No dia 28 de julho, logo após a palestra de abertura do 17º Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha, que este ano acontece em Dourados, MS, terá início uma palestra especial: A visão do produtor sobre o impacto do SPD agricultura brasileira: Como começou, onde estamos e para onde vamos? Como o próprio tema já destaca, esta será eminentemente a visão que produtores têm a respeito do passado, presente e futuro do Sistema Plantio Direto no país. Trata-se de um ponto de vista privilegiado e muito dentro da realidade do dia a dia da propriedade, que permite entender a importância da técnica e de como hoje nos colocamos diante do horizonte dos próximos anos.
O produtor rural de Palmeiras, PR, Manoel Henrique Pereira Filho, filho de Nonô Pereira, um dos pioneiros do SPD no Brasil, vai falar sobre o contexto em que o sistema conservacionista foi criado e implementado nas condições brasileiras. Já o produtor José Eduardo Macedo Soares, mais conhecido por Zecão, de Lucas do Rio Verde, MT, abordará o momento presente e os desafios enfrentados em função das circunstâncias técnicas, econômicas e ambientais hoje vigentes. Fechando a palestra, o presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação – FEBRAPDP, Jônadan Ma, falará na condição de produtor rural com sua larga experiência à frente da Fazenda Boa Fé, em Conquista, MG.
Teimosia
“O plantio direto começou por uma questão de sobrevivência. Não havia mais como se continuar a produzir da forma como era feita a lavoura no plantio convencional naquela época. As principais razões eram as questões notórias de erosão e degradação do solo. Então os famosos dinossauros do Sistema Plantio Direto Herbert Bartz, Franke Dijkstra e Nonô Pereira (meu pai) foram iluminados. E, de uma maneira visionária, teimaram e desafiaram a tecnologia ultrapassada da época. Eles teimaram com a pesquisa, teimaram com o que se ensinava nas escolas de agronomia e foram teimando com esse sistema que eles, por experiência própria, descobriram ser a solução para aquela situação que viviam”, explica Manoel Filho.
Segundo ele, no início, o objetivo era tão somente controlar a erosão, depois foram observando as sucessivas vantagens que o novo modelo de produção trazia. Uma lista interminável de benefícios que se sustentam até os dias. “É até difícil citar todas as vantagens do Sistema Plantio Direto, mas destaco além da questão do controle da erosão, a diminuição de uso de químicos, a economia de combustível, a economia de HP por hectare, a menor emissão de CO², o sequestro de carbono e por aí vai”.
Ele prossegue: “nós dizemos hoje que a agricultura limpa está salvando o Brasil e o planeta. Antes do Sistema Plantio Direto, nosso país produzia 50 milhões de toneladas/ano, hoje produz 220 milhões de toneladas de grãos. O sistema é um divisor de águas nessa evolução. Novas tecnologias vieram de arrasto com o Plantio Direto: novas moléculas de químicos menos maléficas ao meio ambiente e ao ser humano, aumento da produtividade, a genética… Hoje o Brasil tem a maior área de agricultura limpa. E a agricultura mais saudável do planeta é feita dentro do Sistema Plantio Direto. Fazemos o melhor Plantio Direto do mundo e somos um exemplo a ser seguido pelos outros países. Não há nada que se condenar na agricultura brasileira porque o SPD já é uma agricultura biológica. Esperamos pela inovação tecnológica, com novos produtos e novas moléculas de químicos para que, um dia possamos até de usá-los em nossa atividade”, destaca o produtor de Palmeiras.
Encruzilhada
Engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso desde o início da década de 1980, onde produz soja, Zecão é um observador atento da trajetória técnico-produtiva do SPD. “Pude observar que as metodologias de produção foram se alterando conforme o tempo. No início, era um preparo de solo convencional só a soja depois começou o cultivo mínimo com milheto e depois a introdução do milho safrinha. Hoje o que vemos aqui no Brasil Central, são propriedades há mais de 20 anos fazendo a monocultura da soja com milho safrinha ou algodão em sucessão. Isso acontece mais pela praticidade operacional e por uma percepção equivocada da diminuição de custos através do cultivo mínimo, do que pela compreensão de quais são as vantagens efetivas do uso do Plantio Direto verdadeiro”.
Para ele, isso tem causado a estagnação da produtividade da soja na região. Muitos problemas relacionados a doenças de solo como fusariose, nematoide, entre outros, e problema de compactação do solo surgem em decorrência. “Observo que estamos numa encruzilhada. Neste momento, vários produtores estão sendo chamados a compreender melhor o sistema da produção de grãos na região tropical, com clima e solos tropicais específicos. Isso diz respeito diretamente à necessidade de implantação do Sistema Plantio Direto mais bem feito”, explicita.
Em sua fala, Zecão tratará sobre os resultados efetivos que obtém através de práticas que ele mesmo enumera como sendo decisivas para o futuro da agricultura no Brasil Central, dentre as quais, ele cita: aporte de massa verde, maior aporte de matéria orgânica, maior diversidade de plantas e raízes visando uma rotação de cultura, consórcio de plantas e culturas entre as janelas, entre outras.
Agricultura regenerativa
Como produtor rural e tendo por base o que já vivenciou e o que vivencia hoje, Jônadan Ma, vê uma mudança de perspectiva muito interessante no futuro do Sistema Plantio Direto no Brasil. Para ele, o SPD deverá mudar ser alçado ao status de agricultura regenerativa, no qual o sistema trabalha para efetivamente regenerar, e não apenas para conservar, o solo em condições o mais perto possível das originais.
“Trataremos então da questão do equilíbrio entre os aspectos físicos, químicos e, é claro, biológico. Isso tem relação com a evolução das chamadas cash crops (cultivares economicamente mais atraentes), como plantas para o sistema de cobertura. Que é o que realmente vai nos garantir não apenas a palha, não apenas a proteção do solo, mas principalmente restaurar todo o equilíbrio biológico do solo com reciclagem de nutrientes, controle de doenças e pragas e ainda redução de compactação. A produção de sementes específicas para espécies de planta cobertura ainda é muito amadora. Ainda faltam empresas mais especializadas nessa área”, ressalta.
Ma abordará ainda sobre a crescente tecnificação do produtor usuário de Sistema Plantio Direto no futuro, que será forçado a deixar muito do empirismo de lado para conseguir produzir mais e gastar menos. Ao mesmo tempo em que será chamado a se tornar mais rentável, o produtor devolverá mais para a natureza e para a sociedade. Além disso, ele falará também da necessidade de uma integração maior com os fabricantes de máquinas e equipamentos, fertilizantes, nutrientes, defensivos e de sementes.
“Não se pode viver uma agricultura que se diz e que precisa ser integrada se não houver uma um conceito econômico por trás fomentando essa integração. Todos têm o mesmo objetivo de gerar emprego, renda, agricultura sustentável, mas nós temos ainda muitos segmentos atuando de maneira muito isolada, faltando conversar um com o outro de maneira mais próxima e não colocar apenas de maneira impositiva, mas customizar muito mais as demandas dos clientes que são os produtores e também customizando a demanda dos consumidores que o nosso público final.
“O Sistema Plantio Direto não será mais percebido meramente como uma tecnologia. Será entendido como conceito, como sistema de produção que será reconhecido pela sociedade, que será reconhecido pelo sistema econômico, será reconhecido por todos os componentes da cadeia econômica, fazendo com que os produtores que nela atuam, principalmente, no setor primário, sejam reconhecidos e remunerados pelo seu sistema de produção ambiental e verdadeiramente sustentável”, diz Ma.
O 17º Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha acontece entre os dias 28 e 30 de julho, em Dourados, MS, para saber de todos os detalhes, acesso o site do evento: https://febrapdp.org.br/17enpdp/
Fonte: FEBRAPDP – Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação