A semeadura da soja dentro da época recomendada é uma das principais estratégias de manejo para reduzir as perdas de produtividade em função dos riscos climáticos, bem como possibilitar o bom crescimento e desenvolvimento vegetal, com condições climáticas que atendam as necessidades térmicas e luminosas da soja durante seu ciclo.

A semeadura fora da época ideal, além de aumentar os riscos climáticos, tende a reduzir o potencial produtivo da cultura, visto que a soja é altamente responsiva ao fotoperíodo e temperatura. Normalmente, a época de semeadura é alterada pelo atraso no período de semeadura, em função das más condições hídricas do solo, (seca ou excesso hídrico).

Dentre os principais fenômenos responsáveis por essas alterações em larga escada, destacam-se os fenômenos ENSO, La Niña e El Niño. Na safra passada, os reflexos do El Niño puderam ser observados na semeadura da soja, especialmente no Sul do Brasil, em função da alteração do volume de chuvas, o que resultou no atraso da semeadura em diversas regiões.

Na presente safra, conforme destacado pela Dra. Caroline Wesp Guterres (UFRGS), sob influência do La Niña, é esperado um excesso de chuvas na região do Cerrado brasileiro, e uma redução da frequência de chuvas no Sul do Brasil. Com previsão de início do La Niña para o final da primavera, a tendência é que, até o início do La Niña, ainda haja condições de elevada umidade no Sul e Baixa umidade do Norte e Cerrado, o que vem resultando em atrasos na semeadura da soja.



Semeadura da safra 2024/2025

Com baixa disponibilidade hídrica no solo, grande parte do Cerrado brasileiro tem apresentado condições inadequadas de umidade no solo para o bom estabelecimento inicial da soja. Já no Sul, ainda sem influência do La Niña, o excesso de umidade tem prejudicado a prática da semeadura.

As condições observadas têm resultado no atraso da semeadura da soja em diversas regiões do país. Por consequência esse atraso tende a aumentar a pressão de doenças na soja, uma vez, com o atraso da semeadura, além da influência das condições climáticas e ambientais, há uma maior disponibilidade de inóculo das doenças, proveniente das áreas semeadas “no cedo”.

Doenças fúngicas como a ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), são mais frequentes em lavouras oriundas de  semeaduras mais tardias. Além de apresentar elevada capacidade de redução da produtividade da soja (podendo chegar a 90%), a doença pode acometer a cultura em qualquer estádio do seu desenvolvimento (Godoy et al., 2023).

Nesse sentido, o atraso da semeadura da soja afeta não só o estabelecimento da cultura e seu potencial produtivo, como também o manejo fitossanitário da soja, uma vez que a pressão de doenças aumenta, em especial se tratando da ferrugem-asiática.

Além da ferrugem se desenvolver somente em plantas vivas (fungo biotróficos), o esporo da doença é transportado por longas distâncias pelo vento. Sendo assim, quanto maior o atraso na semeadura, maior a disponibilidade de esporos da ferrugem no ar, esporos esses, provenientes de lavouras semeadas no cedo, tanto no Brasil, como em países vizinhos.

Figura 1. Ciclo da ferrugem-asiática da soja.

Com isso, ajustar o manejo fitossanitário, adotando estratégias que permitam aumentar a proteção contra doenças, é indispensável se tratando de semeaduras tardias, em especial para o controle de fungos biotróficos como é o caso do fungo causador da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi).

A Dra. Caroline Wesp Guterres, destaca que, com base nas projeções climáticas e no atraso da semeadura da soja, para a safra 2024/2025, deve-se intensificar o manejo de doenças, “já pensando na possibilidade de ferrugem chegar mais cedo”, acometendo a soja semeada tardiamente, ainda no período vegetativo.

Com a chagada do La Niña, em especial nas regiões cuja influência do fenômeno aumenta o volume de chuvas, algumas doenças tendem a ser favorecidas pelo clima úmido. Com exceção do oídio (Erysiphe diffusa), a  grande maioria dos fungos causadores de doenças na soja, são favorecidos por condições de elevada umidade, principalmente quando há  a presença de molhamento foliar (água livre sobre a folha).

Considerando o impacto do La Niña (baixas precipitações no Sul e maior volume de chuvas no Cerrado e Norte), Caroline W. Guterres chama atenção para a possível ocorrência do oídio no Sul do Brasil e maior frequência de manchas foliares e ferrugem nas regiões favorecidas pela umidade. Com isso, fica o alerta aos produtores de soja para a safra 2024/2025, devendo-se atuar de forma proativa e preventiva no manejo das doenças, principalmente em áreas cuja semeadura é atrasada.

Confira abaixo as contribuições da Dra. Caroline Wesp Guterres.

Referências:

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA, Phakopsora pachyrhizi, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 195, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154837/1/Circ-Tec-195.pdf >, acesso em: 16/10/2024.

RODRIGUES, L. K. FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA. Promip, 2019. Disponível em: < https://promip.agr.br/ferrugem-asiatica-da-soja/ >, acesso em: 17/10/2024.

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