Por Marcelo Sá
Anúncio foi feito no último dia 12 de setembro
Como o Portal SNA abordou, os incêndios que castigavam o país desde o começo de mês se intensificaram com a combinação perigosa de seca histórica e calor intenso. A estiagem prolongada e temperaturas bem acima da média para um final de inverno seguem castigando áreas agricultáveis em praticamente todo o país e seus biomas. Na semana passada, o ministro Carlos Fávaro, da Agricultura, anunciou que produtores atingidos terão direito à linha de crédito RenovAgro, do Plano Safra, para recuperar suas lavouras. Esse montante estava destinado, originalmente, para conversão de áreas degradadas em pastagens e outras práticas sustentáveis.
Essa linha conta com total de R$ 7,7 bilhões, dois quais cerca de R$ 1,2 bilhão já foram mobilizados. A declaração de Fávaro foi dada a jornalistas após mais uma reunião do grupo de trabalho da agricultura do G20, presidido pelo Brasil em 2024, ocorrida em Chapada dos Guimarães (MT). Disse ele: “Temos ainda R$ 6,5 bilhões que agora serão disponibilizados também aos produtores que sofreram com o fogo nas suas propriedades, para que possam fazer a recuperação desse solo. Afinal de contas, perderam grande ativo, que é matéria orgânica queimada”.
Não haverá necessidade de autorização prévia do Conselho Monetário Nacional, já que o Ministério da Agricultura está conversando diretamente com os bancos que atuam na concessão de crédito rural para que haja prioridade no acesso aos recursos. Bastará que o produtor comprove, via laudo e imagens de satélite, o antes e o depois de suas lavouras afetadas pelas chamas que se alastraram tão rapidamente. Fávaro salientou que essa iniciativa se enquadra na meta de redução de áreas degradadas até 2030, estimulando a preservação.
O desafio, no entanto, é grande, já que na prática o compromisso de desmatamento zero significa abrir mão de áreas aptas ao cultivo mediante subvenção do governo, algo que outros países não estão dispostos a fazer em seus próprios territórios, muito menos em terras estrangeiras, como aqui. Para estudiosos do Agro e analistas de mercado, é ilusório acreditar que outras nações, muitas delas concorrentes do Brasil no setor, queiram compensar do próprio bolso pelos “serviços ambientais prestados” por biomas como o Cerrado.
Quando se fala em mercado de carbono, a ideia pode até ser mais atraente, com a Embrapa e outras entidades quantificando o sequestro de cada área preservada, que pode ser comprada pelos que estão deficitários. Isso criaria uma prateleira de ativos que poderiam ser negociados contratualmente, num modelo que Fávaro acredita ser o paradigma a ser seguido pelo resto do mundo.
A referida reunião em Mato Grosso, um dos estados mais atingidos pelas chamas, marcou a assinatura de um pacto, pelos ministros de agricultura países do G20, ao qual o grupo de trabalho se submete; o documento prevê uma série de medidas que, juntas, visam combater a segurança alimentar no mundo. Além disso, o Brasil fez um apelo formal à União Europeia, no sentido de que o bloco suspenda a entrada em vigor na nova lei antidesmatamento, assunto sobre o qual este Portal já se debruçou. O pedido foi formalmente entregue ao comissário europeu para Agricultura e Desenvolvimento Rural, Janusz Wojciechowski.
Setor securitário traça panorama; outros produtores se movimentam
Enquanto isso, as seguradoras ainda calculam a extensão dos cultivos afetados pelos incêndios. Analistas admitem que o cenário seria bem pior caso as perdas tivessem atingido as colheitas de inverno, o que não aconteceu por pouco. O fato de a cana de açúcar ter sido o tipo de lavoura mais afetada pode aliviar o impacto das indenizações, já que o setor, historicamente, não busca cobertura das apólices. O mercado também acompanha como será o efeito na produção de trigo, cuja colheita ainda está começando e, alguns lugares, sendo antecipada para contenção de danos. Mas ainda se avalia que é cedo para dimensionar o prejuízo, já que mesmo nos pontos mais atingidos, os eventos começaram há cerca de quinze dias e ainda estão em andamento.
Representantes do setor enfatizam que a cobertura securitária no país ainda é baixa quando se fala de agricultura, numa média nacional de 10%. Mas corretoras dizem que vêm notando um aumento na procura por apólices, sobretudo de produtores que, no último ciclo, foram afetados por eventos climáticos extremos tais como enchentes ou a própria estiagem que, agora, alimenta as chamas.
Entre as chamadas lavouras de verão, como os grãos, essa procura também se relaciona com a oscilação no preço das commodities, mas pode ser um sinal de que produtores de milho e soja, entre outros, vêem com temor as perdas que seus colegas canavieiros estão enfrentando, e preferem se prevenir desde logo.
Fonte: SNA