A lagarta Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) é uma praga de ampla distribuição geográfica, encontrada em diferentes continentes, incluindo Europa, Ásia, África, Austrália e Oceania. De acordo com Czepak (2013), até o ano de 2013, essa praga era considerada uma ameaça quarentenária no Brasil. No entanto, ocorreram surtos populacionais em várias regiões agrícolas do país, marcando a sua presença. A notificação desses surtos ocorreu em estados como Goiás, onde afetou a cultura da soja, Bahia, em plantações de tiguera de soja, e Mato Grosso, na cultura do algodoeiro.

Figura 1. Lagarta Helicoverpa armígera.

Foto: Araújo (2014).

Oliveira et al. (2020), afirmam que a H. armígera é um inseto de difícil controle, em função das suas características biológicas e comportamentais. Além disso, possui ciclo de vida curto, elevada capacidade de dispersão, adaptação a diferentes condições climáticas, se alimenta de diversas plantas e de diferentes partes das plantas, como cotilédones, brotos, folhas, grãos e vagens. Além disso, apresentam alto poder reprodutivo, sendo que cada fêmea tem a capacidade de ovipositar de 1.000 a 1.500 ovos, sempre de forma isolada, sobre talos, flores, frutos e folhas, preferencialmente no período noturno (Czepak et al. (2013).

De acordo com Fragoso (2014), a fase de lagarta passa por seis estágios de desenvolvimento, conhecidos como instares, cada instar é marcado por uma muda de pele da lagarta, permitindo que ela cresça e se desenvolva. Inicialmente, a lagarta pode medir apenas alguns milímetros de comprimento, mas à medida que passa pelos estágios de desenvolvimento, pode atingir até 4 cm de comprimento. A lagarta apresenta variação de cor verde clara, amarelada até tons mais escuros (preta).  Após completar o desenvolvimento como lagarta, ela entra na fase de pupa. Durante essa transição, a lagarta penetra no solo a uma profundidade de aproximadamente 10 cm. Lá, ela constrói uma galeria ou um casulo para se proteger durante a metamorfose. Dentro desse casulo, a lagarta passa por uma série de mudanças internas, transformando-se em uma pupa. O adulto da lagarta é uma mariposa com 30 a 40 mm de envergadura, suas asas anteriores possuem coloração amarelo-parda, uma faixa transversal mais escura, apresentando também manchas escuras dispersas sobre as asas. Já as asas posteriores são mais claras, com uma faixa nas bordas externas.

Figura 2. Mariposa de Helicoverpa armígera.

Mariposa de H. armigera

Sosa-Gómez et al. (2014), afirmam que a H. armígera pode afetar a cultura da soja tanto na fase vegetativa quanto na fase reprodutiva. Durante a fase vegetativa da soja, as lagartas podem atacar plântulas causando desfolha e danos aos brotos apicais e cotilédones, elas raspam e perfuram essas estruturas, comprometendo o crescimento e desenvolvimento saudável das plantas. Já na fase reprodutiva da soja, as lagartas atacam as vagens, alimentando-se dos grãos, levando a perdas de produtividade, além de afetar a qualidade dos grãos produzidos.  A lagarta Helicoverpa armígera causa danos severos às plântulas de soja, consumindo folhas unifolioladas, cotilédones e haste, incluindo repercussão em diminuição ou qualidade do estande de plantas (Guazina et al., 2018).

Figura 3. Danos causados pela lagarta Helicoverpa armígera na cultura da soja.

Pesquisas realizadas por Pessoa et al. (2019), observaram que o dano de uma lagarta pequena de H. armígera no período vegetativo da soja foi de 2,01 sacas de 60 Kg ha -1, equivalente a 2,16% de perda da produtividade média. Determinando que a partir desse dano, o nível de dano econômico de 2,6 lagartas pequenas por metro quadrado e o nível de controle de 2,2 lagartas pequenas por metro quadrado.

Estudos realizados por Stacke et al. (2018), quando analisado o rendimento da soja submetida ao ataque de H. armigera em estágio R2 (florescimento pleno), houve taxa comum de perda de produção de semente de 7,7 g lagarta-1. Já no estágio R5.1 (início do enchimento de grãos), a taxa de perda de rendimento foi de 10,6 g lagarta-1. Observou-se ainda uma menor perda no estágio R2, que pode ser explicada pela capacidade compensatória das plantas de soja. Entretanto, em ambas as fases de crescimento da cultura, observou-se perdas no número total de vagens e sementes por vagens com o aumento da densidade de lagartas presentes, demonstrando que infestações relativamente baixas podem causar reduções significativas na produtividade de soja.



Torna-se, portanto, evidente a relevância do monitoramento constante e criterioso da presença de lagartas nas lavouras, bem como a identificação correta, também é importante a implementação de métodos de controle eficazes e alternativos ao uso de inseticidas. É fundamental prevenir a ocorrência de infestações severas, tendo em vista a capacidade da Helicoverpa armigera em causar danos significativos, mesmo quando em baixa densidade populacional em plantações de soja.

Nesse sentido, um monitoramento eficiente faz-se necessário para identificar precocemente a presença e o nível de infestação das lagartas na lavoura. Isso permite tomar medidas adequadas de controle antes que a população atinja níveis críticos e cause danos irreversíveis às plantas. Investir em estratégias de manejo integrado de pragas, como o uso de tecnologia Bt, rotação de culturas, controle biológico, controle de plantas espontâneas que são hospedeiras e o uso armadilhas, pode ser altamente benéfico no controle das lagartas e na otimização do uso de inseticidas. Dessa forma, é possível garantir a proteção da lavoura contra os danos causados por essa praga, preservando a sustentabilidade e a produtividade do cultivo de soja.


Veja mais: Níveis de ação para as principais lagartas em soja, milho e algodão



Referências:

CZEPAK, C.; ALBERNAZ, K. C.; VÍVIAN, L. M.; GUIMARÃES, H. O.; CARVALHAIS, T. PRIMEIRO REGISTRO DE OCORRÊNCIA DE Helicoverpa armígera (Hübner) (Lepidoptera: Nectuidae) NO BRASIL. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 43, n. 1, p. 110-113, Goiânia, 2013. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pat/a/NhNkn3X9Xb3hGxdXZnSTsBP/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 18/07/2023.

FRAGOSO, D. B. Helicoverpa armígera: CONHECER PARA COMBATER! Fronteira Agrícola, informativo técnico n.1, Núcleo de Sistemas Agrícolas da Embrapa Pesca e Aquicultura, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/142354/1/CNPASA-2014-fa1.pdf >, acesso em: 17/07/2023.

GUAZINA, R. A.; DEGRANDE, P. E.; SOUZA, E. P.; GAUER, E. DANOS DA LAGARTA Helicoverpa armígera (HÜBNER, 1805) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) EM PLÂNTULAS DE SOJA. Revista de Ciências Agroveterinárias, 2018. Disponível em: < https://www.revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria/article/view/9416/pdf >, acesso em: 18/07/2023.

OLIVEIRA, A. C.; FARIA, L. S.; CARVALHO, F. J.; OLIVEIRA, J. V.; ANDALÓ, V. PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE Helicoverpa armígera A DIFERENTES CULTIVARES DE SOJA COM TECNOLOGIA BT.Scientia Plena, v.16, n.10, 2020. Disponível em: < https://scientiaplena.emnuvens.com.br/sp/article/view/5754/2333 >, acesso em: 18/07/2023.

PESSOA, M. C. P. Y.; ÁVILA, C. J.; MARINHO-PRADO, J. S.; LUCHINI, G. A.; SOUZA, E. C. S.; RICHETTI, A.; FLUMIGNAN, D. L. NÍVEL DE DANO DE Helicoverpa armígera EM FASE VEGETATIVA DE SOJA (SAFRA 2016/2017) EM PONTA PORÃ. Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna – SP, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1113824/1/DanoHelicoverpaPessoaBP852019.pdf >, acesso em: 18/07/2023.

SOSA-GOMES, D. R.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CORSO, I. C.; OLIVEIRA, L. J.; PANIZZI, A. R.; BUENO, A. F.; HIROSE, E.; ROGGIA, S. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE INSETOS E OUTROS INVERTEBRADOS DA CULTURA DA SOJA. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105924/1/Doc269-OL.pdf >, acesso em: 18/07/2023.

STACKE, R. F.; ARNEMANN, J. A.; ROGERS, J.; STACKE, R. S.; STRAHL, T. T.; PERINI, C. R.; DOSSIN, M. F.; POZEBON, H.; CAVALLIN, L. A.; GUEDES, J. V. C. AVALIAÇÃO DE DANOS DE Helicoverpa armigera (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) EM ESTÁDIOS REPRODUTIVOS DA SOJA. Proteção de Cultivos, v. 112, p. 10-17, 2018. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0261219418301236 >, acesso em: 17/07/2023.

Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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