A safra de inverno se aproxima do fim no sul do Brasil, mas certas espécies de pragas permanecem nas lavouras à espera das culturas de verão. É o caso dos percevejos barriga-verde, insetos sugadores considerados pragas de sistema e com alto potencial de dano nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho. No Brasil, ocorrem duas espécies: Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus, que se diferenciam pelo tamanho e pelo aspecto dos espinhos pronotais.
Apesar das diferenças morfológicas, ambas as espécies causam danos semelhantes nas plantas de milho, introduzindo o aparelho bucal (estiletes) no tecido vegetal para retirar a seiva necessária à sua nutrição.
Simultaneamente, injetam saliva contendo enzimas digestivas e toxinas, que liquefazem o conteúdo celular para permitir sua ingestão. Como resultado, as plantas de milho adquirem um aspecto popularmente chamado de encharutamento ou enrosetamento. Caso o estilete atinja o ponto de crescimento, pode ocorrer perfilhamento e, em casos mais severos, morte de plantas.
Figura 1. Diferenças morfológicas entre Diceraeus furcatus (A) e Diceraeus melacanthus (B), anteriormente denominados Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus, respectivamente.
Devido ao hábito de permanecerem sob a palhada, os percevejos atacam as plântulas de milho na região do caulículo, causando pequenas perfurações. À medida que o milho cresce e as folhas se expandem, a lesão aumenta, formando áreas necrosadas no sentido transversal da folha.
As populações de percevejo barriga-verde também podem se abrigar em plantas daninhas e torrões após a colheita da cultura antecessora. Por isso, em áreas com histórico de ocorrência da praga, recomenda-se associar inseticidas de forma preventiva ao herbicida utilizado na dessecação.
Em locais onde se realiza o cultivo de milho safrinha, como na região Centro-Oeste do país, o correto manejo dos percevejos barriga-verde está vinculado ao controle eficaz na cultura da soja, onde atua como praga secundária.
Nesse sentido, aplicações de inseticidas no final do ciclo da soja, além de garantirem melhor qualidade de grãos, reduzem a pressão de percevejos para as culturas subsequentes. Ressalta-se que as aplicações devem sempre basear-se no monitoramento da área, com vistorias realizadas preferencialmente nas primeiras horas da manhã, devido ao hábito deste percevejo de se abrigar durante as horas mais quentes do dia.
Figura 2. Perfurações transversais em folha de milho, indicativo de dano por percevejos.
O tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, como os neonicotinoides, representa uma boa alternativa de controle, por ser ecologicamente mais seletivo que as pulverizações em área total.
Entretanto, para ser controlado o percevejo precisa realizar a chamada picada de prova na planta, ingerindo certa quantidade de seiva contendo o ingrediente ativo do inseticida aplicado. Assim, em áreas densamente infestadas é possível que vários percevejos realizem a picada de prova na mesma planta antes de morrerem, aumentando a probabilidade de atingirem o ponto de crescimento e comprometerem a produção.
Portanto, em condições de alta infestação da praga, a utilização do tratamento de sementes como medida isolada pode resultar em falhas de controle. Nesses casos, recomenda-se complementar o manejo com aplicações de parte aérea, utilizando inseticidas que associem efeito de choque e ação sistêmica.
As misturas formuladas de piretroides + neonicotinoides disponíveis no mercado, como beta-ciflutrina + imidacloprido, lambda-cialotrina + tiametoxam e cipermetrina + tiametoxam, cumprem essa finalidade ao combinar diferentes modos de ação em um mesmo produto.
Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.
Referências:
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