O pulgão-da-soja (Aphis glycines) é uma espécie nativa da Ásia, sendo considerada uma das mais importantes pragas da soja no mundo. Atualmente, essa praga sugadora está amplamente distribuída nos países da Ásia, na Austrália e na América do Norte (Peixoto et al., 2020), mas permanece ausente na América do Sul.

Figura 1. Pulgão da soja Aphis glycines (Hemiptera: Aphididae)

Fonte: Hirose et al., 2012.

Embora menos difundido globalmente em comparação a outras pragas invasivas de importância agrícola (Helicoverpa armigera e Bemisia tabaci, por exemplo), A. glycines se expandiu da China para o centro-norte dos Estados Unidos e sul do Canadá, atingindo uma das maiores zonas produtoras de soja do mundo. Ao se estabelecer na América do Norte, ocorreu um aumento concomitante no uso de inseticidas, custos para os agricultores, ocorrência de resistência aos inseticidas e sérios prejuízos econômicos, dado o elevado potencial de dano dessa praga na cultura da soja.

Estima-se que o uso de inseticidas pelos sojicultores norte-americanos praticamente quadruplicou desde a introdução do pulgão-da-soja no país, tornando essa espécie a principal praga da cultura nos EUA. As populações de A. glycines introduzidas na América do Norte rapidamente desenvolveram resistência à maior parte dos inseticidas piretróides utilizados no seu controle, fato auxiliado pela alta taxa reprodutiva da espécie (Pozebon et al., 2020).

A introdução de espécies de plantas não-nativas na América do Norte facilitou o estabelecimento subsequente do pulgão-da-soja, pois proporcionou o abrigo e alimento necessários para a praga ao longo de seu ciclo de vida. O pulgão-da-soja usa a espécie de planta Rhamnus cathartica como hospedeiro no inverno e a soja como hospedeiro de verão. Esse cenário onde diferentes espécies invasivas favorecem o estebelecimento umas das outras é conhecido como colapso invasivo (Simberloff e Von Holle, 1999), produzindo condições favoráveis para que a praga se espalhe pelo novo ambiente colonizado.

Caso a espécie R. cathartica houvesse sido efetivamente controlada e erradicada antes da introdução de A. glycines na América do Norte, o risco de surtos da praga por meio de um colapso invasivo poderia ter sido evitado (Heimpel et al. 2010, Bahlai et al. 2014). Essa teoria sugere que a prevenção de entrada de pragas invasivas no Brasil depende de um esforço abrangente para limitar a introdução e estabelecimento de qualquer espécie não-nativa no país, inclusive de plantas daninhas.

Atualmente, Rhamnus sphaerosperma é a única espécie do gênero Rhamnus encontrada no Brasil, ocorrendo em sete estados produtores de soja; porém, a sua viabilidade como hospedeiro de inverno para A. glycines ainda nao foi estudada.  Além disso, as temperaturas médias de verão nas regiões que produzem soja no Brasil situam-se dentro do intervalo ótimo para o desenvolvimento de A. glycines (27,8 °C), mas muitas vezes ultrapassam o limite máximo de sobrevivencia do inseto (34,9 °C).

Figura 2. Exemplar de Rhamnus sphaerosperma, possível hospedeiro alternativo para o pulgão-da-soja.Fonte: https://sites.unicentro.br/

O pulgão-da-soja apresenta, portanto, três aspectos que tornam altamente provável sua introdução no Brasil: está presente em países que comercializam intensamente com o Brasil, como Estados Unidos e China, aumentando sua probabilidade de entrada no país; apresenta alta capacidade reprodutiva através da partenogênese, sendo uma vantagem biológica; e, se introduzido no país, levaria a sérios problemas de controle devido à resistência a inseticidas e ausência de medidas de manejo eficientes.

Por outro lado, esta praga não é altamente polífaga e precisa de plantas hospedeiras específicas para sobreviver durante o inverno (que podem ou não existir no Brasil), tornando incerta a sua probabilidade de estabelecimento no país, mesmo que seja efetivamente introduzida (Pozebon et al., 2020). Nesse cenário, a ocorrência de plantas de soja voluntária (soja guaxa ou tiguera) nas áreas de cultivo poderia possibilitar a sobrevivência de A. glycines durante os períodos de inverno e entressafra, mesmo na ausência de hospedeiros específicos (Rhamnus spp.). Assim, é de fundamental importância que se previna a entrada dessa espécie no Brasil, evitando perdas econômicas e aumento nos custos de controle de pragas na cultura da soja.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

Foto de Capa: CropLife.

REFERÊNCIAS:

BAHLAI, Christine A. et al. Factors associated with winged forms of soybean aphid and an examination of N orth A merican spatial dynamics of this species in the context of migratory behaviour. Agricultural and Forest Entomology, v. 16, n. 3, p. 240-250, 2014.

HEIMPEL, George E. et al. European buckthorn and Asian soybean aphid as components of an extensive invasional meltdown in North America. Biological Invasions, v. 12, n. 9, p. 2913-2931, 2010.

 HIROSE, Edson et al. Insetos de outras regiões do mundo: ameaças. Soja–manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga, 1st ed. Embrapa, Brasília, Brazil, p. 445-492, 2012.

PEIXOTO, Magda S.; BARROS, Laécio C.; LAUREANO, Estevao E. Uma abordagem fuzzy para controle ótimo.

POZEBON, Henrique et al. Arthropod invasions versus soybean production in Brazil: a review. Journal of Economic Entomology, v. 113, n. 4, p. 1591-1608, 2020.

SIMBERLOFF, D; B. VON HOLLE. 1999. Positive interactions of nonindigenous
species: invasional meltdown? Biol. Invasions 1: 21–32.

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