A classificação comercial desempenha um papel essencial para avaliar a aptidão tecnológica das cultivares de trigo em diferentes regiões homogêneas de adaptação. Entretanto, é importante ressaltar que essa classificação pode não garantir de forma absoluta que um lote comercial específico será classificado da mesma forma. O desempenho desse lote está sujeito a uma série de variáveis, incluindo as condições climáticas, características do solo, tratos culturais, processos de secagem e armazenamento, essas variáveis podem influenciar sua qualidade final (Cunha & Caierão, 2023).

Na comercialização do trigo, dois fatores fundamentais são levados em consideração: o peso e a qualidade dos grãos. A qualidade dos grãos é quantificada pelo peso do hectolitro (PH). O preço mínimo do trigo, estipulado anualmente pelo Governo Federal, é baseado em um padrão de PH igual a 78 kg (PH padrão). Esse preço pode ser ajustado para cima ou para baixo, dependendo do PH ser maior ou menor que 78 kg, resultando em um acréscimo ou decréscimo percentual no valor final (Ignaczak & Andrade, 1982).

O peso hectolitro (PH) do trigo é uma medida que representa a massa de cem litros de trigo, expressa em quilogramas. Essa medida tradicional é amplamente utilizada em vários países como uma referência fundamental para a comercialização de trigo, e ela indiretamente reflete atributos importantes de qualidade dos grãos, especialmente aqueles relacionados ao processo de moagem. A determinação do peso hectolitro envolve a avaliação de várias características do grão, tais como a sua forma, textura do tegumento, tamanho, peso e características externas, como a presença de palha, terra e outras impurezas (Gandini & Ortiz).

O tipo de trigo pode ser categorizado em três classificações principais: Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3. Essa categorização é baseada em critérios que incluem o peso do hectolitro, limites máximos de questões estranhas e impurezas, bem como a tolerância a defeitos, que engloba grãos danificados pelo calor, mofados e ardidos, grãos danificados por insetos, e grãos chochos, triguilhos e quebrados. Além dessas categorias, o trigo também pode ser classificado como “Fora de Tipo” e “Desclassificado”, dependendo de como atender ou não aos padrões estabelecidos em relação a esses critérios (Guarienti et al., 2022). A seguir, podemos observar a tipificação do trigo do grupo II (destinado à moagem e outras finalidades).

Figura 1. Tipificação do trigo do Grupo II, destinado à moagem e a outras finalidades.

Fonte: Cunha & Caierão (2023).

De acordo com Miranda et al. (2009), o peso hectolitro (PH) do trigo é influenciado por uma série de fatores, incluindo a uniformidade, forma, densidade e tamanho dos grãos, bem como o teor de materiais estranhos e grãos quebrados presentes na amostra. Além de sua importância nas negociações, o PH também desempenha um papel fundamental como indicador de integridade e sanidade dos grãos.

Um estudo conduzido por Trindade et al. (2005), evidenciou que o peso hectolitro é influenciado por diversos fatores, incluindo o manejo da irrigação, a dose de nitrogênio aplicada e a escolha da cultivar utilizada. Os pesquisadores ressaltam a importância dessa variável, pois ela serve como parâmetro na comercialização de grãos. Na prática, os produtores costumam receber um valor menor por sua produção quando o peso hectolitro fica abaixo de 78 kg por hectolitro (kg hL-1).



Pesquisas realizadas por Almeida (2012), observou que a aplicação de Nitrogênio em estádios de desenvolvimento mais tardios da planta, como o emborrachamento ou florescimento, desempenhou uma papel importante para o aumento no peso do hectolitro, esse aumento impactou na qualidade do trigo, alterando a classificação do “Tipo 2” para “Tipo 1”. Foi constatado que os tratamentos que receberam uma aplicação adicional de nitrogênio por durante o estádios de emborrachamento ou de florescimento, independente da cultivar e ano de cultivo, apresentaram resultados superiores no peso do hectolitro em comparação com os tratamentos que não receberam nitrogênio durante esses estádios de desenvolvimento.

Figura 2. Peso do hectolitro das cultivares de trigo Quartzo e Mirante em função da aplicação de nitrogênio nos estádios de emborrachamento ou florescimento. Médias seguidas pela mesma letra, dentro de cada cultivar, não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de significância. Eldorado do Sul, RS.

Fonte: Almeida (2012).

A autora destaca que o aumento do peso do hectolitro, fornecido com a aplicação tardia de nitrogênio a partir do estádio de emborrachamento, pode estar relacionado à melhor formação do grão proporcionada pela sua maior massa, pois o peso do hectolitro não representa apenas a quantidade de reservas em relação às camadas externas do grão, mas também reflete a eficiência com que os compostos de amido e proteínas são acomodados nas células do endosperma.

O Peso Hectolitro (PH) do trigo, conforme destaca Guterres (2017), é uma característica que pode ser influenciada pelo manejo nutricional e, por sua vez, desempenhar um papel significativo na classificação comercial do trigo. Em média, em trabalhos demonstrativos avaliados em todo o Brasil, onde o PH foi medido, foi observado um aumento de 3,34% no PH, passando de 77,8 para 80,4. Isso ressalta a importância de um fornecimento nutricional adequado para a cultura, sendo uma estratégia para melhorar a qualidade do trigo e sua classificação no mercado comercial.


Veja mais:Dessecação em pré-colheita da cultura do trigo



Referências:

ALMEIDA, D. RENDIMENTO DE GRÃOS E QUALIDADE TECNOLÓGICA DE TRIGO COM APLICAÇÃO DE NITROGÊNIO NO EMBORRACHAMENTO OU FLORESCIMENTO. Dissertação (Mestrado) – Orientador: Christian Bredemeier. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Agronomia, Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, Porto Alegre – RS, 2012. Disponível em: < https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/142633/000875060.pdf?sequence=1 >, acesso em: 21/09/2023.

CUNHA, G. R.; CAIERÃO, E. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE SAFRA 2023. 15ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, Embrapa. Brasília – DF, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1153536/1/InformacoesTecnicasTrigoTriticale-Safra2023.pdf >, acesso em: 21/09/2023.

GANDINI, L.; ORTIZ, L. LABORATÓRIO DE QUALIDADE DE GRÃOS. Embrapa Trigo, Passo Fundo – RS. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do71_tc35-1.pdf >, acesso em: 21/09/2023.

GUARIENTI, E. M. et al. NORMAS DE CLASSIFICAÇÃO COMERCIAL DE TRIGO E DE FARINHA DE TRIGO NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA. Documentos 199, Embrapa Trigo. Passo Fundo – RS, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1143607/1/Documentos-199-online.pdf >, acesso em: 21/09/2023.

GUTERRES, D. MANEJO NUTRICIONAL INFLUENCIA A QUALIDADE DO TRIGO. Revista Cultivar, Trigo – Grandes Culturas, 2017. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/manejo-nutricional-influencia-a-qualidade-do-trigo >, acesso em: 21/09/2023.

IGNACZAK, J. C.; ANDRADE, D. F. CORREÇÃO DO RENDIMENTO DE GRÃOS DE TRIGO PELO PESO DO HECTOLITRO. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília – DF, 1982. Disponível em: < https://core.ac.uk/download/pdf/270170755.pdf >, acesso em: 21/09/2023.

MIRANDA, M. Z. et al. QUALIDADE COMERCIAL DO TRIGO BRASILEIRO: SAFRA 2006. Documentos online 112, Embrapa, 2009. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do112.pdf >, acesso em: 21/09/2023.

TRINDADE, M. G. et al. NITROGÊNIO E ÁGUA COMO FATORES DE PRODUTIVIDADE DO TRIGO NO CERRADO. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 10, n. 1, p. 24-29. Campina Grande – PB, 2006. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/5LscYrYssN69cDbLkWjzT3f/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 21/09/2023.

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