Na entressafra das culturas principais do sistema de produção é comum encontrarmos em uma escala global segundo TIECHER (2016) o uso de plantas de cobertura como uma alternativa na rotação e sucessão de cultivos agrícolas. Dentre as espécie mais utilizadas, há um predomínio de espécies das famílias Fabaceae e Poaceae, principalmente nos cultivos de primavera/verão e outono/inverno nas regiões sul do brasil.

O fato das principais espécies pertencerem a estas duas famílias está intimamente ligada a capacidade adaptativa das plantas e a relação Carbono/Nitrogênio, que hora é interessante baixa, hora interessante alta, dependendo da finalidade do cultivo. Outro fator importante é a capacidade das plantas de cobertura em contribuir na melhoria de aspectos físicos e estruturais do solo.

Segundo RITTER et al. (2018), o uso de plantas de cobertura com sistema radicular denso (figura 1) auxilia na descompactação do solo, aumentando a infiltração de agua no solo a possibilitando melhores condições estruturais para o crescimento e desenvolvimento de raízes, além disso, a palhada residual proveniente do cultivo de plantas de cobertura auxilia na dissipação e energia sobre o solo, diminuindo a compactação pelo trafego de maquinas agrícolas e o escoamento superficial do solo.

Figura 1. Sistema radicular de plantas de cobertura em comparação a culturas produtoras de grãos.

Fonte: TEICHER (2016).

ALVARENGA et al. (2001) destaca que além das contribuições na melhoria da estrutura do solo, as plantas de cobertura atuam como cicladoras de nutrientes, nutrientes esses que ficam retidos na biomassa das plantas e são gradativamente liberados no solo e disponibilizados para o cultivo sucessor, contudo cada espécie apresenta características quando a capacidade de ciclar nutrientes e os nutrientes mais ciclados; no entanto, todas de alguma forma contribuem na ciclagem de nutrientes. ALVARENGA et al (2001) ainda saliente que a quantidade de fitomassa produzida pela cultura tende a ser proporcional a palhada produzida para cobertura do solo, contudo seu tempo de decomposição está intimamente relacionada com sua relação C/N. Confira algumas características de plantas de cobertura na tabela 1.

Tabela 1. Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de carbono (C) e nitrogênio (N) da parte aérea das principais espécies de plantas de cobertura de solo utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil.

Adaptado: TEICHER (2016).

Além disso, segundo FERREIRA et al. (2016), algumas plantas de cobertura apresentam potencial uso para controle de doenças e parasitas do solo como nematoides, com destaque para a Crotalaria spectabilis, conforma demonstrado no quadro 1.

Quadro 1. Características de plantas de cobertura.

Adaptado: FERREIRA et al. (2016).

Veja também: Uso de crotalária como alternativa no controle de nematoides.

Dessa forma, a inserção de plantas de cobertura no sistema de produção pode ser pensada como medidas remediadoras quando se tem problemas com nematoides nas áreas de cultivo. Também é interessante enxergar o cultivo de plantas de cobertura como um investimento para a cultura sucessora, trazendo melhores condições de solo para o seu desenvolvimento e promovendo melhores rendimentos na cultura, como observado na figura 2 para o cultivo do milho em sucessão a diferentes plantas de cobertura.



Figura 2. Rendimento médio de grãos de milho (t.ha-1) em cinco anos de cultivo de milho em sucessão a diferentes plantas de cobertura, no período de 2008/2009 a 2012/2013.

Adaptado: DE CARVALHO et al. (2018).

Incrementos da na produtividade da soja também foram observados por VALICHESKI et al. (2012), quando cultivada após o uso de plantas de cobertura como o nabo forrageiro e a aveia preta em solos compactados, o que associado ao uso de sulcadores no processo de semeadura possibilitou produtividades de soja superiores a 3500 kg.ha-1.

As principais plantas de cobertura utilizadas em sucessão e rotação de culturas de primavera/verão são: Crotalária juncea (Sunn hemp), Crotalária spectabilis (Crotalaria spectabilis), Feijão de porco (Canavalia ensiformis), Guandu anão (Cajanus cajan), Milheto (Pennisetum glaucum), Mucuna cinza (Stizolobium niveum), Mucuna preta (Mucuna aterrima). Já para outono/inverno são: Aveia preta (Avena strigosa), Azevém (Lolium multiflorum), Ervilhaca (Vicia sativa), Nabo forrageiro (Raphanus sativus oleiferus), Tremoço azul (Lupinus angustifolius), Tremoço branco (Lupinus alba), Tremoço nativo (Lupinus albescens) e os Trevos (Trifolium sp.).

Veja abaixo algumas das plantas de cobertura mais utilizadas.

Figura 3. Crotalária spectabilis (Crotalaria spectabilis).

Flor e vagem da Crotalaria spectabilis – Foto: Elaine Wutke/IAC, disponível na Página da Embrapa

Figura 4. Nabo forrageiro (Raphanus sativus oleiferus).

Figura 5. Aveia preta (Avena strigosa).

Figura 6. Milheto (Pennisetum glaucum).



Referências:

ALVARENGA, R. C. et al. PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO PARA SISTEMA PLANTIO DIRETO. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.22, n.208, p.25-36, jan. 2001.

 DE CARVALHO, A. M. et al. PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO RECOMENDADAS PARA A ENTRESSAFRA DE MILHO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO NO CERRADO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 181, mar. 2018.

FERREIRA, A. C. B. et al. SISTEMAS DE CULTIVO DE PLANTAS DE COBERTURA PARA A SEMEADURA DIRETA DO ALGODOEIRO. Embrapa, Comunicado Técnico n. 377, dez. 2016.

RITTER, P. et al.  USO DE DIFERENTES PLANTAS DE COBERTURA COMO ALTERNATIVA NA DESCOMPACTAÇÃO DO SOLO E MELHORIA NO RENDIMENTO DE MILHO. XII Reunião Sul Brasileira de Ciência do Solo, Xanxerê, 2018.

TEICHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL; PRATICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. UFRGS, 186p. 2016.

VALICHESKI, R. R. et al. DESENVOLVIMENTO DE PLANTAS DE COBERTURA E PRODUTIVIDADE DA SOJA CONFROME ATRIBUTOS FÍSICOS EM SOLO COMPACTADO. R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.16, n.9, p.969–977, 2012.

Redação: Maurício Siqueira dos Santos – Eng. Agrônomo, equipe Mais Soja.

 

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