Os percevejos representam o principal problema entomológico da soja no Brasil. O controle químico desse grupo de pragas tem sido dificultado pela queda de eficiência dos produtos e pelo aumento das populações resistentes.

Fatores como disponibilidade de alimento na sucessão de culturas e aumento das temperaturas médias anuais também têm favorecido o aumento populacional, especialmente do percevejo-marrom (Euschistus heros), que por entrar em oligopausa na entressafra, permanece por longos períodos protegido sob restos vegetais.

O percevejo-marrom é atualmente a espécie mais abundante no Rio Grande do Sul e em partes da Argentina, demonstrando seu poder de adaptação a regiões mais frias.

Segundo os preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP), a tomada de decisão para o controle dos percevejos deve ser baseada no nível de ataque, número de insetos e estágio da cultura. Esse aferimento é realizado por meio do pano-de-batida, pois a simples observação visual sobre as plantas não expressa a população real de percevejos na lavoura.

As amostragens devem ser realizadas semanalmente em diferentes pontos da lavoura, com maior atenção nas bordaduras, onde a infestação costuma ter origem. Embora os percevejos adultos sejam identificados mais facilmente, a maioria da população infestante durante a fase reprodutiva das plantas é composta por ninfas de terceiro a quinto ínstares, que causam prejuízos equiparáveis aos insetos adultos.

Figura 1. Fenologia das populações de percevejos na cultura da soja e sua dispersão para plantas hospedeiras alternativas no inverno.

Fonte: Corrêa-Ferreira e Panizzi (1999).

Os percevejos iniciam a colonização da soja desde a fase vegetativa das plantas, sendo necessárias vistorias durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura. Entretanto, o período recomendando para o manejo inicia-se a partir da formação das vagens, estendendo-se até a maturação dos grãos, próximo à colheita.

Dentro desse intervalo, há um subperíodo crítico compreendido entre o final de desenvolvimento das vagens e o enchimento de grãos, quando os prejuízos quantitativos e qualitativos causados pelos percevejos são maximizados.

O controle deve ser realizado quando forem detectados dois percevejos por pano-de-batida (equivalente a 1 m de fileira de plantas) para lavouras de grãos, e um percevejo por pano-de-batida para produção de sementes.

O início da infestação de percevejos ocorre geralmente nas regiões mais periféricas da lavoura, permitindo que o controle químico seja realizado apenas em suas bordas, sem necessidade de aplicação em área total. Todavia, quando o dossel das plantas já está muito fechado, é comum que os inseticidas não atinjam o alvo devido ao efeito “guarda-chuva”.

Nessas situações, uma opção é adicionar sal de cozinha (0,5%) na calda inseticida, o qual estimula o comportamento de prova dos percevejos nas vagens tratadas (efeito arrestante). Caso seja adotada essa estratégia, deve-se lavar bem o equipamento após a aplicação, para evitar enferrujamento devido ao contato do metal com resíduos de sal.

Figura 2. Principais inseticidas registrados para o controle de percevejo-marrom (Euschistus heros) e seus respectivos modos de ação.


Crédito da imagem: Henrique Pozebon.

Por fim, também é importante buscar sempre rotacionar produtos com diferentes modos de ação, para evitar a seleção de insetos resistentes aos inseticidas utilizados. Embora exista um número elevado de produtos disponíveis no mercado, a maioria deles contém diferentes combinações dos mesmos ingredientes ativos, ou diferentes ingredientes pertencentes aos mesmos grupos químicos e mecanismos de ação.

Portanto, a rotação de produtos é essencial para preservar ao máximo a eficácia das ferramentas químicas de controle.

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.



Referências:

CORRÊA-FERREIRA B. S.; PANIZZI, A. R. Percevejos da soja e seu manejo. Londrina: Embrapa Soja, 1999. 45 p. (Embrapa Soja. Circular Técnica, 24).

CORSO, I. C. Uso de sal de cozinha na redução da dose de inseticida para controle de percevejos da soja. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1990. 7 p. (EMBRAPA-CNPSo. Comunicado Técnico, 45)

GUEDES, J. V. C.; ARNEMANN, J. A.; STÜRMER, G. R.; MELO, A. A.; BIGOLIN, M.; PERINI, C. R.; SARI, B. G. Percevejos da soja: novos cenários, novo manejo. Revista Plantio Direto, v. janeiro/fevereiro, p. 28-34, 2012.

PANIZZI, A. R.; VIVAN, L. M. Seasonal abundance of the neotropical brown stink bug, Euschistus heros in overwintering sites and the breaking of dormancy. Entomologia Experimentalis et Applicata, v. 82, p. 213-217, 1997.

PANIZZI, A. R.; BUENO, A. de F.; SILVA, F. A. C. Insetos que atacam vagens e grãos. Em: HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. (Eds.) Soja: Manejo Integrado de Insetos e outros Artrópodes-praga. Embrapa, Brasília-DF, 2012.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.