O picão-preto é uma das principais plantas daninhas infestante de áreas agrícolas. As principais espécies são a Bidens pilosa e a Bidens subalternans. As perdas de produtividade variam em função da cultura afetada, densidade populacional da planta daninha e estádio da matocompetição, podendo chegar a 58% na soja, em casos mais severos (Rizzardi et al., 2003).
Entre as características dessa planta daninha, destacam-se a abundante e longa produção de propágulos, o uso eficiente da água, a elevada extração e utilização de nutrientes, além de características morfofisiológicas específicas. Tais características conferem à planta uma vantagem competitiva em relação às principais culturas anuais e perenes (Santos & Cury, 2011).
O picão-preto está distribuído em praticamente por todo o território brasileiro, o que atrelado ao seu rápido crescimento e desenvolvimento, bem como elevada habilidade competitiva, fazem do picão-preto uma preocupante planta daninha em sistemas agrícolas.
Casos de resistência
Ambas as espécies de picão-preto apresentam relatos de resistência a herbicidas. No caso do Bidens Pilosa, os casos relatados são da resistência aos herbicidas chlorimuron, imazaquin, imazetapir, nicosulfuron e piritiobac-sódio (inibidores da ALS, 1993); resistência aos herbicidas atrazina e imazetapir (Inibidores FSII e ALS, 2016) (Heap, 2024), e mais recentemente ao herbicida fomesafen (inibidor da PROTOX, 2024) (HRAC-BR, 2024).
Já com relação a espécie Bidens subalternans, há relatos de casos de resistência dessa planta daninha aos herbicidas chlorimuron, imazetapir e nicosulfuron (inibidores da ALS, 1996); aos herbicidas atrazina, Iodosulfuron e foramsulfuron (inibidores do FSII e ALS, 2006) e também ao herbicida glifosato (inibidor da EPSPs, 2023) (Heap, 2024).
A resistência da Bidens subalternans ao glifosato já vinha sendo observada nas últimas safras em função da ocorrência de falhas de controle dessa planta daninha com esse herbicida e foi corroborada através da condução de experimento, onde foram avaliadas as respostas do picão-preto a diferentes doses do glifosato. O experimento conduzido pela Embrapa Soja contou com seis repetições, com nove doses de glifosato (em g e.a. ha-1): 0, 60, 120, 240, 480 (padrão), 960, 1920, 3840 e 7680, aplicadas no estádio de quatro folhas verdadeiras.
Os resultados observados confirmaram a suspeita de que a sobrevivência das plantas se devia à seleção de uma população resistente ao glifosato, o que torna necessário repensar algumas estratégias de manejo para controlar essa planta daninha de forma eficiente.
Figura 1. População de picão-preto (Bidens subalternans) suscetível (A) e resistente (B) ao glifosato, aos 28 dias após a aplicação do herbicida, nas doses em g e.a. ha-1.
Para tanto, é necessário identificar as espécies para posicionar estratégias de manejo. No entanto, durante a fase inicial de desenvolvimento, as duas espécies são muito similares, somente após a floração, as características distintivas de cada espécie se tornam mais evidentes. Uma das característica que auxilia na diferenciação é que, para a espécie B. pilosa o segundo par de folhas apresenta diferenças em relação ao primeiro, enquanto na B. subalternans o segundo par é igual ao primeiro par de folhas (Fundação ABC, 2023).
Figura 2. Características das plantas para diferenciação das espécies de picão-preto Bidens pilosa (esquerda) e Bidens subalternans (direita).
Estratégias de Manejo
Uma alternativa para reduzir a densidade populacional do picão-preto é trabalhar com a redução dos fluxos de emergência dessa planta daninha, através do controle pré-emergente, atuando no banco de sementes do solo. De acordo com a Fundação ABC (2023), para o controle do banco de sementes do picão-preto, uma alternativa é o uso do herbicida Clomazone em áreas onde herbicidas inibidores da ALS, como Imazetaphyr, não apresentam eficácia (Costa, 2024).
Considerando dificuldades para o controle em pós-emergência da soja, utilizando o glifosato, uma alternativa de manejo é utilizar herbicidas inibidores da PROTOX, como Fomesafen em populações sensíveis. No entanto, nesses casos é indispensável atentar para o estádio de desenvolvimento das plantas daninhas, sendo essencial que a planta seja controlada nos estádios iniciais do seu desenvolvimento, entre 2 e 4 folhas de tamanho para um controle eficiente.
Além disso, vale lembrar que algumas populações da espécie Bidens Pilosa apresentam resistência a inibidores da PROTOX, logo, é necessário identificar a sensibilidade da população a ser controlada.
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Referências:
ADEGAS, F. S. et al. NOVO CASO DE RESISTÊNCIA DE PLANTA DANINHA AO GLIFOSATO NO BRASIL: PICÃO-PRETO (Bidens subalternans). Embrapa, Comunicado Técnico, n. 107, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1155922/1/Com-Tec-107.pdf >, acesso em: 11/07/2024.
COSTA, V. O. PICÃO-PRETO: CARACTERÍSTICAS, CASOS DE RESISTÊNCIA, OCORRÊNCIA DE ESCAPES E ESTRATÉGIAS DE MANEJO DA ESPÉCIE. Mais Soja, 2024. Disponível em: < https://maissoja.com.br/picao-preto-caracteristicas-casos-de-resistencia-ocorrencia-de-escapes-e-estrategias-de-manejo-da-especie/ >, acesso em: 11/07/2024.
FUNDAÇÃO ABC. PICÃO-PRETO, DIFERENÇA ENTRE ESPÉCIES E RESISTÊNCIA A GLYPHOSATE. Fundação ABC, 2023. Disponível em: < https://fundacaoabc.org/2023/11/30/picao-preto-diferenca-entre-especies-e-resistencia-a-glyphosate/ >, acesso em: 11/07/2024.
HEAP, I. BANCO DE DADOS INTERNACIONAL DE ERVAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS. 2024. Disponível em: < https://weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 11/07/2024.
HRAC. Bidens subalternans E Bidens pilosa. Comitê de Ação a Resistencia aos Herbicidas – HRAC, 2022. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/bidens-subalternans-e-bidens-pilosa >, acesso em: 11/07/2024.
RIZZARDI, M. A. et al. PERDAS DE RENDIMENTO DE GRÃOS DE SOJA CAUSADAS POR INTERFERÊNCIA DE PICÃO-PRETO E GUANXUMA. Ciência Rural, 2003. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cr/a/LFwJKQSSzmkZZRxZwfNgHJx/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 11/07/2024.
SANTOS, J. B.; CURY, J. P. PICÃO-PRETO: UMA PLANTA DANINHA ESPECIAL EM SOLOS TROPICAIS. Planta Daninha, c. 29, p. 1159-1171. Viçosa – MG, 2011. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/Zhz5G34LypDJdmzMJ3qn8Sz/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 11/07/2024.