Além da adequada adubação, manejo fitossanitário e escolha da cultivar, o posicionamento das culturas no campo, em um sistema de produção agrícola pode contribuir significativamente para o aumento da produtividade. Pensando na cultura do milho, a correta distribuição temporal das culturas pode refletir no aumento da produtividade da lavoura.

Levando em consideração o emprego de culturas de cobertura durante o período entressafra, a escolha da cultura que antecede o milho pode ser fundamental para o aumento da produtividade e sustentabilidade da lavoura. Efeitos positivos no rendimento da cultura do milho em sucessão a espécies da família Fabaceae são observados por diversos autores.

Segundo Michelon et al. (2019), resultados observados por Giacomini et al. (2004), demonstram em três safras consecutivas rendimento 40% maior de grãos do milho quando em sucessão a espécies da família Fabaceae, do que aquelas da família Poaceae, justificado pelo aumento na disponibilidade de Nitrogênio (N) no solo e consequente maior acúmulo de Nitrogênio na cultura do milho.

As espécies de cobertura de solo no outono-inverno da família das Fabaceas têm capacidade de fixar N atmosférico pela simbiose com bactérias específicas. Isso eleva a disponibilidade desse nutriente no solo, tornando as plantas de espécies dessa família adequadas para anteceder a cultura do milho (Embrapa, 2017).

Uma das espécies da família Fabaceae muito utilizada como planta de cobertura antecedendo a cultura do milho, em especial no Sul do Brasil é a ervilhaca comum (Vicia sativa), espécie popularmente conhecida por sua elevada habilidade em acumular Nitrogênio.

Figura 1. Quantidade de nitrogênio fixado por plantas leguminosas (Fabaceae).

*Cálculo referente a dois terços do nitrogênio encontrado na parte aérea das leguminosas acima. Fonte: Carlos et al. (2006)

Cerca de 46 kg de N são acumulados por tonelada de massa seca de parte aérea de ervilhaca comum e a contribuição média de N dessa espécie é de 120 kg/ha, variando de 50 kg/ha a 200 kg/ha, entretanto, cabe destacar que 60% do N da fitomassa da ervilhaca são liberados durante os primeiros 30 dias após seu manejo. Em decorrência disso, recomenda-se que a semeadura de milho ocorra num período de tempo não superior a uma semana após o manejo dessa espécie (Embrapa, 2017).



Figura 2. Milho semeado em sucessão à ervilhaca ainda em ciclo vegetativo.

Fonte: Santos et al. (2007), apud. Eicholz et al. (2020)

Os benefícios do cultivo do milho em sucessão a ervilhaca são observados principalmente na produtividade da cultura, sendo considerável o aumento da produtividade do milho cultivado após ervilhaca, quando comparado ao milho cultivado após pousio ou Poaceas.

Conforme observado por Zanata et al. (2015), o uso da ervilhaca como cultura antecessora do milho aumenta sua produtividade em 7%, em comparação à aveia preta (Figura 3). Resultados similares demonstrando o incremento da produtividade do milho cultivado em sucessão a ervilhaca fora encontrado anteriormente por Heinrichs et al. (2001).

Figura 3. Produtividade de grãos de milho cultivado sob diferentes plantas de cobertura de solo, Curitibanos-SC, 2015.

Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Fonte: Zanata et al. (2015)

Além do aumento da produtividade do milho, resultados experimentais obtidos pela Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, indicam que sistemas de produção para milho, se bem planejados, podem substituir parcial ou totalmente a adubação nitrogenada, sem perda na produtividade de grãos (Santos & Pires, 2004).

Entretanto, cabe destacar que assim como a maioria das Fabaceas, a ervilhaca apresenta uma baixa relação C/N, o que confere pouca persistência da palhada na superfície do solo, característica indesejada se tratando do sistema plantio direto. Uma alternativa é o consorcio da ervilhaca com uma espécie da família Poaceae, sendo a mais usual a aveia preta (aveia comum). A densidade de semeadura indicada para o consórcio aveia preta e ervilhaca comum é de 50% de aveia (50 kg/ha de sementes) e 50% de ervilhaca (45 kg/ha de sementes) (Embrapa, 2017).

Referências:

CARLOS, J. A. D. et al. ADUBAÇÃO VERDE: DO CONCEITO À PRÁTICA. ESALQ – Divisão de Biblioteca e Documentação, 2006. Disponível em: < https://ciorganicos.com.br/biblioteca/adubacao-verde-do-conceito-a-pratica/ >, acesso em: 14/12/2022.

EICHOLZ, E. D. et al. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DO MILHO E SORGO NA REGIÃO SUBTROPICAL DO BRASIL: SAFRAS 2019/20 E 2020/21. Associação Brasileira de Milho e Sorgo, Sete Lagoas- MG, 2020. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202011/23092828-informacoes-tecnicas-para-o-cultivo-do-milho-e-sorgo-na-regiao-subtropical-do-brasil-safras-2019-20-e-2020-21.pdf >, acesso em: 14/12/2022.

EMBRAPA. INDICAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DE MILHO E DE SORGO NO RIO GRANDE DO SUL SAFRAS 2017/2018 E 2018/2019. Embrapa, 2017. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202003/12103455-livro-indicacoes-tecnicas-milho-sorgo-2017-18-e-18-2019.pdf >, acesso em: 14/12/2022.

GIACOMINI, S. J. et al. CONSORCIAÇÃO DE PLANTAS DE COBERTURA ANTECEDENDO O MILHO EM PLANTIO DIRETO. II – NITROGÊNIO ACUMULADO PELO MILHO E PRODUTIVIDADE DE GRÃOS. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 2004.

HEINRICHS, R. et al. CULTIVO CONSORCIADO DE AVEIA E ERVILHACA: RELAÇÃO C/N DA FITOMASSA E PRODUTIVIDADE DO MILHO EM SUCESSÃO. R. Bras. Ci. Solo, 25:331-340, 2001. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbcs/a/PdFt5M6wTqcZp7FfbScJwcc/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 14/12/2022.

MICHELON, C. J. et al. ATRIBUTOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DO MILHO CULTIVADO EM SUCESSÃO A PLANTAS DE COBERTURA DE INVERNO. Rev. Ciênc. Agrovet., Lages, SC, Brasil, 2019. Disponível em: < https://www.revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria/article/view/9872 >, acesso em: 14/12/2022.

SANTOS, H. P.; PIRES, J. L. POR QUE CULTIVAR MILHO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 141, 2004. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/co/p_co141.pdf >, acesso em: 14/12/2022.

ZANATA, L. F. et al. RENDIMENTON DE MILHO CULTIVADO SOB DIFERENTES PLANTAS DE COBERTURA NO PLANALTO CATARINENSE. XXXV Congresso brasileiro de Ciência do Solo, 2015. Disponível em: < https://www.eventossolos.org.br/cbcs2015/arearestrita/arquivos/1374.pdf >, acesso em: 14/12/2022.

Acompanhe nosso site, siga nossas mídias sociais (SiteFacebookInstagramLinkedinCanal no YouTube)

 

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.