Hoje se sabe que o sorgo possui, além de traços estruturais e morfofisiológicos evolutivos que permitem aumentar a eficiência de uso da água, cópias extras de inúmeros genes associados com a adaptação à seca. Análise de transcriptoma em folhas de sorgo em resposta à desidratação e ao estresse osmótico revelou um aumento de 100 vezes na expressão do gene que codifica para expansinas, com efeito na extensibilidade da parede celular dessas folhas.
As expansinas são uma classe de proteínas de parede celular que mediam um aumento na flexibilidade da parede celular dependente de pH, provavelmente por quebrar pontes de hidrogênio entre a celulose e a matriz de glicanos. Tal aumento permite uma desidratação mais lenta de suas folhas, mantendo, assim, a integridade celular. Considerando-se o crescente número de evidências sobre a existência de coordenação entre traços da planta localizados abaixo e acima do solo, não seria descartada a possibilidade de aumento similar na expressão de genes que codificam para expansinas em raízes de sorgo em resposta à seca. O aumento na extensibilidade da parede celular nas zonas apical e subapical de raízes de sorgo sob deficit hídrico, com concomitante decréscimo no módulo de elasticidade e no coeficiente de viscosidade, ajudaria a explicar o pronunciado aumento no alongamento radicular, principalmente de raízes finas, em alguns genótipos de sorgo cultivados nessa condição.
Ressalta-se que apenas plantas com características conservativas de ambientes áridos apresentam melhoras na eficiência de captura de água por produzirem raízes muito finas.
Como o sorgo se posiciona em relação a outras culturas no tocante à eficiência do uso da água?
Quando comparado com outras culturas, o sorgo requer menos água para se desenvolver, ou seja, possui maior eficiência do uso da água, e o florescimento é o período mais crítico no que se refere à falta de água. Para ilustrar melhor essa afirmativa, a Tabela 1 apresenta
uma comparação do sorgo com várias outras culturas.
Tabela 1. Quantidade de água requerida por diversas espécies para produzir um quilo de massa seca.

Quais são os mecanismos utilizados pela planta de sorgo para conviver com a seca?
A resistência à seca é uma característica complexa, pois envolve simultaneamente aspectos de morfologia, fisiologia e bioquímica. A literatura cita três mecanismos relacionados à seca: resistência, tolerância e escape. O sorgo parece apresentar duas características: escape e tolerância. O escape ocorre por meio de um sistema radicular profundo e ramificado, o qual é eficiente na extração de água do solo. Já a tolerância está relacionada ao nível bioquímico. Sob estresse hídrico, a planta de sorgo diminui o metabolismo, murcha (hiberna) e tem o poder extraordinário de recuperação quando o estresse é interrompido.
Quais são os prejuízos advindos da falta de água nas três etapas de crescimento do sorgo?
Quando acontece no estádio EC1, o deficit hídrico provoca menos danos à planta do que em EC2, estádio no qual a escassez de água vai resultar na redução das taxas de crescimento da panícula e das folhas e no número de sementes por panícula. Esses efeitos se devem provavelmente aos seguintes fatores: redução na área foliar, resistência estomática aumentada, fotossíntese diminuída e desorganização do estado hormonal da panícula em diferenciação. Quando a falta de água acontece no EC3, o resultado é a senescência rápida das folhas inferiores, comconsequente redução no rendimento de grãos.
Fonte: Coleção 500 perguntas e 500 repostas Embrapa.
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