Com a aproximação do fim do inverno, é chegado o momento de planejar a nova safra de milho. Em muitos locais da região Sul, essa cultura antecede o cultivo da soja safrinha e começa a ser semeada já em agosto, enquanto no Centro-oeste costuma ocorrer o inverno: milho safrinha cultivado após a soja precoce. Em ambos os casos, a cultura do milho no Brasil está associada à dezenas de espécies de insetos. Entretanto, apenas algumas apresentam características de praga-chave, como regularidade de ocorrência, abrangência geográfica e potencialidade para causar danos economicamente significativos (BARROS, 2011).

A cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis, é uma das mais importantes pragas da cultura do milho atualmente. Trata-se de um inseto vetor de fitopatógenos pertencentes à classe dos molicutes (espiroplasma e fitoplasma), causadores dos enfezamentos vermelho e pálido em plantas de milho, além do vírus da risca. Estes patógenos agem de forma sistêmica nas plantas, dificultando ou impedindo a passagem de fotoassimilados e reduzindo o potencial de crescimento, podendo ocasionar perdas de até 100% na cultura (MENDES et al., 2019).

Figura 1. Cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis.

Fonte: http://www.pragas.com

O percevejo barriga-verde, Diceraeus furcatus ou D. melacanthus, também é considerado uma praga de importância em lavouras de milho devido ao seu potencial para ocasionar redução no estande da cultura. Esta praga se alimenta na região do caulículo das plântulas de milho, causando pequenas perfurações e injetando nos tecidos da planta uma enzima tóxica para facilitar sua alimentação.

Figura 2. Danos causados por percevejo barriga-verde, Diceraeus furcatus ou D. melacanthus, em plântulas de milho.

Fonte: Mendes et al., 2019.

À medida que o milho cresce e as folhas se desenvolvem, a lesão aumenta, formando áreas necrosadas no sentido transversal da folha, podendo esta dobrar na região danificada. Como resultado do dano do percevejo, as plantas de milho ficam com o desenvolvimento comprometido, apresentando um aspecto popularmente chamado de “encharutamento” ou “enrosetamento”. Em ataques severos pode ocorrer ainda perfilhamento e morte de plantas, com consequente redução no estande da lavoura.

Já a lagarta-do-cartucho do milho, Spodoptera frugiperda, representa um dos maiores problemas relacionado ao manejo de pragas em lavouras de milho no Brasil, seja na primeira ou na segunda safra. É considerada a praga-chave do milho em toda América do Sul, causando danos também em lavouras de soja, sorgo, arroz e algodão.

Um dos grandes desafios para o manejo dessa espécie em lavouras de milho é a ocorrência de gerações sobrepostas, sendo possível encontrar em um mesmo cartucho de milho lagartas em diferentes estádios de desenvolvimento; entretanto, dificilmente verifica-se a ocorrência de mais de uma lagarta grande por cartucho, devido ao processo de canibalismo. Como danos típicos do inseto, podem ser citados a raspagem das folhas pelas larvas de primeiro instar e a destruição do cartucho por larvas mais desenvolvidas (MENDES et al., 2019).

Figura 3. Lagarta-do-cartucho do milho, Spodoptera frugiperda.

Fonte: Mendes et al., 2019.

A lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus, ocorre com maior frequência em solos arenosos sob vegetação de cerrado e em períodos secos após as primeiras chuvas, sobretudo no primeiro ano de cultivo. Os maiores prejuízos para a cultura do milho são causados nos primeiros trinta dias após a germinação. Devido ao ataque, ocorre primeiramente a morte das folhas centrais, cujo sintoma é denominado “coração morto”. Uma característica importante desta praga é que as larvas são bastante ativas e saltam quando tocadas.

Por fim, o pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis, é um inseto sugador de seiva do floema da planta. Durante a alimentação o pulgão excreta o excesso de seiva ingerida, na forma de uma substância açucarada conhecida como “honeydew”, deixando as folhas meladas e pegajosas, e propiciando o desenvolvimento de fungos. Além disso, o pulgão-do-milho é vetor de viroses, podendo transmitir o vírus do mosaico comum do milho (TOBIAS et al., 2017). Além disso, cabe destacar as pragas de solo, insetos que se alimentam das sementes após a semeadura e também das raízes das plantas. Na cultura do milho, podem ser encontrados a larva-arame, cupins e corós.

A partir da próxima semana, abordaremos de forma detalhada o monitoramento, os danos, as alternativas de controle químico e biológico relacionadas a cada uma dessas importantes pragas da cultura do milho.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

Referências:

BARROS, Ricardo. Pragas do milho. Tecnologia de produção: soja e milho, v. 2012, p. 275-296, 2011.

CONTINI, Elisio et al. Milho: caracterização e desafios tecnológicos. Brasília: Embrapa.(Desafios do Agronegócio Brasileiro, 2), 2019.

CRUZ, Ivan et al. Risco potencial das pragas de milho e de sorgo no Brasil. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2013.

DUARTE, MARCELA MARCELINO; ÁVILA, CRÉBIO JOSÉ; SANTOS, VIVIANE. Danos e nível de dano econômico do percevejo barriga-verde na cultura do milho. Brazilian Journal of Maize and Sorghum, v. 14, n. 3, p. 291-299, 2015.

LIMA, Bruna Viana et al. Pragas da cultura do Milho. Revista Conexão Eletrônica, v. 13, p. 1-15, 2016.

MENDES, Simone M. et al. Manejo de pragas no milho de segunda safra: com ou sem a utilização de milho Bt. Embrapa Milho e Sorgo-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2019.

TOBIAS, L. H. et al. Incidência do pulgão-do-milho em resposta ao tratamento de sementes com inseticidas químicos. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: JORNADA ACADÊMICA DA EMBRAPA SOJA, 12., 2017, Londrina. Resumos expandidos… Londrina: Embrapa Soja, 2017. p. 108-118., 2017.

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