O conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia traz ao mercado instabilidade quanto aos desdobramentos, dada a importância dos países envolvidos no fornecimento de grãos, fertilizantes e gás natural a nível mundial. O impacto no Brasil pode ser sentido na alta volatilidade no mercado financeiro e de commodities agrícolas. As ações e dólar registraram significativas quedas, enquanto petróleo e commodities agrícolas se valorizaram.
Para o setor agrícola nacional o principal insumo que vem preocupando os produtores rurais é o fertilizante. Nesse sentido as cotações médias dos fertilizantes intermediários registraram fortes altas de fevereiro para março, influenciadas por incertezas quanto à oferta de adubo no mercado após a invasão russa sobre o solo ucraniano.
No porto de Yuznhy, Ucrânia, o preço médio da ureia registrou alta de 33,6% em relação ao de fevereiro. Para o fosfato MAP, a cotação média aumentou 29,3% entre fevereiro e março no porto de Casa Blanca, Marrocos.
Já no Porto de Vancouver, Canadá, o preço médio do cloreto de potássio (KCl) subiu 17,4%. Na última semana de março, a cotação média do cloreto de potássio atingiu US$ 943/t, superando o recorde histórico observado em novembro de 2008.
No mercado nacional, devido à incerteza do mercado, muitas empresas de fertilizantes ficaram fora do mercado por alguns dias. Como destaque, o preço do fertilizante nitrogenado, ureia, subiu 39,2% em Mato Grosso e 39,5% no Paraná entre fevereiro e março. O valor do fosfatado MAP também aumentou nessas regiões, respectivos 33,2% e 35,2%, no mesmo comparativo. Para o cloreto de potássio, as cotações elevaram 28,7% em Mato Grosso e 23,7% no Paraná. Tais aumentos nos preços geraram a expectativa de um desembolso com os fertilizantes em termos de custo para a produção de soja de 27,7% em Mato Grosso e 34,3% no Paraná entre fevereiro e março.
Para o grupo de insumos referentes aos defensivos agrícolas o comportamento de preços indica a instabilidade gerada no mercado. O desembolso médio com produtos químicos para a proteção da soja, por exemplo, teve comportamento misto nos estados citados anteriormente, diminuindo 0,69% em Mato Grosso, mas subindo 0,8% no Paraná entre fevereiro e março.
Em Mato Grosso, o grupo químico composto por herbicidas e fungicidas registraram quedas nos gastos, de 0,9% e 1,3%, respectivamente, entre fevereiro e março. Já no caso do inseticida, houve leve alta, de 0,7% do mesmo período. No Paraná, os três grupos químicos registraram alta, sendo de 1,2% para o herbicida; de 1,5% para os inseticidas; e de 0,2% para os fungicidas.
O Custo Operacional Efetivo (COE) é composto pelos gastos com a aquisição de fertilizantes, corretivos, sementes, tratamento de sementes, herbicida, inseticida, fungicida, adjuvante, operações mecânicas, transporte da produção, comercialização, armazenamento, impostos, mão de obra, custo geral, seguro, assistência técnica e financiamento do capital de giro.
Sob essa definição, e adotando os atuais patamares de preços dos insumos citados o COE da soja intacta no Paraná alcançaria em média um valor de R$ 6.254,60/ha em março, alta de 12,8% em relação ao projetado para o mês anterior. Em Mato Grosso, o COE médio atingiria R$ 5.780,0/ha, proporcionando um aumento de 12,3% no comparativo mensal.
Com isso a produtividade de nivelamento em número de sacas de soja para saldar o COE foi de 32,95 em Mato Grosso e de 32,5 no Paraná em março.
Diante das projeções e com a dependência agrícola por fertilizantes importados acentuada nos últimos anos, o conflito entre Rússia e Ucrânia deixa claro a vulnerabilidade do nosso sistema produtivo quanto ao fornecimento e uso desse insumo. A apreensão dos produtores nesse momento também tem como ponto de atenção os preços de energia, combustíveis e demais insumos, além do abastecimento geral de fertilizantes, já que as dificuldades logísticas para as exportações pela Rússia são reais.
Com isso possíveis quedas de produtividade, aliadas à um custo maior, gerariam uma menor margem aos agricultores o que reforça a necessidade de maior controle e gestão de riscos da atividade.
Fonte: CNA