tipo de crescimento indeterminado, porte ereto e resistência ao acamamento.
O material precoce (grupo de maturação 7.4) para a região de indicação (ciclo médio de 100 a 110 dias) agrega produtividade e resistência aos dois nematoides de galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica). Pode ser usado no sistema produtivo com sucessão de culturas em regiões cujos solos têm histórico de problemas com esses nematoides.
A população de plantas recomendada é de 220 mil a 260 mil plantas/ha. A produtividade alcançou 80sc/ha em uma propriedade do município de Guarda-Mor (MG). Por ser uma cultivar convencional, pode receber prêmios no preço de comercialização dos grãos nos mercados de Soja Livre. A cultivar é indicada para as regiões edafoclimáticas de adaptação REC 301 (GO e MS), REC 304 (DF e GO), REC 401 (GO e MT) e REC 402 (MT).
Para Eduardo Vaz, coordenador administrativo do Instituto Soja Livre, também parceiro da Embrapa, lembrou que os custos com a soja convencional pode ser até 4% maior, mas os prêmios já chegaram a US$ 5 por saca. “A cultivar com certeza é promissora no Mato Grosso, uma vez que os materiais testados aqui costumam ir bem lá”, apostou, acrescentando que a área plantada com materiais convencionais no Estado representa 1 milhão de hectares ou 11% do total plantado com soja.
As sementes estão disponíveis nas revendas das empresas licenciadas das fundações – acesse: http://fundacaocerrados.com.br/licenciados/ e http://fundacaoba.com.br/cultivares-de-soja/.
Já a BRS 7581RR, desenvolvida em parceria com a Fundação Cerrados, é uma planta de arquitetura moderna e porte ereto, com hábito de crescimento indeterminado e precocidade (grupo de maturação 7.5), com ciclo médio de 85 a 117 dias. Tem resistência a quatro raças (1, 3, 5 e 14) do nematoide do cisto (Heterodera glycines), sendo indicada para uso em sistemas produtivos com sucessão de culturas em áreas contaminadas ou com risco de entrada do patógeno. Além disso, viabiliza a segunda safra. É uma cultivar RR que pode ser plantada como refúgio para cultivares com a tecnologia Intacta e ciclo semelhante.
Segundo André Ferreira, foram relatados elevados tetos produtivos, acima de 70 sc/ha. Na competição de cultivares da Agrobrasília da última safra, a cultivar alcançou produtividade de 72 sc/ha. A população de plantas recomendada é de 220 mil a 260 mil plantas/ha. A cultivar é indicada para as regiões edafoclimáticas de adaptação REC 301 (GO e MS), REC 303 (GO e MG), REC 304 (GO e MT), REC 401 (GO e MT) e REC 402 (MT).
As sementes são comercializadas pela empresas licenciadas da Fundação Cerrados.