Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja em Chicago, após o estouro da bolha especulativa no dia 17/06, ensaiaram uma recuperação nos dias seguintes, porém, a mesma encontrou um fôlego limitado. O retorno das chuvas sobre as regiões produtoras estadunidenses, e o menor interesse dos Fundos pelo lado comprador, seguraram o bushel em patamares que talvez venham a ser os normais daqui em diante. Assim, a soja fechou esta quinta-feira (24) em US$ 13,71/bushel, contra US$ 13,29 uma semana antes e após ter subido para US$ 14,15 na segunda-feira da corrente semana. A notar que o farelo de soja continuou recuando, tendo batido em US$ 345,80/tonelada curta durante a semana, sua mais baixa cotação desde o dia 05 de outubro de 2020, enquanto o óleo registrou uma recuperação importante sobre as baixas da semana anterior, atingindo a 62,70 centavos por libra-peso no dia 24/06, voltando aos patamares anteriores ao estouro da bolha.

Dito isso, o plantio da soja nos EUA, até o dia 20/06, chegava a 97% da área total esperada, contra 94% na média histórica para esta data. Igualmente, 91% das lavouras havia germinado, enquanto as condições das lavouras diminuíam de qualidade, com 60% das mesmas entre boas a excelentes, 31% regulares e 9% entre ruins a muito ruins.

Confirmando o caráter especulativo de Chicago anteriormente, mesmo com a perda de qualidade das lavouras e a retomada das compras chinesas, puxadas nesta semana pela baixa dos preços, o mercado da soja perde força. De fato, depois de oito semanas ausente, a China adquiriu 670.000 toneladas dos EUA, relativas a esta futura safra 2021/22. Apesar da forte queda nas cotações, as margens de esmagamento na China continuam ruins, fato que levou os importadores locais a comprarem a soja visando recomposição de estoques e não exatamente por necessidade. Assim, até agosto inclusive a China ainda tende a priorizar a soja brasileira.

Pelo sim ou pelo não, o fato é que nos primeiros cinco meses deste ano a China importou 38,24 milhões de toneladas, ou seja, 13% acima do comprado no mesmo período do ano passado. E isso ocorre mesmo com as margens dos suinocultores chineses estarem também muito ruins, já que o preço local da carne suína teria recuado 60% neste ano. Isso estaria levando os criadores a abaterem animais novos e descartando matrizes menos produtivas, o que leva a menos consumo de farelo de soja. Mesmo assim, o plantel suinícola chinês cresceu 24% nos primeiros cinco meses do corrente ano, quase recuperando o total perdido em 2018/19 por ocasião da peste suína africana que por lá se abateu. (cf. Bloomberg)

Na prática, o mercado consumidor de soja mundo afora, liderado pela China, vinha reagindo fortemente contra as altas especulativas de Chicago nos últimos meses. Esta reação, somada a outros fatores já comentados, acabou surtindo efeito e os preços recuaram fortemente de uma semana para cá. Assim, a China voltou ao mercado da soja estadunidense. Além disso, a partir de setembro, com o início da colheita nos EUA, a soja norte-americana fica mais barata do que a brasileira (os prêmios por aqui sobem em nossa entressafra) e a China deverá se deslocar com mais intensidade para o mercado estadunidense.

Dito isso, na semana encerrada em 17 de junho os EUA embarcaram apenas 175.359 mil toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado. Em todo o ano comercial, até o momento, os embarques estadunidenses de soja chegam a 57 milhões de toneladas, 56% a mais do que há um ano.

Enfim, além do forte ajuste técnico, conta para este movimento de baixa em Chicago o fato de o clima estar normal nas regiões produtoras estadunidenses, com novas chuvas. Soma-se a isso a expectativa pelo relatório de plantio efetivo nos EUA, o qual será divulgado neste próximo dia 30/06. Muitos analistas esperam que a área de soja venha um pouco maior do que o indicado na intenção de plantio, em março.


Sipcam


Aqui no Brasil, diante do ocorrido em Chicago, e de um câmbio que voltou a ficar abaixo de R$ 5,00 por dólar (R$ 4,96 no dia 22/06), depois de um ano acima desta marca, além de prêmios já positivos, porém, bastante baixos em muitos portos, o preço interno despencou igualmente. A média gaúcha fechou a semana em R$ 142,00/saco, perdendo R$ 14,85/saco em relação à média da semana passada. Nas demais praças nacionais, o saco de soja oscilou entre R$ 135,00 e R$ 140,00/saco.

Por outro lado, a China continuou importando muita soja do Brasil. Em maio, tais importações subiram 82% em relação a abril. O total em maio chegou a 9,23 milhões de toneladas, contra 5,08 milhões em abril e contra 8,86 milhões de toneladas realizadas em maio de 2020. Ao mesmo tempo, a China comprou apenas 244.431 toneladas de soja dos EUA em maio, com recuo de 50% em relação há um ano e 89% em relação a abril. Neste contexto, nos primeiros cinco meses do ano a China importou 15,66 milhões de toneladas de soja brasileira. Mesmo assim, um recuo de quase 7 milhões de toneladas se levarmos em consideração que no ano passado, na mesma época, as importações chinesas somaram 22,04 milhões de toneladas. Já a soja dos EUA foi comprada, entre janeiro e maio do corrente ano, por um total de 21,53 milhões de toneladas, mais do que dobrando o volume do mesmo período do ano anterior. Este volume estadunidense se deve a compras importantes feitas no início do ano, pois na sequência os chineses diminuíram sua participação, se deslocando ao mercado brasileiro, o qual chegou mais tarde neste ano devido ao atraso na colheita.

Quanto aos reais embarques brasileiros de soja, a média diária, na terceira semana de junho, atingiu a 582.000 toneladas, ficando abaixo da média de 606.740 toneladas do mesmo mês do ano passado. Até a terceira semana de junho do corrente ano o Brasil acumula vendas de 7,56 milhões de toneladas no mês, podendo chegar a 12,2 milhões de toneladas no total de junho caso a média diária permaneça.

Neste sentido, a Anec estima exportações ainda menores, ao redor de 11 milhões de toneladas em junho, revisando sua posição anterior. Para o farelo de soja a entidade projeta exportações de 2,04 milhões de toneladas no mês de junho, contra 1,39 milhão em junho de 2020.

Enquanto isso, a Datagro aponta para um aumento importante nas exportações brasileiras de soja para o ano de 2021. Os embarques totais do complexo soja somariam 106,5 milhões de toneladas, superando em 5% o volume total do ano passado. Seriam 87,5 milhões de toneladas de grãos de soja (+4,9% sobre o ano anterior); 18 milhões de farelo (+6,1%); e 1,05 milhão de toneladas de óleo de soja (- 5,3%). A partir dos preços médios praticados no transcorrer do ano, em valor o complexo soja resultará em exportações ao redor de US$ 45,5 bilhões. Dependendo do que os demais setores obterão nas exportações deste ano, o complexo soja poderá participar com 20% do valor total exportado pelo Brasil em 2021. Para 2022 a consultoria avança uma projeção de exportação ao redor de 109,2 milhões de toneladas, com o grão podendo chegar a 90,5 milhões. Obviamente, tudo isso em condições climáticas normais.

Já a SECEX aponta que o Brasil exportou, nas três primeiras semanas de junho, um total de 7,56 milhões de toneladas de soja em grão, confirmando que o ritmo dos embarques diminuiu. Apesar dessa desaceleração, o acumulado de soja pelo Brasil em todo ano, está em 57,8 milhões de toneladas, contra 52,4 milhões do ano passado, neste mesmo período.

Vale ainda destacar que o Centro-Oeste iniciou seu período de vazio sanitário para a soja, visando conter a ferrugem asiática. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, o mesmo começou em 15 de junho e durará 90 dias. O período de plantio da nova safra de soja naquele Estado ocorre entre 16/09 e 31/12, sendo obrigatório o cadastro da área plantada.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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