Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja voltaram a romper o piso dos US$ 12,00/bushel, durante a semana, com o primeiro mês chegando a bater em US$ 11,78, algo que não era visto há muitos anos. Após o anúncio do relatório de oferta e demanda, no dia 09/11, o mercado se recuperou, voltando aos níveis da semana anterior. O fechamento desta quinta-feira (11), para o primeiro mês cotado, ficou em US$ 12,12/bushel, contra US$ 12,09 uma semana antes.

O relatório do USDA indicou uma leve redução na produção final dos EUA, neste corrente ano comercial 2021/22, com a mesma ficando em 120,4 milhões de toneladas, porém, elevou os estoques finais estadunidenses para 9,2 milhões de toneladas. A produção brasileira foi mantida em 144 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina recuou para 49,5 milhões (ainda muito acima do que espera o próprio mercado argentino). Já as importações da China foram reduzidas para 100 milhões de toneladas, perdendo um milhão em relação ao relatório de outubro. A produção mundial de soja ficou em 384 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais mundiais recuaram um pouco, para 103,8 milhões. Neste contexto, o preço médio esperado para os produtores de soja dos EUA, no corrente ano comercial, foi reduzido para US$ 12,10/bushel, perdendo 25 centavos de dólar em relação à média estabelecida em outubro.

Dito isso, até o dia 07/11 a colheita de soja nos EUA atingia a 87% da área, contra a média histórica de 88% para esta data.

Por outro lado, na semana encerrada em 04/11, os EUA embarcaram 2,6 milhões de toneladas de soja, ficando o volume acima das expectativas do mercado. Em todo o atual ano comercial as exportações estadunidenses chegam a 13,8 milhões de toneladas, sendo 31% abaixo do realizado no mesmo período do ano anterior.

No Brasil, os preços recuaram bastante na média semanal. Tais preços não eram vistos desde julho passado. No balcão gaúcho o preço fechou a semana em R$ 156,41/saco, enquanto nas demais praças nacionais os mesmos oscilaram entre R$ 146,00 e R$ 150,00/saco. Em relação à semana anterior, a média gaúcha perde quase cinco reais por saco, enquanto nas demais praças a perda é de 8 a 11 reais por saco.

Mesmo em entressafra, isso ocorre pela redução nas cotações em Chicago, pela revalorização do Real (R$ 5,43 por dólar na manhã do dia 11/11), pela redução no valor dos prêmios e pela necessidade, em alguns pontos do país, de liberar estoques para a entrada, logo mais, da nova safra.

Por sua vez, a nova safra brasileira continua sendo estimada entre 142,7 e 144,7 milhões de toneladas, estabelecendo um novo recorde histórico. Entretanto, está faltando chuvas no sul do país para que o plantio avance. A área total a ser semeada está projetada em 40,5 milhões de hectares, esperando-se uma produtividade média nacional, se o clima deixar, em 3.590 quilos/hectare. Em muitas regiões, o recuo nos preços do boi gordo estaria levando criadores a aumentarem a área com soja. (cf. Datagro e Safras & Mercado)

Em termos de plantio da nova safra, até o dia 04/11 o mesmo chegava a 67% da área nacional esperada, contra 56% efetuado na mesma época do ano passado. (cf. AgRural)

Em termos de exportação, espera-se que o Brasil venda ao exterior um total de 2,6 milhões de toneladas de soja em novembro, elevando o total geral, em 11 meses, para 84,6 milhões de toneladas. Em 2020 o país exportou 82,3 milhões de toneladas, ficando perto do recorde nacional de 82,9 milhões atingido em 2018. Cerca de 70% das exportações brasileiras neste ano, até outubro, tiveram como destino a China. (cf. Anec)

Enfim, no que diz respeito ao esmagamento de soja no Brasil, até setembro do corrente ano o mesmo confirma uma redução de volume. Em setembro o total chegou a 3,3 milhões de toneladas, contra 3,4 em agosto e 3,7 milhões em julho e junho. Nos nove primeiros meses do ano o esmagamento total chega a uma redução de 1,7% sobre o mesmo período de 2020. Para a próxima safra espera-se um esmagamento de 48 milhões de toneladas, sobre uma safra superior a 144 milhões de toneladas, enquanto as exportações chegariam a 92 milhões. Espera-se também uma exportação recorde de farelo de soja, ao redor de 17,7 milhões de toneladas. Já a exportação de óleo de soja ficaria em 900.000 toneladas. Neste último caso existe fortes dúvidas devido a insegurança que a produção de biodiesel no Brasil vem causando. Isso devido as constantes intervenções do governo, modificando o percentual de mistura. Além disso, também trazem preocupações: a) a mudança do sistema de comercialização de leilões para a venda direta com metas obrigatórias de comercialização; e b) o acúmulo de créditos de ICMS decorrente da venda de biodiesel com diferimento para as distribuidoras. Entretanto, se a mistura de biodiesel for cumprida conforme prevê a legislação (Resolução CNPE nº 16/2018), ou seja, B13 em janeiro e fevereiro e B14 de março a dezembro de 2022, o esmagamento poderá crescer em até seis milhões de toneladas e chegar a 54 milhões de toneladas em 2022. Em síntese, projeta-se um quadro de aumento da disponibilidade de soja e uma nova redução percentual da participação da indústria brasileira relativamente à safra. A reversão desse quadro depende, essencialmente, da previsibilidade regulatória quanto ao teor da mistura, bem como da retomada do crescimento do percentual de biodiesel no diesel rodoviário e da solução do acúmulo de créditos de ICMS. (cf. Abiove)


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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