Como funciona: No solo, existem bactérias denominadas Bacillus thuringiensis (Bt), que produzem naturalmente proteínas. Essas proteínas possuem efeito tóxico a alguns insetos quando estão em contato a um receptor específico nas células do intestino médio do inseto (BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS, 2017), interferindo no gradiente iônico e no balanço osmótico da membrana apical das pragas (FARIA, S. 2018).
Dessa forma, retirou-se o gene que expressa a proteína tóxica da bactéria e se inseriu no DNA das plantas. Determinadas culturas apresentaram resistência a algumas espécies de pragas, pois essas consomem as plantas geneticamente modificadas e morrem a partir do efeito tóxico produzido pela ação das proteínas inseticidas.
Entre as proteínas mais conhecidas, está a proteína do grupo Cry (que é uma inclusão cristalina). Os cientistas descobriram o efeito tóxico aos insetos, identificaram o DNA da bactéria e, por fim, determinaram os genes responsáveis pela expressão das proteínas inseticidas. A partir disso, os esporos de Bt foram utilizados em formulações microbianas para o controle de pragas (BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS, 2017).
Figura 1. Representação esquemática, Bacillus thuringiensis (Bt) presente na cultura do milho.
As toxinas produzidas pelo Bt apenas são ativas quando são processadas por enzimas específicas do intestino (chamadas de proteases). Dessa forma, ocorre uma ligação irreversível nas células epiteliais e se formam os poros. Sucede uma ruptura da membrana do intestino, o que leva o inseto a morte (FARIA, S. 2018).
A causa da morte dos insetos se inicia a partir de poros no intestino que aumentam a permeabilidade de água na membrana celular. Assim, a quantidade de água cresce e causa edema, ruptura e desintegração irreversível do revestimento do intestino (FARIA, S. 2018).
Figura 2. Infecção nas lagartas através da Tecnologia Bt
Manejo específico
A produção comercial iniciou em 1938. No Brasil, introduziu-se a primeira variedade de algodão no ano de 2006, posteriormente no milho em 2008, seguido pela soja em 2013. Ainda, em 2017, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a primeira cana-de-açúcar transgênica e Bt. Em nosso país, a introdução dessa ferramenta foi possibilitada através da Lei de Biossegurança (Lei 11.105), que aprovou o uso de organismos geneticamente modificados (BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS, 2017).
A tecnologia permitiu aos produtores um maior controle de insetos pragas em suas lavouras. Entretanto, a tecnologia exige manejos específicos para continuar com o controle eficiente, seguindo um programa de Manejo de Resistência de Insetos (MRI) adequado e incluindo ferramentas do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
O MIP é de fundamental importância, pois as plantas Bt exercem uma pressão maior de seleção sobre os insetos, já que o efeito sob as pragas ocorre durante todo ciclo de desenvolvimento da cultura. Dessa forma, os riscos de resistência aumentam (PASSINI, F. 2015).
Já existe resistência para S. frugiperda à proteína Cry1F e Cry1Ab no Brasil (FARIAS et al, 2014). Esse fato se deve à pressão de seleção de plantas Bt, como soja, milho e algodão, em que ocorre uma sobreposição de cultivos Bt que controlam S. frugiperda. Ainda, de acordo com estudos de FARIA (2018), as tecnologias Cry1F e Cry1Ab são as mais suscetíveis ao ataque da lagarta-do-cartucho.
Áreas de refúgio
As áreas de refúgio tem como objetivo servir de habitat para o desenvolvimento de insetos suscetíveis a tecnologia Bt. A distância máxima verificada pela dispersão dos adultos no campo é de 800m, por isso se deve incorporar uma área de plantas não Bt, a fim de haver o cruzamento com insetos resistentes (oriundos da lavoura com plantas Bt) e insetos suscetíveis (oriundos da lavoura com plantas não Bt). Assim, resulta-se em insetos suscetíveis e se consegue realizar o controle de forma eficiente (PASSINI, F. 2015).
Figura 3. Cruzamento de insetos da lavoura de milho convencional e Bt.
A nova proposta de refúgio leva em consideração um manejo de resistência para a área Bt e um manejo de dano econômico para a área de refúgio (PASSINI, F. 2015).
Algumas regras para a eficiência da tecnologia segundo FRONZANI, M (2018):
- Deve-se realizar o monitoramento da área, considerando o manejo de resistência nas áreas Bt e o nível de dano econômico no refúgio para realizar as aplicações;
- 800m é a distância máxima da área de refúgio até a lavoura com plantas Bt;
- A área de refúgio deve ter o mesmo porte, ciclo e deve ser da mesma espécie que as plantas Bt;
- Para milho, soja e algodão, o refúgio deve representar de 10 a 20% do total da lavoura.
Figura 4. Configuração em Bloco – Distância máxima da área de refúgio e da lavoura com plantas Bt.
Pirâmide de genes
O melhoramento genético também colabora com a continuidade da tecnologia, a partir de adição de altas doses dessas proteínas inseticidas as plantas e a inserção de mais de um gene com mais de uma proteína Bt (possui mais de um modo de ação sobre a mesma praga), estratégia conhecida como “pirâmide de genes” (FRONZANI, M. 2018; FARIA, 2018).
Esses métodos não impedem que a evolução da resistência aumente, mas desacelera o processo, além de promover melhor controle que eventos individuais (FARIA, 2018).
Por fim, outras práticas devem ser adotadas conjuntamente, como:
- Dessecação pré-plantio: evita que culturas antecessoras sirvam como hospedeiras de pragas;
- Uso de sementes certificadas: isentas de agentes infecciosos;
- Controle de plantas daninhas: para que não sirvam como hospedeiras;
- Tratamento de sementes: visando controlar pragas que a tecnologia Bt não controla no período inicial do desenvolvimento da cultura.
Principais pragas controladas pela tecnologia Bt nas culturas de soja, milho, algodão e cana: (FRONZANI, M. 2018).
- Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis);
- Falsa-medideira (Chrysodeixis includens, Rachiplusia nu, Trichaplusia ni);
- Vaquinha (Diabrotica speciosa);
- Broca-das-axilas (Crocidosema aporema);
- Lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens);
- Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus);
- Helicoverpa (Helicoverpa spp.);
- Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon);
- Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda);
- Lagarta curuquerê (Alabama argilacea);
- Lagarta rosada (Pectinophara gossypiella);
- Spodopteras ( eridania e S. cosmioides);
- Broca-do-colmo (Diatrea saccharalis).
Tecnologia BT em soja: quais espécies são controladas e qual argumentário da tecnologia?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tecnologia Bt foi um avanço para o controle de pragas, reduzindo as aplicações de inseticidas e minimizando o contato direto dos produtos químicos com os agricultores.
Além disso, possui eficiência compatível com outras práticas de manejo. Entretanto, para a tecnologia continuar com sua ação, é necessário seguir um manejo específico para plantas Bt, como a utilização de área de refúgio e pirâmide de genes. Deve-se incluir um programa de Manejo de Resistência de Insetos (MRI) adequado e ferramentas do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
O produtor deve entender o manejo para minimizar os riscos de resistência e manter a tecnologia viável e eficiente.
REFERÊNCIAS:
BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS. Conheça as principais pragas controladas pela tecnologia Bt em soja, milho e algodão. Disponível em: <https://boaspraticasagronomicas.com.br/noticias/conheca-as-principais-pragas-controladas-pela-tecnologia-bt-em-soja-milho-e-algodao/>. Acesso em: 17.03.2020
BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS. Plantas Bt: o que são e para que servem. Disponível em: <https://boaspraticasagronomicas.com.br/noticias/plantas-bt/>. Acesso em: 17.03.2020
FARIA, Stéfane Carolina Quista da Silva. Resistência de milho convencional e transgênico e efeitos da idade da planta no desenvolvimento de Spodoptera frugiperda (JE Smith, 1797)(Lepidoptera: Noctuidae). 2018.
FRONZANI, M. TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ÁREA DE REFÚGIO PARA PLANTAS Bt. Disponível em: <https://blog.aegro.com.br/tecnologia-bt/>. Acesso em: 17.03.2020
PASSINI, F. Manejo da Resistência de Insetos à Tecnologia Bt. Disponível em: <http://www.pioneersementes.com.br/blog/14/manejo-da-resistencia-de-insetos-a-tecnologia-bt>. Acesso em: 17.03.2020
Redação: Equipe Mais Soja.
[…] alguns desses invertebrados conseguem sobreviver à exposição de agentes de controle, como as plantas Bt e os inseticidas. Para o manejo de resistência de insetos, existem três grandes estratégias […]