Você consegue imaginar quais os benefícios que as culturas resistentes a insetos, também conhecidas como plantas Bt, trazem para a sustentabilidade da produção agrícola no mundo?

Proteger nossos alimentos de pragas tem sido uma batalha contínua desde que os humanos começaram a cultivar alimentos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que cerca de 40% da produção agrícola global é atualmente perdida para as pragas. As doenças das plantas roubam a economia global em mais de 220 bilhões de dólares anualmente.

Assim sendo, as plantas Bt representam peça-chave para a agricultura, uma vez que são capazes de controlar insetos-praga de maneira eficiente, ao longo de todo o ciclo da planta, reduzindo perdas e a quantidade de aplicações de defensivos. Essas plantas são conhecidas por seu potencial de resistir a pragas.

Quer saber mais sobre as plantas Bt? Continue lendo e você irá conhecer sua origem e como são  utilizadas nas lavouras.

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A origem das culturas Bt: como tudo começou?

Em 1901, um cientista japonês, chamado Shigetane Ishiwata, isolou uma bactéria de larvas de bicho-da-seda, que posteriormente viria a ser identificada como Bacillus thuringiensis (Bt). O isolamento aconteceu acidentalmente em uma pesquisa sobre a causa da morte do grande número de larvas de bicho-da-seda.

Mais tarde, em 1911, um cientista alemão, Ern Berliner, recuperou uma cepa de bactéria específica de larvas de mariposas mortas (traça-das-farinhas) e a estudou. Como essa pesquisa foi realizada em um estado alemão chamado Turíngia a bactéria recebeu o nome thuringiensis em homenagem ao local.

Décadas depois, em 1938, a França produziu pela primeira vez o inseticida esporina Bt em escala comercial contra traça-das-farinhas. Mas foi em 1953 que o cientista Thomas Angus identificou a formação de um cisto que libera endotoxinas (um tipo de toxina microbiana).

Sua pesquisa também mostrou que esse cisto somente é formado quando a bactéria se encontra em condições de estresse (escassez de nutrientes e de umidade, por exemplo), e dele saem as chamadas cry-toxinas, que possuem atividade inseticida. Mais tarde, em 1955, Philip James e Hannay demonstraram que a função estä relacionada a uma proteína, que compõe a estrutura.

No ano de 1958 os Estados Unidos adaptaram o uso comercial do Bt e em 1961 o primeiro uso da bactéria Bt registrado como bioinseticidas pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).

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Embora as preparações microbianas de Bt sejam seguras e eficazes, elas são limitadas em sua duração de eficácia porque podem ser lavadas da planta (por exemplo, pela chuva) ou inativadas pela luz solar dentro de dias após a aplicação, e requerem quantidade considerável de água, calor e matéria-prima para produzir.

Após a revolução da engenharia genética, os mesmos genes que produzem as cry-toxinas em bactérias foram usados para produzir plantas Bt. Seu uso é comumente conhecido como inofensivo e altamente específico para o alvo.

Nos últimos 20 anos, plantas transgênicas com atividades inseticidas vêm sendo utilizadas em todo o mundo. No Brasil, a introdução dessa tecnologia ocorreu em 2005, com a aprovação e lançamento de uma variedade de algodão.

O milho resistente a insetos (Bt) foi aprovado em 2007, a soja em 2010, a cana-de-açúcar em 2017 e em fevereiro de 2023 o eucalipto também passou a contar com essa ferramenta.

Desde a sua introdução no mercado, as tecnologias Bt passaram a ser rapidamente adotadas no campo, tornando-se uma das alternativas mais relevantes para o manejo integrado de pragas (MIP).

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Adoção de plantas Bt no mundo

Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences em 2018 identificou que de 1996 a 2016 a adoção do milho Bt nos Estados Unidos diminuiu em até 85% na aplicação de inseticidas. Outro estudo mostrou que o uso de inseticidas na cultura do algodão foi reduzido em até 81%, o que diminuiu também os danos causados nas plantas de pelo menos três espécies de insetos.

Além dos grãos, a berinjela Bt, conhecida em todo o sul da Ásia, foi apresentada a alguns agricultores em Bangladesh em 2014, sendo a primeira cultura geneticamente modificada a ser lançada comercialmente no país. Uma pesquisa indicou que os agricultores de Bangladesh economizaram 61% do custo de pesticidas em comparação com os agricultores de berinjela não Bt. Portanto, o sucesso da parceria da berinjela Bt provavelmente afetará o futuro de outras culturas transgênicas do país, bem como em outras partes do mundo onde a biotecnologia é necessária para a segurança alimentar e ambiental.

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uso da tecnologia Bt no algodão também contribui significativamente para a redução de inseticidas aplicados às plantações de algodão na Austrália. Antes da disponibilidade da tecnologia Bt, a maioria das lavouras australianas de algodão eram pulverizadas de 10 a 14 vezes por estação com inseticidas para controlar Helicoverpa spp. Desde 1992, houve uma diminuição de 97% no uso de inseticidas. As culturas agora estão normalmente sujeitas a não mais do que 0 – 3 tratamentos com inseticidas por cultura.

Ao diminuir os danos causados por insetos pragas, a biotecnologia Bt também protege o consumidor de ingerir micotoxinas que são substâncias cancerígenas produzidas por fungos. Quando espigas de milho são atacadas por insetos, eles causam danos diretos nos grãos que servem de porta de entrada para esses fungos. Assim, por serem menos atacada por esses insetos, o milho Bt possui menor contaminação por micotoxinas.

Benefícios da tecnologia Bt na agricultura

As plantas Bt oferecem benefícios ambientais, sociais e econômicos que incluem:

  • aumento das populações de insetos benéficos e vida selvagem nas lavouras;
  • redução do escoamento de pesticidas;
  • melhoria da segurança dos trabalhadores agrícolas;
  • mais tempo para os agricultores conviverem com suas famílias;
  • diminuição da mão de obra e combustível;
  • melhor qualidade do solo;
  • maior rendimento e diminuição dos riscos.

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Fonte: CropLife Brasil

Principais fontes:

Cotton Australia. Biotechnology And Cotto. Disponível em: https://cottonaustralia.com.au/fact-sheet Acesso em: 10 maio de 2023.

Dively, G.P. et al. (2018) Regional pest suppression associated with widespread Bt maize adoption benefits vegetable growers. Proc Natl Acad Sci U S A. 2018 Mar 27;115(13):3320-3325. doi: 10.1073/pnas.1720692115. Epub 2018 Mar 12. PMID: 29531049; PMCID: PMC5879701.

Fleming, D. et. al. (2018) Effects of transgenic Bacillus thuringiensis cotton on insecticide use, heliothine counts, plant damage, and cotton yield: A meta-analysis, 1996-2015. PLoS ONE 13(7): e0200131. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0200131

Shelton, A.M. et al.(2018) Bt Eggplant Project in Bangladesh: History, Present Status, and Future Direction. Front Bioeng Biotechnol. 2018 Aug 3;6:106. doi: 10.3389/fbioe.2018.00106. PMID: 30123795; PMCID: PMC6085445.

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