Segundo a publicação da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em 2018, a “Balança Comercial Brasileira do Agronegócio” registrou superávit de US$ 87,6 bilhões. Expansão de 7% em relação ao ano anterior. Apesar desse desempenho do agronegócio garantir o resultado positivo na balança comercial total do Brasil, parece que o principal responsável por gerar tamanha riqueza continua com o saldo negativo na balança moral da sociedade brasileira.
No ano passado, quando o vencedor da eleição presidencial Jair Bolsonaro confirmou a fusão do Ministério do Meio Ambiente com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pipocaram comentários negativos que qualificaram a medida como aberração, programa antiecológico e por isso o presidente representava uma ameaça ao planeta. Um dos argumentos mais sensatos contra essa fusão veio justamente da bancada ruralista da Câmara dos Deputados: “(…) ao se juntar as duas pastas, o responsável pelo ministério teria que cuidar, além de questões do agronegócio, de problemas de lixo e esgoto das cidades, por exemplo”. Bolsonaro atendeu o pleito da Frente Parlamentar da Agricultura e voltou atrás na decisão.
Até o presidente decidir manter separadas as duas pastas, testemunhamos nas redes sociais e veículos de comunicação diversas acusações contra os produtores rurais brasileiros que estariam apenas interessados em desmatar e destruir o meio ambiente. A maior confirmação dessa imagem negativa foi a declaração “Por favor, permita que não retrocedamos décadas de lutas pelas florestas” da modelo e ativista ambiental Gisele Bündchen. Para quem não vive a realidade brasileira, parece que a expansão da produção agropecuária em propriedades rurais é desenfreada, realizada por irresponsáveis e que aqui não há leis.
Esses acontecimentos mostram a falta de esclarecimentos sobre o verdadeiro trabalho do agricultor brasileiro e a falta de propagação dos seus reais atributos. Ensinam nas escolas que a balança comercial do Brasil é prejudicada porque exportamos poucos produtos manufaturados (que possuem maior valor agregado e maior preço) e porque somos um país agrícola. Porém, no primeiro parágrafo desse artigo constatamos que é possível ser um grande produtor de alimentos e manter um saldo positivo na balança comercial. Afinal de contas podemos viver sem smartphones, mas não podemos viver sem alimentos.
Em marketing, existe um termo pouco divulgado chamado “Place Branding” que significa construir e potencializar a verdadeira imagem do que um país, cidade ou região realmente é, como deve ser percebido e sentido pelos públicos interno e externo por meio de uma estratégia única*. Exemplo disso, é o conceito de Marca-País ainda tratado de forma superficial como um logotipo aplicado em produtos e campanhas de incentivo ao turismo e à exportação. O Brasil tem a sua Marca-País e essa é uma estratégia que contribui para construção da sua reputação e transmissão de seus atributos para o mundo. O momento de pujança do agro brasileiro é propício para a construção da “Marca-Agricultor” e para a criação da cultura de valorização e respeito aos agricultores com base nas boas práticas agrícolas por eles adotadas.
O produtor rural brasileiro segue um dos mais rígidos códigos de leis de conservação do meio ambiente do mundo. O Código Florestal Brasileiro que possui importantes termos como Reserva Legal e APP, que traduzem o trabalho de preservação dos agropecuaristas. Em decorrência do Cadastro Ambiental Rural (CAR), exigência do Código Florestal, a Embrapa Territorial conduziu estudos sobre a utilização de 436,8 milhões de hectares cadastrados e concluiu que: até janeiro de 2018, o setor rural destina à preservação da vegetação nativa mais de 218 milhões de hectares, o equivalente a um quarto do território nacional. Em média, é como se cada propriedade rural tivesse a metade ocupada com áreas de preservação permanente, reserva legal e vegetação excedente. Isso precisa ser amplamente divulgado e ecoado em nossos lares.
Crimes de toda a natureza ocorrem na sociedade, mas é injusto imputar sobre um setor econômico o fardo de ser nocivo para o todo devido a ações de poucos. Além dessa imagem negativa formada para o agronegócio, adicionamos o preconceito do “Jeca Tatu” que contribui ainda mais para denegrir o agricultor brasileiro. A ausência nas diversas mídias do verdadeiro produtor rural, aquele que produz e preserva, contribuiu para que a sociedade construísse a imagem desse importante personagem com as poucas informações que chegavam por meio de obras literárias, filmes, novelas, reportagens, entre outros tipos de conteúdo. Mas o advento das mídias sociais tornou muito mais fácil perceber como o agricultor é visto pela sociedade de forma segmentada e isso pode ser usado a favor daqueles que trabalham para projetar a agricultura brasileira no mundo.
No início do mês de fevereiro, a Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação disponibilizou em seu site o livro infantil “O mistério do ribeirão vermelho” para download gratuito. O livro ilustrado conta uma parte do nascimento do Sistema Plantio Direto e seus benefícios para o meio ambiente. A criança curiosa que acessar esse conteúdo terá para toda a vida o conhecimento sobre o trabalho do agricultor brasileiro. Dessa forma, poderá ser um adulto conhecedor da agricultura conservacionista adotada pelos nossos agricultores e, quem sabe, será um defensor do homem do campo. Essa é apenas uma das iniciativas que podem contribuir para a construção da Marca-Agricultor no Brasil e assim, um dia, podermos chegar em uma cafeteria na França e fazer questão de tomar um cafezinho brasileiro por ser o melhor e mais sustentável que há.
*Fonte: Paulo Vischi, Diretor de Estratégia de Marca da Be Consulting
Disponível no: Portal da FEBRAPDP: Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigaçã