Recentemente o MAPA divulgou uma portaria com 40 pragas eleitas como prioridades para registro e alteração de registro de agrotóxicos em 2019, onde a Ramularia areola ocupa uma das posições de destaque na cultura do algodão. Para acessar a portaria clique aqui.

A mancha de Ramulária é causada pelo fungo Ramularia areola, e é considerada uma das principais doenças do algodoeiro na região do cerrado brasileiro, em virtude da sua alta frequência e intensidade de ocorrência, sobretudo em áreas onde se cultiva o algodão sem se utilizar a prática da rotação de culturas.

Dentre as doenças causadoras de manchas foliares em algodoeiro, a mancha de ramulária tornou-se de maior importância em virtude das condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento do patógeno, aliadas ao uso de cultivares suscetíveis, plantio consecutivo e extenso. A doença também é conhecida como: ramulariose, falso-míldio, míldio areolado ou mancha branca.



Saiba mais sobre esse fungo

Responsável pelo aumento dos custos de produção do algodão no Brasil, ao lado das lagartas e do bicudo-do-algodoeiro, esse fungo está presente em todas as regiões produtoras de algodão do mundo. Em condições de alta umidade, como é o caso do Cerrado, onde se concentra mais de 90% da produção nacional, o patógeno encontra o ambiente favorável para se desenvolver e por isso demanda várias aplicações de fungicidas durante o ciclo da cultura, elevando assim os custos de produção.

Segundo o pesquisador da Embrapa Algodão, Luiz Chitarra, tradicionalmente a doença costumava ocorrer no final do ciclo da cultura, causando poucas perdas econômicas, mas hoje, a mancha de ramulária pode provocar uma redução de até 35% na produtividade. “Nós observamos um crescimento da abrangência e da intensidade do fungo, principalmente em áreas onde se cultiva o algodoeiro sem utilizar a prática da rotação de culturas”, relata.

Os sintomas da doença manifestam-se em ambas as faces da folha, consistindo-se inicialmente em lesões angulosas ou de formato irregular delimitadas pelas nervuras. Apresentam coloração branca e de aspecto pulverulento, caracterizado pela esporulação do fungo, sobretudo na face inferior da folha, causando necrose abaixo da camada de esporos.

 “Em casos de alta severidade da doença ocorre desfolha precoce nas plantas. Se a perda de folhas ocorrer durante a fase de formação de maçãs, compromete a produção no terço superior da planta, bem como a redução do crescimento das estruturas reprodutivas já formadas e induz à abertura precoce de capulhos, implicando em perda de qualidade de fibra”, explica o pesquisador Nelson Suassuana, também da Embrapa Algodão.

Figura 1: Escala diagramática para avaliação da severidade da mancha de ramulária do algodoeiro.

Fonte. AQUINO et al., 2008.

A dispersão do patógeno é muito rápida e perdas significativas podem ocorrer se intervenções de controle não forem adotadas em tempo hábil. Na ausência de níveis de resistência satisfatórios nas cultivares atualmente em uso, a principal tática de manejo da mancha de ramulária tem sido o controle químico.

Danos

Essa doença tem seus danos ligados à redução da área sadia das folhas, redução da fotossíntese, senescência antecipada, secamento foliar completo e desfolha precoce em situações de alta severidade.

Quando a desfolha ocorrer antes ou durante a formação de maçãs, o crescimento das estruturas reprodutivas já formadas é prejudicado. Isso afeta a produtividade e indução da abertura precoce de capulhos, o que implica na perda de qualidade da fibra.

Os danos causados são mais expressivos entre o início do florescimento e a abertura dos primeiros capulhos, porém pode ocorrer desde a fase vegetativa até a formação do capulho.

Na figura 2 observa-se o período em que o fungo pode ocorrer em uma lavoura de algodão.

Fonte: Cia & Galbieri, 2016.

Em períodos chuvosos podem ocorrer manifestações precoces da doença, provocando a queda das folhas e apodrecimento das maçãs do terço inferior das plantas. O desfolhamento extensivo da planta em infecções severas resulta em perdas qualitativas e quantitativas. Plantas afetadas pela doença apresentam abertura prematura de cápsulas, podendo ocasionar uma redução na produtividade em até 35%.

Pode-se considerar que as perdas dependem das condições climáticas, cultivares e densidades de semeadura. Em muitos países onde se cultiva o algodoeiro, os maiores problemas em relação à mancha de ramulária são no final do ciclo da cultura, causando pequenas perdas. Contudo, em lavouras em que ocorrem periódicas precipitações e denso dossel de plantas, pode ser severa ainda no início da cultura, justificando, desse modo, medidas de controle químico. Em locais onde o cultivo do algodão é sucessivo, com o passar do tempo, a doença pode se tornar endêmica, com sérias consequências à produção.

Na figura abaixo pode-se observar que houve um aumento significativo do dano causado pela doença ao longo das últimas safras, considerando que na safra de 2018, o dano estimado foi de 35%.

Figura 3: Evolução do dano causado por Ramulária.

Fonte: Andrade Junior & Galbieri, 2014-16.

No Estado de Mato Grosso se utiliza, em média, 7-8 aplicações de fungicidas durante o ciclo da cultura, em casos extremos até 14 aplicações são utilizadas especificamente para o controle da mancha de ramulária (Cia & Galbieri, 2016).



Manejo e controle

Tendo em vista a importância das folhas infectadas na sobrevivência do fungo, algumas medidas de controle que podem ser utilizadas são:

  • A aração ou a destruição de resíduos anteriores;
  • Evitar o cultivo contínuo em um mesmo local, realizando a rotação de culturas;
  • Realizar o controle químico logo no início, em plantas com 35 a 45 dias do plantio, de forma preventiva;
  • Evitar uso de densidades muito altas, utilizando um menor número de plantas por hectare e um maior espaçamento entre as linhas de plantio;
  • Evitar locais de muita umidade e histórico da doença;
  • Uso de cultivares mais resistentes;
  • Ao utilizar fungicidas, realizar sempre a alternância de grupos químicos para que não ocorra a resistência do patógeno.

Os pesquisadores alertam que o atraso no início da primeira aplicação diminui a eficiência do controle e pode torná-lo economicamente inviável.
“Antes de acabar o período residual do fungicida, é necessário monitorar novamente as plantas e caso se constatem novas lesões com esporulação, deve-se iniciar a segunda aplicação, de preferência, com um fungicida pertencente a um grupo químico diferente do que foi empregado na primeira aplicação”, diz Suassuna.

Para consultar os trabalhos relacionados, acesse:

https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPA/18275/1/COMTEC273.PDF

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/2551143/pesquisadores-orientam-sobre-controle-da-mancha-de-ramularia

Elaboração: Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.