Especialmente no Sul do Brasil, uma das principais e mais preocupantes doenças que acometem a soja no início do seu desenvolvimento é a podridão-radicular de Phytophthora. Causada pelo fungo o Phytophthora sojae, a doença pode acometer plântulas em início do desenvolvimento e plantas adultas.
Quando acomete a soja no início do desenvolvimento, a doença pode causar a morte das plântulas, reduzindo o estande de plantas (figura 1) e tornando necessário realizar a ressemeadura das áreas em algumas situações. As sementes infectadas podem apodrecer ou germinar lentamente, resultando na morte das plântulas (figura 2), que apresentam o hipocótilos com aspecto encharcado e de coloração marrom (Soares et al., 2023).
Figura 1. Phytophthora em soja, planta infectada.
Figura 2. Plântulas de soja infectadas com Phytophthora sojae.
Na fase adulta, as plantas infectadas, além da característica coloração marrom-escura da haste (desde o solo que progride para hastes laterais e para o topo da planta), apresentam clorose das folhas e murcha, podendo resultar na morte da planta.
Figura 3. Planta de soja com sintoma de podridão-radicular de Phytophthora, causada por Phytophthora sojae.
Condições favoráveis
Segundo Soares et al. (2023), elevada umidade do solo durante a semeadura e a emergência, em conjunto com temperaturas amenas em torno de 25°C, favorecem o desenvolvimento da doença e por consequência as falhas na emergência.
Solos compactados e mal drenados intensificam o desenvolvimento do patógeno, que desenvolve estruturas de resistência (oosporos), que permanecem viáveis em restos culturais e no solo por muitos anos. Em estádios mais avançados, os sintomas variam com o nível de resistência/ tolerância da cultivar (Soares et al., 2023).
Manejo
Infelizmente ainda não há medidas de controle indicadas para o controle da Phytophthora em plantas adultas de soja. As principais estratégias de manejo disponíveis consistem no uso de cultivares resistentes, no tratamento de sementes com fungicidas e na melhoria das condições de drenagem do solo.
Com foco no tratamento de sementes, além dos tradicionais fungicidas químicos empregados no controle da Phytophthora sojae, estudos demonstram que, agentes de biocontrole e produtos à base de Trichoderma como o T. harzianum e o T. asperellum apresentam efeito inibitório sobre o crescimento dos isolados de Phytophthora sojae, podendo ser ferramentas promissoras no biocontrole da doença.
Conforme observado por Werner (2020), analisando o efeito antagonista de diferentes estirpes de Trichoderma spp., no controle de Phytophthora sojae, todos os isolados de Trichoderma avaliados pela autora apresentaram nota 1, de acordo com a Escala de Bell et al., (1982), ou seja, inibiram em 100% o crescimento dos dois isolados de Phytophthora sojae em relação a testemunha (nota 5), demonstrando um grande potencial de controle do patógeno.
Tabela 1. Classificação segundo a Escala de Bell, Porcentagem de Inibição de Crescimento Micelial (PICM) e Diâmetro Final de Colônia (DFC) de dois isolados de P. sojae submetidos ao confronto direto com diferentes isolados de Trichoderma spp. Frederico Westphalen – RS, 2020.
Dessa forma fica evidente a importância do tratamento de sementes para o manejo e controle de Phytophthora, e a importante contribuição dos microrganismos benéficos no controle da doença. Contudo, vale destacar que a utilização de microrganismos no tratamento de sementes não isenta a necessidade da utilização de fungicidas químicos, recomendados para a cultura no tratamento de sementes.
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Referências:
COSTAMILAN, L. M. et al. RESISTÊNCIA A Phytophthora sojae EM GENÓTIPOS DE SOJA DA EMBRAPA EM 2023. Embrapa, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 13, 2024. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1163696/1/BPD-113-online.pdf >, acesso em: 01/07/2024.
SOARES, R. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, ed. 6, 2023. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1158639/manual-de-identificacao-de-doencas-de-soja >, acesso em: 01/07/2024.
WERNER, C. J. TRATAMENTOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS DE SEMENTES DE SOJA PARA O CONTROLE DE Phytophthora sojae. Universidade Federal de Santa Maria, Dissertação de Mestrado, 2020. Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/21095/DIS_PPGAGRONOMIA_2020_WERNER_CARLA.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 01/07/2024.
Foto de capa: Leila Maria Costamilan