A soja é uma planta hospedeira de diversas pragas que podem ser altamente destrutivas e dentre elas está a espécie Melanagromyza sojae, também conhecida como mosca-da-haste da soja. Este inseto praga tem uma ampla distribuição, principalmente em grande parte do continente asiático, África, Austrália e Europa e mais recentemente tem sido registrada sua presença nas Américas.
No Brasil, existem relatos de ocorrência da praga invasiva ainda no ano de 1983 no Sul do país, entretanto, como os danos ainda não eram tão significativos e pela carência de metodologias e taxonomistas específicos desse grupo, a identificação em nível de espécie não foi realizada, sendo apenas registrada em nível de gênero como Melanagromyza sp., não havendo referência à espécie e sua presença era considerada esporádica, sendo mantida na lista das pragas que ainda não estão presentes no território nacional.
Contudo, no ano de 2015, no cultivo de soja safrinha, a equipe do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (Lab Mip) da UFSM confirmou oficialmente a ocorrência da mosca-da-haste da soja em cultivos locais da região Sul, ocasionando perdas na cultura. No mesmo ano, a presença da praga também foi confirmada no noroeste catarinense e no Paraguai e mais recentemente sua presença foi confirmada também na Bolívia.
A praga é caracterizada por não apresentar um sintoma característico na planta atacada em sua fase inicial, evoluindo para um sintoma de encurtamento do entrenó, emissão de ramos laterais e presença de minas nas folhas, além do escurecimento da parte central da planta devido ao ataque da larva que broqueia o caule da soja. Devido a isso, para sua detecção, deve ser realizada a abertura da haste principal da soja e a verificação da presença ou não de galerias ou até mesmo da própria larva ou da pupa em estágio mais inicial.
Em entrevista à equipe Mais Soja, o pesquisador Luis Eduardo Curioletti ressaltou que os danos na fase inicial das plantas são mais prejudiciais pois ela é mais vulnerável e pode causar um prejuízo para o agricultor na ordem de 16% de perda de produtividade, tornando a fase inicial do desenvolvimento da cultura a principal fase para realização do controle. A entrevista completa pode ser acessada em: clique aqui.
Em outros estudos realizados onde avaliou-se o potencial de danos de Melanagromyza sojae, Van Der Goot (1930) observou uma perda de 2% no rendimento da soja na Indonésia, em Taiwan, Talekar (1989) obteve danos na ordem de 21% em seus experimentos, na China Du e Hong (1982) obtiveram um dano entre 20-30%, na Índia Jadhav et al. (2013) tiveram perdas de 33-40% e na Tailândia Suwanpornsakul et al. (1996) observaram danos na ordem de 34-51% na cultura da soja.
Na avaliação da presença da praga na Bolívia, amostras foram coletadas em diferentes regiões do país, e foram enviadas para análise no Lab Mip da UFSM e posteriormente encaminhadas para Porto Alegre para a realização do sequenciamento do genoma, onde os resultado obtidos confirmaram a presença de M. Sojae no país. Entre os espécimes coletados na Bolívia, dois eram novos haplótipos e dois idênticos aos haplótipos encontrados no Brasil. A presença de espécimes dos mesmos haplótipos anteriormente identificadas no Brasil e no Paraguai sugerem que M. sojae pode ter invadido a Bolívia através dois países, enquanto a detecção de haplótipos únicos que não são compartilhados pelos países vizinhos ainda deve ser estudada.
Atualmente, a M. sojae é colocada na categoria de pragas quarentenárias na Bolívia, o que dificulta a abordagem de medidas de controle fitossanitário. No entanto, está causando sérios danos e é amplamente dispersa em todas as áreas de cultivo de soja. A Bolívia é o nono maior produtor de soja do mundo, com uma produção anual de 3,1 milhões de toneladas métricas cultivadas em 1,3 milhão de hectares. Da área total cultivada com soja no país na safra 2017/18, 330.000 hectares foram cultivados na safrinha, e essas áreas tipicamente apresentam maiores taxas de infestação por M. sojae, com uma média de 70% de infestação (contra 20-25% de infestação no início da época de semeadura ou no verão).
A confirmação da ocorrência de M. sojae na Bolívia é mais um passo para o desenvolvimento de um manejo integrado de pragas e resistência regional e específica em cada país e para a elaboração de estratégias de manejo para esta praga. O período geográfico da infestação identificada nos diferentes locais, sugere que o inseto está substancialmente estabelecido, e sua dispersão real pode ser muito maior, embora ainda haja a confirmação da praga em outros países.
Atualmente, medidas de contenção e erradicação da praga seriam caras e inviáveis, além disso, as infestações precoces são difíceis de se detecta devido ao pequeno tamanho das moscas e as cicatrizes de oviposição difíceis de serem percebidos e os danos larvais também podem ser confundidos com os de outras espécies que causam perfurações no caule de soja.
O controle deve ser feito a partir do uso de cultivares resistentes e épocas de semeadura fora dos picos populacionais da praga, uso de parasitoides que podem reduzir a população da praga, uso de inseticidas aplicados no tratamento de sementes ou foliares e da proteção de plantas.
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Redação: Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.