Por Jossana Cera – Meteorologista (CREA-RS 244228)

Condições meteorológicas ocorridas em setembro de 2025 no estado do Rio Grande do Sul (RS)

Conforme previsão climática, a tendência é redução nas precipitações, no Estado do RS, nos próximos meses

O mês de setembro foi mais chuvoso que agosto, bem como os prognósticos vinham prevendo para o RS. Os maiores acumulados concentraram-se no Noroeste, acima dos 280 mm. Com exceção da Zona Sul e de parte da Campanha, toda a Metade Sul teve acumulados superiores a 160 mm (Figura 1A). Ficaram com anomalias negativas de precipitação, a Zona Sul e parte das Planícies Costeiras Interna e Externa (Figura 1B). O menor volume de chuvas na Zona Sul favoreceu o avanço da semeadura do arroz na região. Para se ter uma ideia, no levantamento do dia 02 de outubro, a Zona Sul tinha quase 40% da área semeada, enquanto nenhuma das demais regiões havia ainda alcançado os 10%.

Figura 1: Mapa da precipitação pluvial acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B), em mm, no estado do Rio Grande do Sul, durante o mês de setembro de 2025, em relação aos valores da Normal Climatológica, relativa ao período 1991-2020. Fonte de dados: INMET.

As chuvas foram frequentes em setembro, com quatro a seis eventos, dependendo da região. As temperaturas oscilaram, com mínimas ao redor dos 5°C, no início do mês, e passaram dos 30°C em alguns municípios, ao redor do 20 de setembro (Figura 2). A temperatura do ar mensal ficou dentro do padrão normal.

Figura 2: Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C) e suas respectivas Normais Climatológicas (°C) relativas ao período 1991-2020 (nas linhas pontilhadas em vermelho e azul) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de setembro de 2025, em quatro municípios da Metade Sul do RS, representativos de quatro regiões arrozeiras. Fonte de dados: INMET. *O INMET está passando por reformulação em suas estações meteorológicas, por isso está havendo falha nos dados de algumas estações.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño – Oscilação Sul) e perspectivas

Segundo a atualização da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), de 09 de outubro de 2025, o sistema acoplado oceano-atmosfera no Oceano Pacífico equatorial refletiu as condições frias do ENOS (El Niño-Oscilação Sul), ou seja, condições de La Niña. No entanto, ao se analisar os dados, percebe-se que essa afirmação é um pouco forçada, visto que as águas mal resfriaram e ainda não se tem um mês completo com anomalias igual ou abaixo de -0,5°C. Alguns indicadores atmosféricos até tem respondido à fase fria do ENOS. No entanto, o IOS (Índice de Oscilação Sul) segue neutro. Em setembro, a anomalia mensal da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 foi de -0,4°C, dentro do padrão Neutro e, na região Niño 1+2, foi de -0,2°C (Figura 3). A anomalia trimestral, referente a Jul-Ago-Set/2025, baixou para -0,3°C, também dentro da faixa de Neutralidade.

Figura 3: Anomalia da temperatura (°C) da água da Superfície do Mar no mês de setembro de 2025. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade de distribuição das chuvas, ou seja, sua regularidade de ocorrência no estado do RS. Fonte: Adaptado de CPTEC.

A fase Neutra do ENOS é compreendida por temperaturas entre -0,5 e +0,5°C pelo conceito da NOAA e de -0,8 a +0,8°C pelo conceito do Centro Australiano de Meteorologia. Para os australianos, esse limiar de -0,8°C precisa ser sustentado por, pelo menos, três meses, para haver um indicativo de La Niña, além de serem acompanhadas por uma resposta atmosférica consistente. O fato de a NOAA ter declarado estado de La Niña tão precocemente assim, pode estar atrelado ao índice ONI relativo (RONI), já mencionado no texto do mês passado.

O que acontece é que há ampla presença de áreas com anomalias positivas de temperatura da superfície do mar na maior parte dos oceanos globais. Esse cenário tem chamado a atenção, pois pode estar influenciando o clima do Planeta e interferindo nos prognósticos do ENOS, uma vez que tende a mascarar sinais captados pelos modelos de previsão. Isso é tão importante, que tanto o Instituto Americano de Meteorologia (NOAA), quanto o australiano (Bureau of Meteorology) mudaram a forma de calcular o índice ONI (Oceanic Niño Index). Agora eles passaram a usar o índice RONI, que é o índice ONI relativo. Isso visa remover o efeito desse aquecimento, proporcionando uma visão mais clara do status do ENOS. Segundo o Instituto Australiano de Meteorologia, se o aquecimento não for levado em conta, o El Niño pode parecer mais comum e a La Niña menos comum. O problema é que a NOAA fez uma matéria sobre esse tema ainda em 2024, mas não o tem atualizado na sua base de dados que fica disponível para os usuários. O Centro Australiano de Meteorologia já mostra os gráficos do RONI e não mais do ONI. E isso tudo acaba gerando confusão na hora de se analisar os dados e tentar fazer um prognóstico assertivo.

Na atualização do início de outubro, a NOAA elevou a probabilidade de estabelecimento da La Niña para 78%, para o trimestre Out-Nov-Dez/2025 que, junto com o trimestre anterior (Set-Out-Nov) seriam os períodos máximos do fenômeno. A partir do trimestre Nov-Dez/2025 e Jan/2026, as probabilidades caem para 71% e depois para 67%. Logo, o que parece se desenhar é um evento curto, e que talvez nem seja o suficiente para formar uma La Niña fraca, a qual são necessários ao menos cinco períodos de três meses consecutivos com anomalias inferiores a -0,5°C.

O bolsão de águas subsuperficiais com anomalias negativas se mantem, desde agosto (Figura 4). Ele apresentou leve redução de área no início de outubro, com isso, não deverá haver diminuição expressiva das anomalias negativas em superfície.

Figura 4: Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de julho a outubro de 2025. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.

Previsão de Precipitação – trimestre novembro e dezembro de 2025 e janeiro de 2026 no RS

Para este trimestre, o consenso do IRI (International Research Institute for Climate Society) indica déficit de chuvas para quase todo o RS, principalmente a Metade Oeste, onde há 40 a 50% de probabilidade de as chuvas ficarem abaixo do padrão normal. O modelo CFSv2 (Climate Forecast System), da NOAA, prevê precipitações abaixo da NC em novembro e dezembro de 2025 e em janeiro de 2026. Por sua vez, a previsão do modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) indica precipitações dentro da NC em novembro para a Fronteira Oeste, a Campanha, a Zona Sul e boa parte da Região Central. As demais regiões têm tendência de as chuvas ficarem abaixo da NC. Já para dezembro e janeiro, a previsão aponta para chuva abaixo da NC em toda a Metade Sul (Figura 5).

Figura 5: Precipitação pluvial total (mm) e anomalia de precipitação (mm) previstas para novembro e dezembro de 2025 e janeiro de 2026 no estado do RS. Fonte: adaptado de INMET.

Diante desse prognóstico, cresce a atenção para a possibilidade de restrição hídrica durante o ciclo das culturas de primavera-verão no RS, pois independentemente do cenário, se sob Neutralidade ou uma La Niña de fraca intensidade, sempre há risco de estiagem durante o verão.

A tendência geral e corriqueira no RS, é de que as chuvas diminuam mais significativamente a partir de novembro, devendo prosseguir por dezembro e janeiro. Há a expectativa de que chuvas um pouco mais frequentes retornem a partir de final de janeiro ou fevereiro em diante, assim como na safra passada. Lembrando que as chuvas no período do verão são irregulares (mal distribuídas) e, com isso, pode ocorrer de chover mais em alguns locais, que outros.

Nesse momento de semeadura, tanto do arroz quanto da soja, é necessário ficar atento à umidade do solo e à previsão do tempo, para não correr riscos e garantir o bom estabelecimento inicial da lavoura, ainda dentro das épocas de semeaduras recomendadas para essas duas culturas.

Diante desse cenário, ainda de incertezas, recomenda-se o acompanhamento contínuo das previsões meteorológicas de curto prazo (7 a 15 dias), como estratégia para melhorar a eficiência na execução das atividades agrícolas e apoiar a tomada de decisão no manejo das lavouras, assim como da previsão climática, para saber o quanto o Oceano Pacífico irá resfriar e impactar nas chuvas do RS nos próximos meses.

Fonte: IRGA



 

FONTE

Autor:Instituto Rio Grandense do Arroz

Site: Irga

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