O uso de agrotóxicos para o manejo fitossanitário das culturas agrícolas é indispensável para a manutenção da produtividade e qualidade dos grãos produzidos em escala comercial. Herbicidas são utilizados para o controle das plantas daninhas, fungicidas para o controle de doenças e inseticidas para o combate a pragas que acometem as lavouras.

Entretanto, para o uso eficiente desses defensivos agrícolas, é fundamental atentar para o preparo da calda de pulverização. Além da escolha dos defensivos e definição das doses, fatores devem ser levados em consideração no preparo da calda, dentre eles, a qualidade da água utilizada.

Além de limpa, é essencial analisar/conhecer as propriedades da água utilizada. Um fator determinante para o sucesso da pulverização é a dureza da água. Embora muitas vezes essa variável demonstre uma tímida participação na qualidade da calda, ela pode ser responsável por aumentar ou reduzir a eficiência de aplicação.

Em resumo, a dureza da água é capaz de interferir negativamente na qualidade da calda de defensivos agrícolas, uma vez que eles, nas suas formulações, utilizarem adjuvantes que são responsáveis pela sua emulsificação (óleos) ou dispersão (pós) na água, denominados de tensoativos. Tais adjuvantes são sensíveis à dureza, pois atuam no equilíbrio de cargas que envolvem o ingrediente ativo, equilíbrio este que é alterado pela água dura (Queiroz; Martins; Cunha, 2008).

De acordo com  Pereira; Moura; Pinheiro (2015), a alteração nesse equilíbrio pode resultar na floculação ou precipitação dos componentes da formulação do agrotóxico, e consequentemente, obstrução dos filtros, linhas e pontas de pulverização.

Figura 1. Obstrução dos filtros de pulverização.

Quando maior a concentração de Carbonato de Cálcio na água, mais dura ela é. A água pode ser classificada como muito branda, branda, semi dura, dura e muito dura. Quando maior a dureza maior a concentração de sais solúveis na água (tabela 1).


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Tabela 1. Classificação da água quando à dureza.
Fonte: Conceição (2003), apud. Pereira; Moura; Pinheiro (2015)

Vale destacar que além da qualidade da água, é importante atentar para a ordem de mistura dos defensivos na calda de pulverização. É consenso que na prática, a mistura com mais de um defensivo agrícola na calda de pulverização é utilizada no manejo fitossanitário das culturas.

Entretanto, alguns produtos além de apresentar antagonismo ou sinergismo pós aplicação, podem apresentar incompatibilidade no preparo da calda, dependendo da combinação de produtos e da ordem com que são adicionados ao tanque de pulverização.

Figura 2.  Sensor de pressão entupido o que compromete o sistema eletrônico e a vazão na linha principal (A); incompatibilidade da mistura de herbicidas e o consequente entupimento nos filtros de barra (B).
Fotos: Arquivo UENP/Nitec

Pensando nisso, diversas recomendações tem surgido ao longo do tempo para auxiliar e orientar técnicos e produtores no preparo das caldas de pulverização. Embora a formulação de produtos possa variar inclusive se tratando do mesmo princípio ativo, no geral, deve-se dar preferência por adicionar primeiramente a calda de pulverização as formulações mais difíceis de se dissolver. Contudo, sempre deve-se seguir as orientações do fabricante e bula.

Ainda que possa haver variações em função das diferentes formulações e doses, no geral, orienta-se a seguinte ordem de mistura:

  • Passo 1: Encha o tanque com água em até 2/3 do volume a ser aplicado;
  • Passo 2: Inicie o processo de agitação e o mantenha até o final;
  • Passo 3: Adicione os condicionadores de água (agentes sequestrantes, acidificantes e tamponantes), agentes redutores de deriva, agentes antiespumante e de compatibilidade (caso a adição seja necessária);
  • Passo 4: Siga a ordem de mistura abaixo.
Figura 3. Ordem de adição de produtos no tanque de pulverização.

Não menos importante, deve-se atentar para o pH da calda. O pH da água empregada pode influenciar a estabilidade do princípio ativo do defensivo, (sujeito à degradação por hidrólise) e a estabilidade física da calda, podendo, inclusive, impactar a eficácia e estabilidade do produto (Pereira; Moura, Pinheiro, 2015).

De modo geral, se tratando de herbicidas, inseticidas e fungicidas, o pH ideal da calda de pulverização deve se aproximar a 5, podendo haver variações (figura 4). Contudo, é importante frisar que o uso de caldas com pH inadequado pode inclusive reduzir o tempo de meia vida do produto, comprometendo sua eficácia de controle. Dessa forma, fica evidente a necessidade em analisar o pH da calda de pulverização, visando ajusta-lo sempre que necessário à faixa ideal do produto, para melhor eficiência de aplicação e eficácia de controle.

Figura 4. pH ideal para cada tipo de aplicação de defensivos agrícolas.
Adaptado: Revista Campo & Negócio (2016)

Outro fator importante a se observar no preparo da calda de pulverização é a temperatura da água. Conforme analisado por Boff et al. (2019), temperaturas da água da calda, muito baixas ou muito altas, respectivamente em torno de 10°C e de 50°C, podem prejudicar a eficiência de algumas defensivos, a exemplo do Mancozebe. Analisando a influência da temperatura da água para a confecção da calda de pulverização com mancozebe para o controle da ferrugem-asiática da soja, os autores observaram que a água a 30°C mostrou-se a melhor opção.

Com relação a temperatura do ambiente, temperaturas abaixo de 15 °C diminuem a atividade fisiológica das plantas, reduzindo a absorção dos produtos que apresentam instabilidade física ou química, como é o caso dos sistêmicos ou daqueles que apresentam ação translaminar. Contudo, a temperatura ideal deve estar abaixo de 32°C (Azevedo & Freire, 2006).

Na dúvida, consulte um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).

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Referências:

AZEVEDO, F. R.; FREIRE, F. C. O. TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS. Embrapa, Documentos, n. 102, 2006. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/426350/1/Dc102.pdf >, acesso em: 18/11/2024.

BOFF, J. A. TEMPERATURA DA ÁGUA E O PREPARO DE CALDA COM MANCOZEBE. PERSPECTIVA, Erechim. v. 43, n.163, p. 99-106, 2019. Disponível em: < https://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/163_775.pdf >, acesso em: 18/11/2024.

CAMPO & NEGÓCIOS. pH IDEAL DE CALDA PARA PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS. Revista Campo & Negócio, 2016. Disponível em: < https://www.rigrantec.com.br/upload/produtos_artigos/f0102—ph-ideal-de-calda-para-produtos-fitossanitarios—ph-5-zn-1547742223.85.pdf >, acesso em: 18/11/2024.

PEREIRA, R. B.; MOURA, A. P.; PINHEIRO, J. B. TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS EM CULTIVO PROTEGIDO DE TOMATE E PIMENTÃO. Embrapa, Circular Técnica, n. 144, 2015. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1024615/tecnologia-de-aplicacao-de-agrotoxicos-em-cultivo-protegido-de-tomate-e-pimentao >, acesso em: 18/11/2024.

QUEIROZ, A. A.; MARTINS, J. A. S.; CUNHA, J. P. A. R. ADJUVANTES E QUALIDADE DA ÁGUA NA APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS. Biosci. J., Uberlândia, v. 24, n. 4, 2008. Disponível em: < https://seer.ufu.br/index.php/biosciencejournal/article/download/6923/4587/0#:~:text=Geralmente%2C%20os%20adjuvantes%20hidrof%C3%ADlicos%2C%20com,HESS%3B%20FOY%2C%202000). >, acesso em: 18/11/2024.

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