O trigo (Triticum aestivum), destaca-se como uma das principais culturas de inverno e um dos grãos mais produzidos mundialmente. No Brasil, os Estados do Rio Grande do Sul e Paraná, destacam-se como os maiores produtores de trigo, concentrando aproximadamente 90% da produção nacional. De acordo com o Acompanhamento da Safra Brasileira de Grãos da CONAB (2023), área cultivada de trigo no Brasil na safra 2022/23 está estimada em 3.429,6 milhões de hectares, com uma produção esperada de 10.429,7 milhões de toneladas e uma produtividade média estimada em 3.041 kg por hectare.
A produtividade do trigo é resultante do balanço entre três componentes de rendimento: número de espigas m2, número de grãos espiga-1 e massa média de grãos (Foloni et al., 2016). Rodrigues et al. (2011), afirmam que o potencial de rendimento do trigo é elevado, contudo, a expressão desse potencial não tem sido alcançada nos sistemas de produção. Nesse contexto, é essencial compreender os estádios de desenvolvimento da cultura para identificar os momentos críticos que definem o potencial de rendimento, dessa forma, é possível realizar um planejamento eficiente do manejo da cultura, garantindo condições adequadas para que a cultura expresse seu máximo potencial produtivo.
Figura 1. Escala Feekes-Large de crescimento e desenvolvimento de trigo e correspondente formação dos componentes do rendimento de grãos.
De acordo com Pires (2014), o ciclo de desenvolvimento do trigo pode ser dividido em três fases: vegetativa, reprodutiva e enchimento de grãos. Em cada uma dessas fases, estádios específicos determinam acontecimentos importantes na formação do rendimento de grãos, esses estádios são importantes tanto para a quantidade quanto para a qualidade dos grãos, tornando-se fundamentais para um manejo eficiente para alcançar bons resultados referentes a produtividade.
Conforme Cunha et al. (2002), a fase vegetativa vai desde a semeadura, germinação das sementes até o estádio de duplo-anel. Nesse período, apenas as estruturas foliares são diferenciadas. A fase reprodutiva começa no estádio de duplo anel e vai até a antese (floração). Essa fase é dividida em dois subperíodos essenciais para definir o potencial de rendimento, o primeiro subperíodo vai do estádio de duplo-anel até o início da formação da espigueta terminal, já o segundo subperíodo abrange a etapa entre o início da formação da espigueta terminal e antese propriamente dita, quando ocorre a diferenciação das estruturas florais e a determinação do número de flores férteis, que representa o número potencial de grãos. Por fim, a fase de enchimento de grãos, começa na antese e se estende até a maturação fisiológica, determinando a massa final de cada grão.
Figura 2. Ponto de crescimento do trigo, localizado abaixo da superfície do solo, mostrando: (a) estádio inicial do desenvolvimento de trigo; (b) estádio de desenvolvimento caracterizado como duplo anel.
Segundo Santos et al. (2014), as três etapas que definem o rendimento de grãos na cultura do trigo apresentam alguns acontecimentos importantes: a primeira etapa que vai desde a emergência das plântulas a metade do alongamento (2 a 3 nós visíveis), e o acontecimento mais importante nessa fase é a expansão da área foliar da cultura, o objetivo ao final dessa etapa, é que a cultura tenha área foliar suficiente para interceptar mais de 90% da radiação solar incidente.
Na segunda etapa, que compreende o crescimento das espigas sem grãos, o acontecimento principal é a expressão do número potencial de grãos, que vai depender da sobrevivência das flores geradas, sendo o peso seco da espiga por metro quadrado, ao final dessa etapa, um bom indicador dos recursos destinados pela cultura para a produção efetiva de grãos pelas flores geradas. Já na terceira etapa, que se inicia poucos dias após a floração e termina na maturação fisiológica, fica determinado o peso final de grãos e, consequentemente o rendimento de grãos da cultura do trigo.
Rodrigues et al. (2011), destacam que a duração do período que compreende os estádios de espigueta terminal (ET) e antese (NA) é o período crítico para a definição do potencial de rendimento de grão do trigo. Esse estádio de espigueta terminal, caracteriza-se como a etapa de crescimento da espiga no interior do colmo (pré-espigamento) (Cunha et al., 2002).
Figura 3. Estádio de desenvolvimento da espiga de trigo, mostrando a diferenciação da última espigueta (estádio de espigueta terminal).
Santos et al. (2014), afirmam que as condições ambientais, locais e anuais desempenham um papel significativo no desenvolvimento e rendimento de grãos no trigo, a temperatura influencia em todas as fases do cultivo, desde a emergência até a maturação fisiológica, além disso, temperaturas altas podem acelerar o desenvolvimento das plantas, interferindo na floração. Além disso, fatores como fotoperíodo e vernalização na fase vegetativa e precocidade do genótipo, também influenciam no rendimento da cultura.
De acordo com Rodrigues (2000), os componentes de produtividade do trigo dependem das condições ambientais durante os estádios de desenvolvimento da cultura, bem como pela escolha da cultivar utilizada. Assim torna-se evidente a importância de escolher a melhor cultivar para finalidade que se pretende e que melhor se adapte de acordo com as condições de cultivo. Apesar de muitos componentes do rendimento de grãos serem controlados geneticamente, é comum uma mesma cultivar, semeada em locais diferentes, apresentar respostas distintas, demonstrando o efeito do ambiente (Santos et al., 2014).
É de fundamental importância proporcionar um bom manejo fitossanitário durante o ciclo de desenvolvimento da cultura, garantindo que interferências de pragas, daninhas e doenças não comprometam a produtividade e proporcionar aporte nutricional adequado, de acordo com as exigências nutricionais da cultura, principalmente em relação a adubação nitrogenada que é tão importante na cultura do trigo.
De acordo com resultados obtidos por Batista et al. (2020), os autores afirmam que o suprimento de nitrogênio é essencial, principalmente nos estádios que antecedem o período de maior demanda nutricional da cultura, ou seja, durante o afilhamento e alongamento do colmo e antes do enchimento de grãos. Além disso, os autores destacam que um solo com bom aporte nutricional as plantas, aliado a condições climáticas favoráveis, é essencial para o alcançar um melhor desempenho agronômico do trigo. Entendendo os estádios de desenvolvimento da cultura, torna-se mais fácil a implementação de práticas de manejo visando alcançar altas produtividades do trigo, principalmente durante os períodos de definição dos componentes de produtividade, planejando o manejo de acordo com a cultivar, condições climáticas e de solo de cada região de cultivo.
Veja mais: Uso de Redutor de Crescimento no Trigo
Referências:
BATISTA, V. V. et al. COMPONENTES DE RENDIMENTO E PRODUTIVIDADE DE CULTIVARES DE TRIGO SUBMETIDAS AO PARCELAMENTO OU NÃO DE NITROGÊNIO. Ciência Agrícola, v. 18, n. 3, p. 1-7, Rio Largo, 2020. Disponível em: < https://www.seer.ufal.br/index.php/revistacienciaagricola/article/view/9024/8102 >, acesso em: 07/08/2023.
CONAB. ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA DE GRÃOS SAFRA 2022/23. Companhia Nacional de Abastecimento, 10° levantamento, 2023. Disponível em: < https://www.conab.gov.br/component/k2/item/download/48137_6239e58c7fc01900f76618eb4ca2bb01 >, acesso em: 07/08/2023.
CUNHA, G. R. et al. REGIONALIZAÇÃO CLIMÁTICA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O POTENCIAL DE RENDIMENTO DE GRÃOS DE TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, Embrapa Trigo, Passo Fundo – RS, 2002. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/p_bp11.htm >, acesso em: 07/08/2023.
FOLONI, J. S. S.; SILVA, S. R.; BASSOI, M. C.; OLIVEIRA JUNIOR, A. de; CASTRO, C. de. Cobertura nitrogenada em diferentes estádios do trigo 1: componentes de rendimento. Embrapa Soja, 2016. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-//publicacao/1057759/cobertura-nitrogenada-em-diferentes-estadios-do-trigo-1-/componentes-de-rendimento >, acesso em: 07/08/2023.
PIRES, J. L. F. CULTIVO DE TRIGO. Sistemas de Produção Embrapa, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1155370/1/Cultivo-de-Trigo.pdf >, acesso em: 07/08/2023.
RODRIGUES, O. MANEJO DE TRIGO: BASES ECOFISIOLÓGICAS. Série Culturas, Trigo. Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, apoio Embrapa, 2000. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/820367/1/ID8598LV0313.pdf >, acesso em: 07/08/2023.
RODRIGUES, O.; HASS, J. C.; COSTANERO, E. R. MANEJO DE TRIGO PARA ALTA PRODUTIVIDADE II: CARACTERIZAÇÃO ONTOGENÉTICA. Revista Plantio Direto, 2011. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/125/3.pdf >, acesso em: 07/08/2023.
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SANTOS, H. P. et al. TRIGO: CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO. Cultivo de Trigo, Sistemas de Produção Embrapa, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1155370/1/Cultivo-de-Trigo.pdf >, acesso em: 07/08/2023.
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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.