O monitoramento das pragas da soja pode ser feito de várias formas: com armadilhas de feromônio, armadilhas automáticas e, até mesmo, a partir de imagens coletadas por drones.
Entretanto, o método mais simples e eficaz é o pano-de-batida tradicional ou vertical, com uma frequência de, pelo menos, duas vezes por semana. Dessa forma, é possível estimar a população de pragas nas diferentes partes da lavoura, desde o início do desenvolvimento até o final do ciclo da soja.
Para a contagem e identificação das formas jovens dos insetos, pode ser necessário o uso de lentes de aumento, como no caso de tripes e ácaros. Os dados referentes às vistorias devem ser anotados em uma ficha de avaliação de campo, com identificação das espécies, tamanho e número para cada ponto amostral.
O conjunto destes dados perfazem uma média por unidade de lavoura (talhão), que deverá ser manejada em função das características daquela população infestante.
O monitoramento deve ser feito em diferentes pontos da lavoura, com duas batidas de pano em uma fileira de soja (1,0 m), totalizando 1,0 m² de área amostrada para cada ponto.
A quantidade de amostragens varia conforme o tamanho das áreas. Recomenda-se coletar, no mínimo, 6 amostras para áreas de até 10 ha, 8 amostras para áreas de 11 a 30 ha e 16 amostras para áreas de 30 a 100 ha. Para áreas superiores a 100 ha, recomenda-se subdividir em talhões de 100 ha.
Figura 1. Monitoramento de pragas da soja com pano de batida tradicional.
Os procedimentos de monitoramento devem ser adaptados conforme o estádio fenológico da cultura. De V1 a V3, deve-se vistoriar 2,0 m de fileira de soja com um bastão (1,0 m²) e examinar minuciosamente as folhas e brotos, contando e registrando: ovos, larvas/ninfas, adultos nas plantas e no solo, além de observar injúrias e/ou plantas mortas. A partir de V4 até o fim da fase vegetativa, procede-se a batida de pano tradicional em 2,0 m de fileira de soja (1,0 m²) vistoriando ramos, folhas, brotações e registrando: ovos, larvas/ninfas, adultos de insetos e ácaros nas plantas, além de observar injúrias. Por fim, na fase reprodutiva (R1 – R7), mantém-se a recomendação anterior, acrescido da vistoria em flores e legumes.
O horário da avaliação pode interferir no monitoramento dos insetos, dependendo da mobilidade destes na cultura e da facilidade de contagem. Os percevejos, por exemplo, precisam elevar a sua temperatura corporal para alçar voo; portanto, nos horários mais frescos do dia, esses insetos levam mais tempo para voar, facilitando a contagem. A exposição dos percevejos no topo das plantas é maior no início da manhã e no final da tarde, sendo os momentos mais adequados para a coleta.
O monitoramento correto das pragas é essencial para determinar se a população infestante atingiu o nível de dano econômico da espécie. Segundo a definição clássica de Stern et al. (1959), essa é a menor densidade populacional de pragas que pode causar danos econômicos significativos às plantas. Entretanto, o nível de ação de controle antecede o nível de dano econômico, sendo o momento correto para iniciar as medidas de manejo e evitar que a população da praga aumente.
Figura 2. Níveis de ação de controle para as principais pragas da soja.
Apesar de os níveis de ação já terem sido determinados para as principais pragas da soja, algumas espécies permanecem sob estudo. Além disso, vários desses parâmetros foram estimados quando a maioria das cultivares de soja possuíam ciclo mais longo, hábito de crescimento determinado e eram semeadas mais tarde, cenário diferente do praticado atualmente. Diante dessas mudanças, surgem dúvidas entre os técnicos e produtores quanto à validade dos níveis de ação recomendados. Estudos atuais têm confirmado a segurança dos níveis de ação adotados, mas as pesquisas seguem em andamento para buscar maior refinamento desses parâmetros.
Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.
Referências:
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