Nas últimas décadas, o algodão brasileiro deu um salto produtivo graças ao investimento feito pelos produtores em tecnologias de ponta, principalmente na adoção de novos sistemas de produção, que aliam produtividade e sustentabilidade; de novas cultivares resistentes a pragas e doenças; e na mecanização (do plantio à colheita e armazenamento). Esses investimentos permitiram que o Brasil se posicionasse entre os cinco maiores produtores mundiais, ao lado da China, Índia, EUA e Paquistão; e entre os maiores exportadores mundiais. Em sistema de produção de sequeiro, o país ocupa o primeiro lugar em produtividade.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que completou 50 anos em abril, é uma das instituições que ajudaram o Brasil neste salto produtivo, principalmente por meio das pesquisas realizadas pela Embrapa Algodão, centro de pesquisa de produtos criado em 16 de abril de 1975, em Campina Grande, PB. Mas, se hoje as linhas de pesquisa estão voltadas para dois focos prioritários – fibras de alta qualidade e baixo impacto ambiental -, quando foi criada as frentes de atuação eram outras: a manutenção e o crescimento da cultura do algodoeiro arbóreo, de ciclo perene e grande expressão socioeconômica na região Nordeste; e o desenvolvimento do algodoeiro herbáceo, de ciclo anual, com maior ênfase na região Centro-Oeste.

Com a drástica redução da cotonicultura no Nordeste a partir de 1985, em decorrência da infestação das lavouras de algodão pelo bicudo do algodoeiro e de fatores socioeconômicos, a Embrapa Algodão teve que mudar sua linha de atuação, passando a buscar cultivares mais precoces e adaptadas às condições do Cerrado, inicialmente para o Mato Grosso, depois Goiás e Bahia. Além disso, também passou a integrar ao seu portfólio novas culturas, como amendoim, gergelim, mamona e sisal.

O trabalho de pesquisa da Embrapa foi fundamental para a introdução da cotonicultura no Cerrado graças ao desenvolvimento de cultivares de algodão adaptadas àquele bioma. O lançamento da cultivar de algodão CNPA ITA 90 foi um grande marco da consolidação da cotonicultura no Cerrado.

Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), atualmente o Brasil é o quarto maior produtor do mundo, segundo maior exportador e o sétimo maior consumidor de algodão. No ano passado, o Valor Bruto da Produção (VBP) de algodão foi de R$ 41 bilhões, sendo a quarta cultura mais importante da agricultura brasileira, depois da soja, cana-de-açúcar e milho.

Hoje, as cadeias produtivas trabalhadas pela Embrapa Algodão têm protagonismo em sistemas de produção no Semiárido, no Cerrado e na região Sudeste. A Unidade desenvolve pesquisas e inovações nas áreas de melhoramento genético, controle biológico, biotecnologia, mecanização agrícola, qualidade de fibras de algodão, sanidade vegetal, sistemas de produção, e busca ainda fomentar a transferência do conhecimento para sistemas de produção integrados.

Algodão colorido e outras alternativas para o Semiárido

Com o objetivo de criar novas alternativas para os agricultores da região semiárida, a Unidade desenvolveu as cultivares de algodão colorido a partir do cruzamento de cultivares de algodão branco de alta qualidade de fibra com plantas de fibra naturalmente colorida. A tecnologia reduz o impacto ambiental do processo têxtil, pois dispensa o uso de corantes, além de economizar cerca de 80% no consumo de água na produção do tecido.

Ao todo, foram lançadas seis cultivares coloridas, em tonalidades que vão de marrom claro, escuro e avermelhado, além do verde claro, todas indicadas para o Nordeste brasileiro. Graças à tendência de aumento da procura por produtos mais amigáveis ao meio ambiente, o algodão colorido ganhou as passarelas de moda internacionais e tornou-se patrimônio imaterial da Paraíba.

Outra linha de atuação voltada para os pequenos produtores do Semiárido é o cultivo do algodão orgânico e agroecológico, sem o uso de produtos químicos e em consórcio com culturas alimentares, visando contribuir com a geração de renda e segurança alimentar na região. Na safra 2020/2021, o Brasil cultivou cerca de 70 toneladas de fibra de algodão orgânico em 14.591 hectares de terra. Outras 28 toneladas de fibra em conversão para o sistema orgânico também foram cultivadas nesta safra. A atividade envolve 832 agricultores em sistema orgânico e 455 em conversão para o sistema orgânico. As principais áreas de produção são: Piauí, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe.

A escassez de mão-de-obra no campo é outro gargalo para o avanço da cotonicultura no Semiárido. Para fazer frente a esse problema, Embrapa e parceiros vêm trabalhando no desenvolvimento de máquinas e implementos que possibilitem ampliar a produção e melhorar a qualidade de vida do homem do campo. Entre os equipamentos já desenvolvidos estão miniusina beneficiadora de algodão, cultivadores para preparo do solo adaptados a pequenas propriedades, plantadeira adaptada ao cultivo de sementes de algodão e, mais recentemente, com apoio da FAO, uma colheitadeira de algodão de uma linha adaptada para uso em pequenas superfícies, visando atender às necessidades dos pequenos produtores de algodão. O equipamento já foi validado no Brasil e no Paraguai.

“Com as tecnologias desenvolvidas ou aperfeiçoadas, nós poderemos contribuir para reduzir o esforço dos pequenos produtores e aumentar a produtividade para viabilizar a produção de algodão no Semiárido e nos demais países membros da cooperação com a FAO”, explica o pesquisador Odilon Reny Ribeiro, um dos idealizadores dos implementos.

Gergelim ganha espaço na segunda safra

Outra cultura que vem despertando o interesse dos produtores é o gergelim, que ganhou espaço como cultura de segunda safra ou safrinha, usada em rotação e ou sucessão de culturas, principalmente com a soja. Ao longo das últimas safras, a cultura do gergelim apresentou um crescimento expressivo no Brasil, com incremento de mais de 200% na produção e 400% na área plantada. A área plantada com o gergelim no Brasil atualmente é de 213.900 hectares, segundo dados da Conab. Os principais produtores são Canarana (MT) Paragominas (PA) e Palmas (TO).

O programa de melhoramento genético do gergelim coordenado pela Embrapa já disponibilizou oito cultivares, sendo as mais recentes a BRS Seda, BRS Anahí e BRS Morena, que ocupam hoje 17% da área cultivada com gergelim no País.

Nair Arriel, chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Algodão, responsável pelo desenvolvimento das cultivares de gergelim, afirma que a pesquisa vem trabalhando para suplantar os principais desafios do cultivo da oleaginosa. “Buscamos cultivares de gergelim com alto potencial produtivo e de rendimento de óleo, aliadas a características de frutos e arquitetura das plantas que facilitam a colheita mecanizada, e com resistência às principais doenças”, diz. “Em breve, será disponibilizada aos produtores uma nova variedade de coloração preta, cujas sementes são muito apreciadas pelo mercado asiático, em especial, pelo alto valor medicinal”, adianta a pesquisadora.

Novos desafios da Unidade

Segundo Alderi Araújo, chefe-geral da Embrapa Algodão, os principais desafios da Unidade estão relacionados ao desenvolvimento de tecnologias sustentáveis visando à elevação da produtividade, redução dos custos de produção e adequação a padrões de qualidade internacionais e ambientais. “As nossas atividades de pesquisa e inovação visam à sustentabilidade econômica, social e ambiental das cadeias produtivas das cinco culturas trabalhadas pelo centro nas principais regiões produtoras e em regiões de expansão do cultivo”, afirma.

Para a cultura do algodão, o foco das pesquisas tem sido o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis que permitam o manejo eficiente dos recursos naturais disponíveis, (solo e água), manejo de pragas, doenças e plantas daninhas e aumento da eficiência de insumos aplicados. “Em parceria com o setor produtivo, estamos trabalhando com novas estratégias para o controle biológico das pragas do algodoeiro, que é de suma importância para reduzir o impacto ambiental da cotonicultura”, conta Araújo.

“Em outra frente, temos desenvolvido soluções para a produção de algodão de baixo carbono, por meio da rotação e sucessão de culturas, uso de plantas de cobertura, sistema plantio direto e revolvimento mínimo do solo, que estão contribuindo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa”, acrescenta.

A pesquisa também busca a obtenção de cultivares com resistência a múltiplas doenças, pragas e tolerância a herbicidas, tanto por melhoramento convencional como por transgenia, associados à alta produtividade, resiliência a fatores abióticos e alta porcentagem de fibras. “Linhas de pesquisa para desenvolvimento de cultivares com fibras de características diferenciadas como fibras longas e extralongas e fibras coloridas são também priorizadas pela Unidade”, relata o gestor.

A pesquisa com amendoim tem trabalhado no desenvolvimento de cultivares mais produtivas, precoces, com alto teor oleico, com resistência a doenças e estresse hídrico, adaptação a regiões de expansão do cultivo e boa qualidade pós-colheita. Também são investigadas novas estratégias para controle de plantas daninhas, pragas e doenças.

Já as pesquisas para a mamona visam ao desenvolvimento de sistemas de produção para regiões tradicionais de cultivo na região Semiárida e regiões de expansão do Cerrado por meio da disponibilização de cultivares com alta produtividade de óleo, resistência a doenças e precocidade, bem como adaptação diferenciada às regiões de cultivo. Também são trabalhados pela pesquisa, sistemas que permitam a conservação do solo, manejo de pragas e doenças e produtividade, assim como o aproveitamento dos coprodutos da extração do óleo.

A pesquisa com sisal busca desenvolver meios para garantir maior competitividade e sustentabilidade dos sistemas produtivos com a cultura do sisal no Semiárido, por meio de arranjos produtivos, utilização de estudos de seleção e de aplicação bioindustrial para o fortalecimento da agricultura na região.

A pesquisa com gergelim tem como principal desafio o desenvolvimento de cultivares com resistência ao estresse hídrico, às principais doenças, com alto teor de óleo, e, ainda, cultivares que apresentem indeiscência (cápsulas que não se abrem ao amadurecer) ou semi-indeiscência das cápsulas, ou mesmo maior aderência das sementes a cápsula, adaptadas para cultivo em diversas condições edafoclimáticas, cultivo mecanizado do plantio a colheita e com película de diferentes tonalidades para atender diferentes mercados.

Fonte: disponível no Portal da Abrapa 
Autor:  Edna Santos (MTb/CE 1700) – Embrapa Algodão

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