Motivo de grande preocupação para os agricultores, as infestações de mosca-branca (Bemisia tabaci) têm se tornado cada vez mais frequentes em diversas culturas (Figura 1). Nos últimos anos, as lavouras de soja vêm sendo umas das mais afetadas pela praga, causando prejuízos aos produtores. Dependendo do seu nível populacional, as perdas de produção podem variar de 20% a 100%, além de comprometer a qualidade dos grãos.

Figura 1. Fase adulta de mosca-branca (B. tabaci) em soja

Fonte: Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

A mosca-branca causa danos diretos e indiretos severos em várias culturas, devido à sua característica polífaga, alta capacidade reprodutiva, e principalmente, pelo desenvolvimento de resistência a alguns inseticidas, o que dificulta o controle em campo. Sendo um inseto pequeno, é capaz de depositar de 100 a 300 ovos durante seu ciclo. Ao eclodir, as ninfas locomovem-se até o local mais adequado na planta e começam a succionar a seiva, se desenvolvendo até atingirem o estágio adulto. Em soja, esse local preferencial de desenvolvimento das ninfas é a região basal dos folíolos, no terço médio das plantas (POZEBON et al., 2019).

O processo alimentar do inseto se inicia com a penetração intercelular dos estiletes, através de tecidos foliares do mesofilo, até atingir o floema. Ao sugarem a seiva elaborada, ninfas e adultos retiram os nutrientes e injetam toxinas na planta. Diante disso ocorrem injúrias, como murcha, distúrbios no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, queda de produção e, dependendo do nível de infestação, até a morte da planta.

Contudo, os principais danos responsáveis por perdas na lavoura são os indiretos. A formação de fumagina sobre ramos e folhas (Figura 2) é favorecida pelo líquido açucarado que a mosca-branca excreta sobre o órgão vegetal, servindo de substrato para o crescimento do fungo Capnodium sp. Refletindo diretamente na redução da produtividade da soja, a fumagina caracteriza-se por ser uma camada escura, formada pelos micélios do fungo, que impede a captação dos raios solares e reduz a taxa fotossintética das plantas.

 Figura 2: Planta de soja com a presença de fumagina

Fonte: Embrapa. Confira a imagem original clicando aqui

Ataques severos de mosca-branca provocam o amarelecimento das folhas mais velhas da soja, enquanto em plantas jovens as folhas podem secar e cair. Como conseqüência, a qualidade dos grãos é afetada e a cultura pode acelerar o término do ciclo.  Os danos podem intensificar-se caso haja períodos de veranico ou deficiência hídrica.

Por fim, outro dano de grande impacto ocorre por meio da transmissão de viroses. Aproximadamente 120 espécies de vírus podem ser transmitidos por B. tabaci, representando um grave problema fitossanitário em várias culturas agrícolas. No caso da soja, um dos sintomas típicos de infecção por vírus é a necrose-das-vagens. Porém, a virose mais recorrente é a necrose-da-haste, do grupo dos carlavírus, que, com a evolução dos sintomas, pode ocasionar a morte da planta (Figura 3).

Figura 3: Planta de soja infectada pelo vírus da necrose-da-haste

Fonte: BUENO, A. F. Confira a imagem original clicando aqui.

Considerações finais

A mosca-branca é uma praga que tem causado perdas cada vez maiores em diversas culturas de interesse econômico, tais como a soja. Como pode ocorrer durante todo o ciclo da cultura, o monitoramento deve ser feito desde a emergência até a colheita. Além de causar danos diretos, também é vetor de vários vírus fitopatogênicos e precursor da fumagina. Diante disso, é fundamental por parte do agricultor conseguir identificar e combater essa praga. Também é importante saber quais as medidas que podem ser adotadas no seu controle, para que o dano seja reduzido significativamente.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

Foto de capa: Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM


REFERÊNCIAS

BUENO, A. F., CAMPO, C. B. H., GOMEZ, D. R. S. Mosca-branca. Ageitec – Agência Embrapa de Informação Tecnológica. Disponível em https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/soja/arvore/CONT000fznzu9ib02wx5ok0cpoo6ariubmhq.html#:~:text=A%20mosca%2Dbranca%2C%20Bemisia%20tabaci,%C3%A0%20morte%20(Figura%201).

JANOSELLI, H. R. D. Manejo de mosca branca em soja. Manejo Técnico da soja – Informe Técnico. Edição 01 – Agosto de 2017. Disponível em http://www.pioneersementes.com.br/DownloadCenter/2017_P_InformeTecnicoMoscaBrancaSoja-web.pdf

MATIOLI, T. F. Como fazer o controle eficiente da mosca-branca. Lavoura 10. 24 de junho de 2019. Disponível em https://blog.aegro.com.br/mosca-branca/

Mosca-branca: como fazer o manejo eficiente da praga na soja. Canal Rural. 20 de maio de 2020. Disponível em https://www.canalrural.com.br/ihara/mosca-branca-como-fazer-o-manejo-eficiente-da-praga-na-soja/

POZEBON, H. et al. Distribution of Bemisia tabaci within soybean plants and on individual leaflets. Entomologia Experimentalis et Applicata 167: 396–405, 2019. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/eea.12798

Sintomas de danos de Mosca-branca. Koppert – Biological Systems. Disponível em https://www.koppert.com.br/desafios/encontre-aqui-as-solucoes/control/crop/soja/challenge/mosca-branca/

SUEKANE, R. et al. Danos da Mosca-brancaBemisiatabaci (Genn.) e distribuição vertical das ninfas em cultivares de soja em casa de vegetação.Arquivos do Instituto Biológico. Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-16572013000200003&script=sci_abstract&tlng=pt

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