A inoculação da soja com bactérias do gênero Bradyrhizobium é essencial para que ocorra o processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN), cujo objetivo é suprir a demanda de nitrogênio da cultura. Conforme destaca Prando et al. (2019), a fixação biológica de nitrogênio consiste em um dos pilares de sustentabilidade do sistema de produção da soja no Brasil, resultando em uma série de benefícios ao dispensar o uso de fertilizantes nitrogenados na cultura.

O nitrogênio é o macronutriente requerido em maior quantidade pela cultura da soja, para cada tonelada de grãos produzidos, são necessários aproximadamente 80 Kg de Nitrogênio, dos quais cerca de 50 Kg são exportados pelos grãos (Gitti et al., 2019). O processo de fixação biológica de nitrogênio eficiente tem a capacidade de fornecer toda a quantidade necessária de nitrogênio para produtividades médias de soja de até 3.600 kg ha-1 (Gitti, 2016). Martin et al. (2022) afirmam que em áreas de primeiro cultivo a respostas das plantas à prática da inoculação é elevada, nessas áreas a dose empregada deve ser pelo menos o dobro da utilizada em áreas de cultivo tradicional da soja.



Várias pesquisas demonstraram melhorias médias de aproximadamente 8% na produtividade da soja resultantes da prática anual de inoculação com Bradyrhizobium em áreas tradicionais de cultivo. Além disso, a combinação de duas bactérias benéficas, Bradyrhizobium e Azospirillum, conhecida como processo de coinoculação, pode resultar em um aumento ainda mais expressivo na produtividade da cultura da soja, chegando a até 16%. O processo de coinoculação com Azospirillum vai além da promoção da fixação de nitrogênio e à produção de hormônios vegetais que estimulam o crescimento, especialmente do sistema radicular (Prando et al., 2022).

Um sistema radicular mais desenvolvido apresenta várias vantagens, como uma maior capacidade de absorver água e nutrientes, tornando a planta menos suscetível ao estresse hídrico. Além disso, proporciona maior vigor e equilíbrio nutricional nas plantas, devido ao melhor aproveitamento dos nutrientes do solo e fertilizante. O maior desenvolvimento do sistema radicular, proporcionado pelo Azospirillum, também leva a uma maior nodulação das raízes, consequentemente, contribui para o aumento na fixação biológica de nitrogênio (Hungria & Nogueira, 2014).

A legislação brasileira estabelece requisitos mínimos para os inoculantes, exigindo que contenham pelo menos 1 bilhão de células viáveis ​​de Bradyrhizobium spp. por grama ou mililitro, e que na diluição 10-5 não sejam encontrados contaminantes. A quantidade de inoculante aplicado nas sementes deve ser suficiente para fornecer no mínimo 1,2 milhão de células viáveis ​​por sementes de soja, além disso, o volume de inoculante líquido aplicado não deve ser inferior a 100 mL, sem qualquer diluição em água, para cada 50 kg de semente, garantindo assim uma distribuição uniforme nas sementes.

O número de bactérias por semente é calculado com base na concentração indicada no rótulo do inoculante, conforme registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) na embalagem do produto (Hungria & Nogueira, 2020). Abaixo podemos visualizar os tipos de inoculantes, bem como as suas formas de aplicação na cultura da soja.

Figura 1. Tipos de inoculantes (líquido e turfa) e formas de aplicação na cultura da soja.

Fonte: Gitti et al. (2019).

Para melhorar a cobertura e adesão dos inoculantes turfosos às sementes, uma estratégia eficiente consiste no uso de substâncias adesivas. Nesse sentido, recomenda-se a utilização de uma solução açucarada contendo açúcar e água a 10%, o qual vai proporcionar maior adesão do inoculante às sementes. Para o preparo da solução, basta adicionar 100 g de açúcar para cada 1 litro de água utilizado, o que equivale a uma concentração de 10%, deve-se utilizar equipamentos próprios como tambor giratório ou betoneira. Além disso, o umedecimento das sementes deve ser realizado antes da adição do inoculante turfoso.

Estudos realizados pela Embrapa avaliando a coinoculação da soja com Bradyrhizobium e Azospirillum na safra 2021/2022 no Paraná, observaram a efetividade da coinoculação na soja em relação as plantas não inoculadas, com a presença de nódulos ativos na região da coroa das raízes. Além disso, foram registrados aumentos significativos tanto na nodulação das raízes como na produtividade das plantas que passaram pelo processo de coinoculação.



A média de nódulos na raiz principal foi de 14,5 nódulos por planta nas áreas que passaram pelo processo de coinoculação, enquanto nas áreas não inoculadas, essa média foi de 11,2 nódulos por planta. Isso representa um aumento médio de 29,3% no número de nódulos nas plantas coinoculadas em comparação com as não inoculadas, evidenciando claramente o impacto positivo da coinoculação na nodulação das raízes.

Figura 2. Comparação do sistema radicular e do número de nódulos na raiz principal de 10 plantas de soja da testemunha sem inoculação (direita) e de plantas coinoculadas com Bradyrhizobium + Azospirillum (esquerda).

Fonte: Prando et al. (2022).

Além disso, foi notada uma produtividade superior nas áreas submetidas à coinoculação. A produtividade média de grãos nas áreas coinoculadas foi de 2.743 kg/ha, enquanto nas áreas de controle não inoculadas, a produtividade alcançou 2.442 kg/ha.

Figura 3. Resumo dos resultados das Unidades de Referência (URs) sobre coinoculação de soja com Bradyrhizobium + Azospirillum em áreas de produtores assistidos pelo IDR-Paraná, nas safras 2017/2018, 2018/2019, 2019/2020, 2020/2021 e 2021/2022.

Fonte: Prando et al. (2022).

Conforme Nogueira & Hungria (2012), alguns cuidados devem ser tomados no processo de inoculação. É importante realizar a inoculação à sombra e proteger o inoculante do calor excessivo. Além disso, a semeadura deve ser feita imediatamente após o processo de inoculação. A distribuição do inoculante deve ser realizada de maneira uniforme na semente e deixar secar à sombra. É essencial seguir as instruções técnicas específicas para cada produto, no caso de inoculação no sulco de semeadura, que pode substituir a inoculação tradicional, a dose deve ser pelo menos três vezes a do método tradicional, e o volume mínimo de calda de 50 L ha-1.

Se for realizado o tratamento de sementes com fungicidas e micronutrientes, é importante optar por produtos menos tóxicos para a bactéria, e é ainda mais importante realizar a semeadura logo após a inoculação para preservar as bactérias. Além disso, os nutriente cobalto e molibdênio são fundamentais para que ocorra o processo de FBN, no entanto, esses nutrientes podem ser tóxicos para as bactérias. Nesse caso, é aconselhável a aplicação foliar desses nutrientes entre os estádios V3 e V5 da soja, garantindo que as bactérias não sejam prejudicadas.


Veja mais: Como a plantabilidade influencia a produtividade da Soja?



Referências:

GITTI, D. R. et al. MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: safra 2018/2019. Fundação MS, cap. 1. Maracaju – MS, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 27/10/2023.

GITTI, D. R. INOCULAÇÃO E COINOCULAÇÃO NA CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: safra 2015/2016. Fundação MS, cap. 1. Maracaju – MS, 2016. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-20152016.pdf >, acesso em: 27/10/2023.

HUNGRIA, M.; NOGUEIRA, M. A. FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO. Embrapa Soja, Tecnologias de Produção de Soja, cap. 8. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 27/10/2023.

HUNGRIA, M.; NOGUEIRA, M. A. Rizóbios E Azospirillum EM SOJA E FEIJOEIRO. Embrapa Soja, Tecnologia de Coinoculação, 2014. Disponível em>: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/101148/1/folder-coinoculacao-2-copy.pdf >, acesso em: 27/10/2023.

MARTIN, T. N. et al. INDICAÇÕES TÉCNICAS PARA A CULTURA DA SOJA NO RIO GRANDE DO SUL E EM SANTA CATARINA, SAFRAS 2022/2023 E 2023/2024. 43° Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/77681724/Indica%C3%A7%C3%B5es+T%C3%A9cnicas+para+a+cultura+da+soja+no+Rio+Grande+do+Sul+e+em+Santa+Catarina%2C+safras+2022-2023+e+2023-2024/59dc57b3-4122-de8a-1009-6f061aa8c47f >, acesso em: 27/10/2023.

NOGUEIRA, M. A.; HUNGRIA, M. INOCULAÇÃO EM SOJA: VALE A PENA FAZER ANUALMENTE. Embrapa Soja, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/115163/1/Inoculacao-em-soja-vale-a-pena-fazer-anualmente.pdf >, acesso em: 27/10/2023.

PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium E Azospirillum NA SAFRA 2018/2019 NO PARANÁ. Embrapa, circular técnica 156. Londrina – PR, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1117312/1/Circtec156.pdf >, acesso em: 27/10/2023.

PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium E Azospirillum NA SAFRA 2021/2022 NO PARANÁ. Embrapa, circular técnica 190. Londrina – PR, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1150565/1/Circ-Tec-190.pdf >, acesso em: 27/10/2023.

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