Para a implantação da cultura da soja é necessário observar diversos fatores que influenciam no estabelecimento de um bom stand de plantas, além de fatores ambientais como alto e/ou baixo índice pluviométrico pós a semeadura, é importante destacar o vigor da semente e a sua sanidade. Na safra 2018/19, problemas como estes foram detectados em diversas lavouras do estado, ganhando destaque as regiões com alto volume de chuvas, o que levou inúmeros produtores a realizarem o replantio da soja.
Um exemplo deste caso é o que ocorreu no município de Carazinho, na região do Planalto do Rio Grande do Sul, que teve cerca de 15 a 20% de sua área replantada na última safra, isso porque na janela preferencial para a semeadura da soja persistiu altos volumes de chuva, proporcionando um ambiente favorável ao ataque de fungos causadores de podridão e de tombamento de plantas (damping off).
Os causadores de tombamento de plantas, ou também conhecidos como“damping off”, são todas aquelas doenças que afetam os tecidos vegetais jovens, ainda dependentes das reservas da semente, o que provoca a sua morte prematura; ou ainda, grupos de doenças que se manifestam em plantas jovens (plântulas) que acabaram de emergir sobre o solo, causando o seu tombamento pela destruição do seu caulículo, ainda muito novo.
O sintoma ocorre, na sua maioria, em reboleiras, ocasionado principalmente por patógenos que habitam o solo e sobrevivem de forma saprofítica, alimentando-se de restos culturais em decomposição. Na presença de hospedeiros suscetíveis, as doenças se tornam um sério problema para as plantas de interesse econômico.
Boa parte dos patógenos causadores de ‘damping off’ não apresentam especificidade com relação aos hospedeiros, variando em uma ampla escala de espécies que podem ser afetadas, desde espécies herbáceas, como olerícolas, indo até espécies lenhosas, como por exemplo as florestais e frutíferas, proporcionando um problema ainda mais difícil de ser controlado. Através da secreção de enzimas ocorre o apodrecimento dos órgãos vegetativos, matando rapidamente o hospedeiro, e logo, promovendo sua decomposição e sobrevivendo às custas dos nutrientes disponibilizados neste processo.
Entre os principais fungos causadores de tombamento e podridão radicular, podemos destacar o Pythium spp. e Phytophthora sojae. Ambos são do reino Chromista e pertencem à classe dos Oomicetos, que tem como esporo assexual zoósporos flagelados. Tal morfologia permite a movimentação desses fungos a uma curta distância quando há uma lâmina de água presente, sendo que os fungos são atraídos por exsudatos radiculares do hospedeiro. Os esporos sexuais (esporos de sobrevivência) são os oósporos, com parede espessa, além desses serem habitantes naturais do solo, sobrevivendo saprofiticamente.
Do ponto de vista da fitopatologia, para que ocorra o aparecimento e desenvolvimento de doença 3 fatores são preponderantes, sendo eles: ambiente favorável, patógeno agressivo e hospedeiro suscetível. Classicamente, esses fatores são representados pelo triângulo da doença (figura 1).
No caso das principais variedades de soja cultivadas no Brasil, nem uma apresenta resistência ao Pythium e Phytophthora, fazendo com que o tratamento de sementes seja a principal forma de controle direta desses fungos. Por se tratar de fungos de solo, o controle químico se torna muito difícil, fazendo com que o principal método de controle seja o manejo correto das lavouras, juntamente com o tratamento de sementes.
O principal problema que pode favorecer o aparecimento desses fungos é o ambiente favorável para o patógeno. Sendo que solos com umidade elevada são essenciais para o desenvolvimento dos fungos, fazendo com que os oósporos germinem e comecem o processo de infecção na planta.
Contudo, os produtores devem estar atentos à data de semeadura, evitando períodos com alto índice pluviométrico. Esse problema se agrava ainda mais em solos compactados, que possuem baixo volume de infiltração de água. Para reduzir ainda mais o problema, é recomendado trabalhar com o manejo do solo, promovendo um solo mais aerado, trabalhando com coberturas de inverno que possuam raízes profundas e pivotantes, que aumentem na macroporosidade do solo, consequentemente fazendo com que o mesmo tenha uma melhor drenagem. Em casos extremos a escarificação pode se fazer útil.
Outra forma de prevenir o aparecimento dessas doenças é aumentar a matéria orgânica do solo, assim, fazendo com que a biota do solo tenha maior capacidade de suprimir os fungos patogênicos. A matéria orgânica ainda acaba contribuindo com a diminuição da densidade do solo, diminuindo a permeabilidade do solo à água.
O controle do Pythium spp. e Phytophthora sojae não é nada fácil, porém, não é impossível, boas práticas culturais, idem tratamento de sementes são extremamente importante para evitar o aparecimento dessas doenças. Desse modo, solos bem drenados, com alto índice de matéria orgânica, lavouras que praticam a rotação de culturas, possuem menor chance de desenvolvimento desses patógenos, além da proteção que as sementes vão oferecer pelo tratamento de sementes. Assim, produtores podem ficar mais tranquilos em relação ao replantio, porém o cuidado deve ser mantido.
Autores: Álvaro Alba e Marcos André Bonini Pires – Membros do PET Ciências Agrárias, UFSM campus Frederico Westphalen/RS.