Os percevejos são os insetos mais importantes para a cultura da soja devido aos danos expressivos que ocasionam.

São insetos que se alimentam diretamente dos grãos e podem inviabilizar as sementes, reduzir o vigor e provocar o aborto de vagens e grãos.

Na fase final do ciclo da soja, o monitoramento das lavouras pode evitar prejuízos se as espécies nocivas forem identificadas logo no início das infestações.

Saiba como manejar estes insetos com as informações do texto a seguir.

Alimentação e danos

Desde o início da fase de desenvolvimento dos percevejos, as ninfas já se alimentam e danificam as plantas.

Os danos ocasionados são diretos, provocados pela alimentação nas plantas, e indiretos, por provocarem distúrbios fisiológicos que retardam a maturação normal das plantas, além de serem porta de entrada para patógenos que causam doenças.

No ataque direto, estes insetos inserem seu aparelho bucal nas vagens e se alimentam dos grãos, que ficam menores, enrugados, chochos e com coloração mais escura. Os grãos atacados têm a germinação reduzida, bem como seu vigor, há diminuição do teor de óleo e ocorre o aborto de vagens e grãos.

Identificação das espécies de percevejos

Existe uma variedade de espécies de percevejos que pode ser citada pela sua ocorrência nos cultivos. Apesar disso, nem todos os insetos registrados nas lavouras representam um problema que requer uma medida de controle.

Há insetos que são de importância primária, como as principais espécies dos percevejos pragas, e há os de importância secundária, que ocorrem em número menor e não chegam a ser um problema.

Hoje falaremos sobre as principais espécies de percevejos, aqueles de importância primária, que você precisa saber identificar para realizar um controle adequado.

São três as espécies de maior importância para a cultura da soja: o percevejo-verde (Nezara viridula), o percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo-marrom (Euschistus heros).

Como pertencem à mesma família, todas estas espécies são semelhantes quando ao ciclo de desenvolvimento e hábito alimentar.

Adultos dos percevejos a) Euschistos heros; b) Nezara viridula; c) Piezodorus guildinii. (Fonte: Farmbox e Embrapa)

As fêmeas adultas dos percevejos colocam seus ovos agrupados, em posturas de até 100 ovos, número que varia de acordo com a espécie. Esta oviposição pode ser na face inferior das folhas (percevejo-verde), em ambos os lados das folhas (percevejo-pequeno), ou nas folhas e também nas vagens (percevejo marrom).

Ao eclodirem, as ninfas, que são os insetos na fase jovem dos percevejos, passam por cinco fases de crescimento ao longo de 15 a 20 dias, até se tornarem adultos. O ciclo de vida completo pode variar de 50 a 120 dias, dependendo das condições, o que permite que ocorram de três a seis gerações anuais de percevejos na lavoura.

Ovos de percevejo-marrom em vagem de soja (Fonte: Revista Campo & Negócios)

Logo que ocorre a emergência, as ninfas dos percevejos ficam agrupadas por alguns dias.  É a partir do segundo ou terceiro instar que elas começam a se dispersar e se alimentar das plantas, iniciando os danos.

Ninfas, ovos e adulto do percevejo verde pequeno (Fonte: Embrapa)

Ao longo de sua vida, as fêmeas podem colocar de 120 a 170 ovos. Agora pense neste ciclo se repetindo seis vezes, que é o número de gerações que pode ocorrer enquanto a soja está no campo. Os adultos acasalam, as fêmeas ovipositam até 170 ovos, desses ovos são gerados mais insetos, que acasalam e mais fêmeas colocam a mesma quantidade de ovos… são percevejos em quantidade suficiente para causar muitos danos nas plantas, não é mesmo?

Por esta razão o manejo deve ser realizado desde o momento em que os insetos começam a infestar as lavouras, conforme veremos a seguir.



Período crítico de ataque

Agora que você já sabe identificar as fases de desenvolvimento de um percevejo, irá usar estas informações para realizar o monitoramento dos insetos.

Há três momentos de atenção especial no monitoramento destas principais espécies: o período de colonização, o período de alerta e o período crítico.

No período de colonização, os percevejos começam a deixar os hospedeiros alternativos para infestarem a soja. Isso pode acontecer no final do estádio vegetativo ou nos estádios R1 a R2 da cultura.

A partir da colonização, a população de insetos começa a aumentar e você verá que as ninfas estão aparecendo. Isto acontece no momento em que as vagens estão se desenvolvendo. É o período de alerta.

Quando as vagens já estão no final de seu desenvolvimento e inicia a fase de enchimento de grãos é o período mais suscetível para o ataque de pragas. E este é justamente o momento em que o ataque começa a aumentar, é o período crítico, que ocorre até o final do enchimento dos grãos.

Após o período crítico, quando a soja amadurece, a população começa a diminuir. No entanto, os percevejos que sobrevivem se dispersam e colonizam os hospedeiros alternativos disponíveis, onde permanecem em diapausa (percevejo-marrom) ou até o início da próxima safra (percevejo verde e percevejo verde pequeno).

Amostragem e controle

Antes de entrar com uma medida de controle, você deve realizar a amostragem das pragas para quantificar os insetos e identificar o nível de infestação da área.

A amostragem da lavoura com o pano-de-batida deve ser realizada pelo menos uma vez por semana, desde o final do estádio vegetativo, período que diz respeito ao início da colonização dos insetos, até a maturação da soja.

Nestas amostragens devem ser registrados os percevejos adultos e as ninfas a partir de terceiro instar, as quais não estão mais agrupadas como aquelas que acabaram de emergir.

O nível de controle recomendado é quando o monitoramento registrar dois percevejos por pano-de-batida para lavouras de grãos, e um percevejo por pano-de-batida para lavouras de produção de sementes.

E quando o monitoramento indicar, há muitas tecnologias disponíveis para a cultura da soja que podem ser utilizadas como medidas de controle.

Neste cultivo, várias espécies de inimigos naturais são encontradas naturalmente, e muitas são parasitoides que atacam ovos dos percevejos. Estes parasitoides são encontrados naturalmente, mas também podem ser liberados no campo com produtos que contenham estes agentes de controle.

Entre as opções do mercado para controle biológico está o Podisibug®, da empresa Koppert. Neste produto, o parasitoide de ovos Telenomus podisi é comercializado na fase de pupa, e quando liberado no campo, controla os percevejos marrom, verde, verde-pequeno, além de outras espécies importantes como o percevejo barriga verde e o percevejo do colmo do arroz.

Telenomus podisi parasitando ovos de percevejo. (Fonte: Canal Rural)

O controle químico também é uma das ferramentas mais utilizadas para o manejo dos percevejos. Para uso desta tática, existem dezenas de produtos registrados para a cultura.

As diversas formulações compreendem produtos comerciais com os ingredientes ativos piretroide, neonicotinoide, organofosforado, fenilpirazol, éter difenilico, e outros.

Com todos estes produtos registrados você consegue fazer uma rotação de ingredientes adequada e controlar de forma eficiente os percevejos.

No artigo, enfatizamos as espécies mais danosas para as vagens e grãos, mas outras espécies de percevejos podem atacar a soja em menores populações. No entanto, mesmo que não cheguem a níveis populacionais elevados, os danos destas outras espécies somam-se aos das espécies principais, agravando os prejuízos para a cultura.

Por isso, faça um manejo adequado da sua área, utilize as técnicas de manejo integrado, que incluem o uso de cultivares tolerantes e também a remoção dos hospedeiros alternativos da área, pois eles permitem que os percevejos se abriguem no período de entressafra, o que contribui com as altas infestações nas lavouras.

Conclusão

O sucesso do controle de percevejos pode ser atingido antes de prejuízos irreversíveis serem ocasionados. Isto é realizado com o monitoramento nos períodos adequados.

Nas amostragens das pragas, a identificação correta das fases de desenvolvimento do inseto – ovos, ninfas e adultos – lhe ajudarão a identificar cada espécie.

Faça uso de todas as táticas de manejo para evitar que as infestações atinjam sua lavoura e procure não fornecer as condições que favorecem a sobrevivência dos percevejos durante todo o ano.

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