O gênero Bidens, pertencente à família Asteraceae, apresenta duas espécies principais que são responsáveis por causar danos em áreas agrícolas: Bidens subalternans e Bidens pilosa. Ambas as espécies são herbáceas anuais, com caule anguloso, medindo geralmente entre 0,3 e 1,2 m, e se reproduzem através de sementes. Morfologicamente, essas plantas são muito semelhantes, exigindo cautela na identificação correta das espécies (HRAC, 2022).

O picão-preto (Bidens spp.) está presente em praticamente todo o território brasileiro, sendo uma das plantas daninhas mais conhecidas pelos agricultores. Entre suas características destacam-se a abundante e longa produção de propágulos, o uso eficiente da água, a elevada extração e utilização de nutrientes, além de características morfofisiológicas específicas. Tais características conferem à planta uma vantagem competitiva em relação às principais culturas anuais e perenes (Santos & Cury, 2011).

Figura 1. Área infestada com picão-preto resistente ao glifosato.
Foto: Fernando Storniolo Adegas.

De acordo com Rizzardi, uma única planta de picão-preto pode produzir mais de 3000 aquênios (sementes). Essa elevada capacidade de reprodução, aliada à capacidade de completar seu ciclo em um curto espaço de tempo, contribui para sua rápida disseminação. A presença de picão-preto nas lavouras, conforme ressaltam Santos & Cury (2011), interfere no processo produtivo devido a competição imposta por recursos essenciais, a liberação de substâncias alelopáticas e a atuação como hospedeira de pragas, doenças e nematoides, além de dificultar a colheita.

No Brasil, foram detectadas plantas de picão-preto resistentes a herbicidas pertencente aos Inibidores da ALS em 1993 para Bidens pilosa e em 1996 para Bidens subalternans. Posteriormente, em 2006 (B. subalternans) e 2016 (B. pilosa) surgiram os casos de resistência múltipla a dois mecanismos de ação: aos Inibidores da ALS e aos Inibidores do Fotossistema II. Mais recentemente, foi confirmada a resistência aos inibidores da EPSP’s (Heap, 2024). Dessa forma, é possível observar falhas no controle com esses herbicidas, surgindo a necessidade de implementar estratégias de manejo visando um controle mais eficiente.

Figura 2. Evolução dos casos de resistência de picão-preto.
Fonte: HRAC (2024).

De acordo com a Fundação ABC (2023), para o controle do banco de sementes do picão-preto, uma alternativa é o uso do herbicida Clomazone em áreas onde herbicidas inibidores da ALS, como Imazetaphyr, não apresenta eficácia. Em pós-emergência da soja, uma alternativa ao Glifosato é utilizar herbicidas inibidores da PROTOX, como Fomesafem, sendo essencial que a planta daninha possua entre 2 e 4 folhas de tamanho para um controle eficiente.

O pesquisador Albrecht (2024) demonstra preocupação diante dos crescentes escapes de picão-preto dentro da cultura da soja, casos que muitas vezes são atribuídos à pressão de seleção e, consequentemente, da resistência da planta a ação do herbicida.  Confira o vídeo completo onde o professor Alfredo Albrecht fala sobre os escapes de picão-preto dentro da cultura da soja.

Em suma, é fundamental estar atento às falhas de controle que ocorrem na lavoura. Da mesma forma, devem ser adotadas medidas para prevenir a ocorrência de novos casos de resistência, como a rotação de culturas e de mecanismos de ação de herbicidas, a limpeza de implementos agrícolas e o monitoramento das populações de plantas daninhas (HRAC, 2024).


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Referências:

ADEGAS, F. S. et al. NOVO CASO DE RESISTÊNCIA DE PLANTA DANINHA AO GLIFOSATO NO BRASIL: PICÃO-PRETO (Bidens subalternans). Embrapa, comunicado técnico, 107. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1155922/1/Com-Tec-107.pdf >, acesso em: 14/05/2024.

ALBRECHT, A. P. J. ESCAPES DE PICÃO-PRETO DENTRO DA CULTURA DA SOJA. Professores Alfredo & Leandro Albrecht, Supra Pesquisas, 2024. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=GJBNF3Bj58E >, acesso em: 14/05/2024.

FUNDAÇÃO ABC. PICÃO-PRETO, DIFERENÇA ENTRE ESPÉCIES E RESISTÊNCIA A GLYPHOSATE. Fundação ABC, 2023. Disponível em: < https://fundacaoabc.org/2023/11/30/picao-preto-diferenca-entre-especies-e-resistencia-a-glyphosate/ >, acesso em: 14/05/2024.

HEAP, I. BANCO DE DADOS INTERNACIONAL DE ERVAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS. Online, 2024. Disponível em: < https://weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 14/05/2024.

HRAC. Bidens subalternans E Bidens pilosa. Comitê de Ação a Resistencia aos Herbicidas – HRAC, 2022. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/bidens-subalternans-e-bidens-pilosa >, acesso em: 14/05/2024.

RIZZARDI, M. A. PLANTAS DANINHAS: PICÃO-PRETO. Up Herbologia, Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://upherb.com.br/int/picao-preto >, acesso em: 14/05/2024.

SANTOS, J. B.; CURY, J. P. PICÃO-PRETO: UMA PLANTA DANINHA ESPECIAL EM SOLOS TROPICIAS. Planta Daninha, v. 29, p. 1159-1171. Viçosa – MG, 2011. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/Zhz5G34LypDJdmzMJ3qn8Sz/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 14/05/2024.

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